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HQ’s Entrevista | Rafael Tavares (Os Invictos)

Rafael, mas pode chamar de Rafa-El, o criador do “Universo Invictos” e do “Pétreo” trocou algumas palavras com a gente. Abriu o jogo sobre o cenário nacional, falou de suas preferências e arrependimentos. Então, sem delongas…

1 – Vamos começar falando de suas criações. Quem é Pétreo? Como surgiu sua ideia de criação e quais suas habilidades?

Então começamos bem, pois adoro falar sobre isso (risos). Pétreo foi o primeiro personagem que criei, ainda na pré-adolescência. Lembro bem como nesse período minha cabeça fervilhava pensando em super-heróis, uma vez que foi a época em que mergulhei pra valer na leitura de comics. Pétreo surgiu da necessidade de externalizar toda essa energia criativa que fui tomado. Sempre gostei de elementos da pré-história e me fascinou a ideia de um ser que viveu desde lá até os dias de hoje. Pétreo é um homem de pedra, mas não uma constituição rochosa qualquer, e sim uma indestrutível. Ele não sabe de onde veio e nem o que é. Dono de uma força física descomunal e invulnerabilidade, acabou se tornando um super-herói em decorrência do senso moral e do caráter que foi descobrindo ser detentor. No decorrer dos milhões de anos de suas andanças passou a proteger e ser versado em forças místicas. Ele é muito poderoso, mas ao mesmo tempo muito enigmático, dois elementos que criam uma aura muito interessante e instigante acerca do personagem.

Pétreo por Moacir Muniz e cores de Fito Cordeiro

2 – O mesmo queremos saber sobre “Os Invictos”. Fale tudo que puder sobre seu grupo de heróis …

Os Invictos são um reflexo do meu desejo de evoluir, de superação, não importando o tempo que se leve para tanto, mas sim que o processo em si seja vivenciado. O grupo consiste numa turma de amigos que se conhece desde a infância, numa realidade onde o mundo foi escravizado por alienígenas por um punhado de anos. Essa adversidade os conectou, e no momento em que ganharam a oportunidade de virar super-heróis eles agarraram a ideia. E nesse papel eles buscam evoluir e melhorar, superar as adversidades para conseguir seus objetivos. Mesmo que isso demore, o importante é não desistir, pois tem muita coisa importante em jogo. E com tudo que ocorreu no passado, hoje Os Invictos pertencem a uma realidade na qual o Brasil é a maior potência mundial, um contexto para nos inspirar e refletir. Ainda assim sombras e forças nefastas querem macular esse futuro promissor, ecoando mazelas de outrora, e é nesse ponto que super-heróis devem se mostrar aptos a luta.

Os Invictos por Bruno Lima

3 – Dentre todos seus personagens, qual você mais sente orgulho de ter criado?

Pergunta curiosa. Não sei se vejo através desse parâmetro. Eu mais me divirto com eles do que me orgulho deles (risos). Mas fico feliz quando as pessoas se referem aos Invictos como algo legal por pertencerem a um Brasil do futuro que deu certo, ou se sentem interessadas pela atmosfera que um personagem como o Pétreo oferece.

4 – Você não é mais uma criança no cenário nacional, fez diversos trabalhos, publicou várias histórias, como você enxerga o desenvolvimento do cenário?

Partindo do princípio que ainda tenho uma série de coisas para aprender nesse universo e não realizei ainda muito daquilo que gostaria, percebo que o acesso as novas tecnologias facilitou bastante a vida dos autores independentes, tanto no quesito produção como divulgação. Plataformas como o Catarse surgiram para injetar mais vigor ao cenário, embora o momento econômico que o país esta passando seja um forte empecilho para uma dinâmica mais favorável entre projetos propostos e apoiadores aptos a exercer seu papel. O mercado se fortaleceu apesar do contexto cultural em que vivemos. As livrarias e comicshops se mostraram como a resposta para o perfil do produto nacional de quadrinhos. Particularmente, divirto-me atuando em um nicho muito específico e que encontra muita resistência ainda em nosso país, o de super-heróis brasileiros. Embora o super-herói consagrado de fora encontre facilmente seu público aqui, a criação brasileira precisa travar uma batalha de conscientização junto aos leitores de modo a propiciar um melhor acolhimento e aceitação. Acredito que com base na determinação dos autores atuais de super-heróis brasileiros, as futuras gerações de leitores, versados em um mundo ditado pela cultura pop, estarão mais abertas a curtir e se divertir com o conceito de seres fantásticos atuando no Brasil.

Página dos Invictos por José Luis

5 – Antes tudo era impresso, a distribuição complicada, agora com um clique você alcança milhares de leitores… até que ponto isso é bom? E até que ponto é ruim? Já que vejo uma quantidade gigantesca de artistas, nem todos com qualidade. Assim como vejo milhares de leitores, mas nem todos com discernimento para realizar uma crítica construtiva.

Diante do progresso é ilusão querer se contrapor, embora seja inquestionável, no que se refira a quadrinhos, a importância e significância do material impresso. Segurar uma revista em mãos ainda é um ato muito saboroso. Se faz necessário buscar o melhor uso das ferramentos que nos são disponíveis, e isso está ao alcance de cada vez mais pessoas. Nesse processo teremos sempre artistas iniciantes, que não amadureceram ainda suas técnicas, sua narrativa, seu senso artístico, disponibilizando seus primeiros trabalhos para um número amplo de expectadores por meio da internet. O que se faz necessário são os leitores possuírem o discernimento de compreender os diferentes estágios de evolução de um artista com base no que de produção ele já ofertou ao mundo. Não é sábio taxar de forma depreciativa os quadrinhos nacionais como um todo se você só teve acesso a trabalhos de artistas que ainda não dominaram com propriedade aquilo que buscam fazer, sendo que futuramente esses mesmos artistas podem surpreender demonstrando maior profissionalismo. O que aconselho é que, da mesma forma que o artista está experimentando, no processo de conhecer e oferecer coisas novas e melhores, o leitor também faça o mesmo na sua busca por novas leituras, que também experimente. Que o leitor seja mais ávido por consumir e assim criar o seu senso crítico, em vez de se precipitar fazendo julgamentos mal embasados. Como aprendemos, “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, e isto vale tanto para artistas como para os leitores.

6 – Existe algo que você fez nessa jornada que se arrepende? E qual o seu maior orgulho nessa caminhada?

Sobre arrependimentos acho que naquilo que se refere a um melhor planejamento. Empolgação é uma força poderosa e importante para nos impelir adiante, mas saber planejar o caminhar é algo crucial. O curioso é que a capacidade de promover um planejamento satisfatório esta conectada com um maior acúmulo de experiência. Já o que mais me orgulho foram os contatos e amizades que estabeleci. Artistas amigos que se solidarizaram com aquilo que quero contar e mostrar através de meus personagens. Apoiadores que são verdadeiros super-heróis aliados dos Invictos.

Invicta por Renato Rei e cores de Fito Cordeiro

7 – Você me disse que ficou um tempo parado e que está retornado, tem algum projeto em mente? E o que pretende lançar por esses anos que se aproximam?

Com o nascimento de minha primeira filha, toda minha vida ganhou uma nova perspectiva e tive de deixar o Universo Invictos em repouso, mas claro que isto não seria de modo permanente. Estou retomando os projetos agora e muitas pendências para serem sanadas e concluídas. Várias HQs iniciadas esperando para chegarem aos leitores. Recentemente criei um espaço para melhor me comunicar com as pessoas para abordar os temas do Universo Invictos, um canal no Youtube. A aceitação tem sido bem legal, e será um espaço também para falar de quadrinhos nacionais independentes como um todo. Então é só pesquisar por Universo Invictos no Youtube que vamos juntos rumo a uma viagem para o futuro, afinal somos cidadãos do futuro.

8 – Jogo Rápido.

Personagens preferidos?

Meu super-herói de infância é o Mortal Mais Poderoso da Terra, o clássico Capitão Marvel/Shazam! Foi por meio dele que esse mundo mágico de seres com super-poderes passou a povoar minha mente e faz isso até hoje. Curto muito também o Homem-Elástico, Homem-Borracha, Caçador de Marte, Aquaman, pode-se dizer que a Liga da Justiça como um todo (risos).

Filmes preferidos?

Jornada nas Estrelas – Primeiro Contato, Jurassic Park, Planeta dos Macacos, Os Saltimbancos Trapalhões, Uma Dupla Explosiva com Bud Spencer e Terence Hill, O Ataque dos Vermes Malditos, e muito mais nessa linha, coisas que marcaram muito minha infância.

Melhor livro?

Rafael Tavares: Literatura Nerd. Como bom Trekker que sou, vou aconselhar um livro da franquia fácil de encontrar: Star Trek – Portal do Tempo.

Melhor herói nacional?

Rafael Tavares: Essa é difícil, mas vou citar O Sobrancelha, criação do meu amigo Daniel Siqueira, pois fora as minhas criações foi o personagem que mais colaborei na construção e mitologia.

Pétreo por Renato Rei e cores de Fred Marinho

9 – O que o Rafael Tavares com toda experiência que adquiriu ao longo dos anos diria para o Rafael Tavares do passado?

Para aproveitar o tempo e produzir enquanto é solteiro, mora com os pais, tem uma grana sobrando. Quando se é mais jovem se perde muito tempo com bobagens, não necessariamente coisas erradas, mas no lugar tem muitas coisas vantajosas para se fazer. O artista mais jovem muitas vezes tem um turbilhão de coisas pipocando em sua mente, uma energia criadora incrível, e às vezes acha que isso é o suficiente e se basta por si só, e não se empenha para produzir e escoar tudo que tem vontade. Aquele artista que desde cedo se engaja, estuda técnicas, sua a testa escrevendo ou desenhando levará a vantagem e se sentirá mais recompensado e completo no futuro.

10 – Para finalizar. Quem é Rafael Tavares?

Acredito que um cara simples, fácil de se lidar, que gosta de buscar fazer as coisas certas, e caso ainda não as tenha feito em algum aspecto, irá procurar sanar tão logo seja possível. Como autor independente, inevitavelmente vamos deixando algumas pendências, mas não as afasto da minha mente. Tenho gratidão por todos os artistas que me ajudaram e seguem me ajudando a construir o Universo Invictos. Tenho uma dívida para com eles, pois muito do material ainda não foi lançado e apreciado pelos leitores. E quero muito que tudo isso venha a receber a atenção que merece.

Os Invictos por Rafael Dantas e cores de José Amorim Neto

11 – Deixe os contatos onde os leitores poderão adquirir suas histórias e falar com você.

No Facebook ou no Youtube basta pesquisar por Universo Invictos que chegará até mim. Espero que curtam a página do Facebook e se inscrevam no canal do Youtube. Basta me enviar mensagens por essas plataformas ou me adicionar como amigo no Face. Estamos aí.

Rafael, o HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada, e se você quiser falar alguma coisa, essa é sua hora.

Antes de mais nada, muito obrigado pelo desejo de sucesso. Gostaria de agradecer imensamente o espaço que se revelou muito oportuno nesse momento em que estou retomando as atividades com meus quadrinhos. A mensagem que quero deixar é que as pessoas procurem ter um olhar diferenciado para os quadrinhos nacionais. Vivemos em um contexto muito particular e adverso para a produção cultural em nosso país. Apesar disso, tenham certeza que possuímos muitos artistas de talento inquestionável batalhando para que certas impressões negativas virem coisas do passado. Ainda estamos trilhando um caminho para um cenário mais satisfatório, e tenho certeza que o leitor tem com o que se beneficiar caso aceite embarcar para curtir essa viagem, deixando um pouco de lado julgamentos precipitados e generalizações infrutíferas. Não deixa de ser uma boa aventura ao alcance de todos aqueles dispostos a vivenciá-la.

Mega pôster por Renato Rei e cores de Alzir Alves

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