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HQ’s Entrevista | Bruno Sorc

Apaixonado por Charles Bukowski e Chuck Palahniuk, Bruno Sorc adorava desenhar na infância, até descobrir que isso nem de longe era o seu forte… então resolveu dar abertura para escrita, sua grande e verdadeira paixão.

O tempo passou, os textos mais infantis foram ficando de lado e o hobby se transformou em algo mais sério. Hoje Sorc diz que escrever é sua vida. Passado, presente e futuro. E por falar em futuro, ele veio até aqui para discutirmos um pouco sobre.

Com o trabalho autoral intitulado Mojica Móveis – uma loja de móveis usados onde cada um de seus produtos carrega um segredo mórbido – tem uma dúzia de artistas envolvidos em sua produção.

Sorc pagou cada um deles com dinheiro do bolso, porque acredita em seu roteiro e assim investiu nele. O autor contará em breve com o financiamento coletivo via Catarse para realizar a impressão.

Então, sem mais delongas, venha conhecer Bruno Sorc e o curioso, provocativo e escroto universo do Mojica Móveis.

1 – Bruno Sorc, 2020 é seu ano de estreia no mundo dos quadrinhos, mas você é autor faz um tempo, correto? Conta pra gente como tudo começou…

Sempre fui fã de quadrinhos. Aprendi a ler com Turma da Mônica, mas logo me peguei lendo Wolverine e Yu Yu Hakusho muito, mas muito novinho.

Comecei fazer os meus próprios quadrinhos com uns 9, 10 anos. Lembro do meu pai trazendo uma máquina de fax pra casa, e eu que sempre gostei muito de desenhar, pegava e fazia aquele lance que tirava praticamente uma xerox, grampeava as folhas e vendia para os meus amigos. Aos poucos eu percebi que desenho mal pra caralho, e o meu negócio é mesmo contar história.

2 – Então desde pequeno você escrevia? Se lembra da origem das primeiras escritas?

Na adolescência eu comecei escrevendo poesias por causa de uma professora substituta de português que ia fazer um sarau. Depois panfletei zines com o pessoal do Dance of Days até entrar em “uma nóia” e não parar de pensar: “caralho, queria escrever alguma coisa grande”.

Eu tinha um priminho que dormia direto em casa, e ele pegou a maninha de me pedir para contar a minha versão dos contos infantis. Ou seja, deixava a parada “hardcore”. Fiz uma versão dos três porquinhos que gostei tanto que trabalhei nele até virar um livro, aliás, foi a minha primeira obra que lancei lá em 2011.

Depois de lançar “P.I.G e o Lobo” eu peguei todas minhas poesias, acho que já tinha umas 250 registradas na biblioteca nacional, e ai fiz dois livrinhos de poesia “Doce Desespero” e “Mullets & Muletas“. Ah! E tudo isso que estou falando foi lançado de forma independente pelo Clube de Autores.

Dali pra frente eu escrevi mais 5 pequenos trabalhos, “Maria do Satanás” (terror sobrenatural), “Operação Fim” (romance mela cueca), “Majestade” (terror slasher), “Segredo, o Punk” (uma aventura anárquica) e “Greg o caçador de encrencas” (terror psicológico). Em seguida criei um universo mesclando coisas que eu amava como a máfia dos filmes do Scorsese, a violência humorada do Tarantino e as cabeças a prêmio do Afro Samurai, tudo no cenário da metrópole opaca paulistana. O primeiro volume se chamava “Alexia” e o segundo “Hannah & Magnum“.

Estes dois últimos da série que intitulei de Cenário Undergorund foram lançados em 2014. Então aos 24 anos já tinha uma dezena de livros. Como nunca consegui fechar com uma editora, comecei escrever para o audiovisual. Comecei estudar muito sobre roteiros e passei a escreve-los. Participei de FRAPAs e outros festivais. E com um roteiro de curta metragem, fui um dos finalistas do ROTA em 2018 com o “Céu Não Está no Mapa“.

Enfim, fui para publicidade por alguns anos fazendo spots de rádio, jingles e vídeos institucionais, comerciais e manifestos. Hoje trabalho no marketing, mas continuo fazendo roteiros.

3 – Dá para perceber que você teve um bom caminho até produzir seu primeiro quadrinho. Em qual ponto dessa trajetória você decidiu fazer isso?

Cada vez mais me peguei indo na falecida Gibiteria, virei rato do Artist Alley da CCXP, consequentemente colava em eventos na UGRA, Comic Boom e na Loja Monstra. Amizades foram nascendo e pensei, por quê não tentar? Uma coisa tão foda dessas… eu tinha que experimentar. E porra, estou prestes a fazer 30, já está na hora de realizar meus sonhos de criança.

4 – E a inspiração para o Mojica Móveis…

Gosto muito de super-heróis, claro que queria ter o meu panteão, saca? Mas vinha a anos arquitetando roteiros “rodáveis” que optei pela mensagem forte e o pé no chão.

Então, eu peguei uma história que a minha mãe vira e mexe conta, sobre quando foi morar com meu pai eles terem comprado uma carismática geladeira azul que mal gelava. Algum tempo depois encontraram o motivo do pouco resfriamento. Um buraco de tiro. A gente sempre se perguntava o que aconteceu ali… Rabisquei então uma possível história de onde surgiu esse disparo. Parti daí.

Como amo muito o centro de São Paulo, queria trazer algo desse “inferno” para o quadrinho. Quem conhece, sabe que ali pro Minhocão tem aquelas lojas de móveis usados, falei: “Seria foda escrever sobre as bizarrices humanas através dos móveis. É isso”.

Foi daí que inventei o “Mojica Móveis“, que é uma loja de móveis usados onde o dono vende as histórias, se você gostar delas, você leva o móvel de brinde.

5 – Você disse que existe pelo menos 12 artistas envolvidos, mas por que tantos nomes? Mojica Móveis é uma coletânea? E se me permite, qual é a verdadeira mensagem da HQ?

Isso, são 12. Mas não, não é uma coletânea.

Temos aqui um rapaz – o Amácio – que entra na sombria loja do Mojica para mobiliar sua casa com pouca $$. Então acompanhamos essa venda por todo o quadrinho, porém, a cada móvel citado, entramos em um conto que se passa em outro pico, em outro tempo e claro, contando com outro traço. Assim seguimos a narrativa, nos deparando com a podridão que é o ser humano e levantando um pouco para debate, várias questões.

Algumas pessoas que já leram o roteiro compararam com um formato meio Black Mirror, por bater tanto na sociedade, outros citam Clube do Terror HAHAHA!

Bom, mas vamos lá! Eu sou o roteirista e editor do quadrinho. Na história principal temos Bruno Lima, nos contos a sequência é the Immigrant, Alex Genaro, Letícia Pusti, Oscar Suyama Jr., Rapha Pinheiro, Rick Troula e Laudo Ferreira. Na capa conto com Dudu Torres, nas cores a Cássia Alves e na diagramação o meu irmãozão Alê Romão.

E se eu puder resumir o roteiro, a mensagem principal é o perigo da influência.

6 – Eu vi que o Mojica Móveis é um quadrinho adulto e de alguma forma, nichado. Por que optar por uma estrutura tão pesada?

Primeiro, porque a vida é assim. Pesada.

Segundo, porque é impossível agradar todo mundo. Então é melhor nichar HAHAHA!.

Terceiro, que é necessário falar a verdade. Pôr na mesa algumas coisas, e se for necessário usar cenas de violência, sexo e palavreado chulo, vamos usar. E perceba que eu disse “se for necessário”. Odeio cenas de choque pelo choque. Aqui a parada é inteligente da maneira mais escrota possível.

E por fim, porque se não fosse assim, não seria eu.

7 – Você contar da maneira “mais escrota possível” é devido alguma influência de algum escritor específico? Você se inspira em alguém para escrever?

Na abertura da entrevista você já cita meus maiores ídolos em escrita, Bukowski e Palahniuk que são uns caras que escrevem umas paradas pesadas. Também sou apaixonado por Rob Zombie, Garth Ennis, Seth Rogen, Sean Murphy e por aí vai…

Eu acredito que “escrever de maneira escrota” é a combinação perfeita para se receber uma porrada sem perder o humor (ou a esperança).

Mas quando cito “ser pesado” é por esses detalhes, pela temática e por escolha narrativa. Ninguém vai encontrar aqui um pornô gore. O quadrinho é +18, mais pelas feridas tocadas do que um peitinho pulando aqui ou um socão amassando uma caixa craniana ali.

As pessoas precisam aprender que a arte não é “pesada”, pesado é ver crianças morando na rua e morrendo de fome. Infelizmente nos deparamos com isso diariamente.

8 – Trabalhando em cima de temas polêmicos (religião, alcoolismo, depressão), você não fica com receio dos famosos haters?

Cara, seria mentira falar que não quero chocar. Acho que toda arte é um choque. Se não tiver a “pancada” – por mais subjetiva que seja – Não tem propósito, saca?
Eu acho que existirão haters com certeza, não só pelo fato que nada agrada a todos, mas principalmente que hoje está muito fácil odiar.
Medo eu não tenho, nenhum. Dependendo de como for, pode até ser interessante. Mas salientando: não estou em busca deles.

9 – Como foi para encontrar o pessoal que iria te ajudar? Qual o motivo de ter chamado tanta gente? Teve muita recusa?

Achar foi fácil, pelo menos metade do meu Facebook são artistas que quando conheci o trabalho já adicionei.

E cara, eu sou desconhecido.

Então, colocar na capa: “Mojica Móveis, um quadrinho de Bruno Sorc” se pá, seria catastrófico. Mas se colocar o mesmo seguido de “com traços de fulano, ciclano, beltrano” acho que a tendência é virar.

Teve gente que por causa de agenda não topou, teve gente que não topou porque achou a história muito pesada e teve gente que – tenho muito orgulho em dizer – amou o roteiro e entrou de cabeça na parada, sabe?

Cara, você não sabe como foi receber elogios do Laudo Ferreira, esse monstro da nona arte. Tive uma bela recepção por parte da Letícia e o Rapha. Minha colorista a cada conto que ela lia vinha debater como foi foda aquele plot por isso, isso e isso. O Genaro falou que só desenhava se fosse um determinado conto, porque ele amou o plot twist. E o Rick chegou a me dar folhas a mais – na faixa – para fazer com perfeição o conto dele.

É muita satisfação… pqp s2

10 – Rapaz, e pra gerenciar todo esse pessoal é muito difícil?

É muita coisa pra administrar, pra pensar…

Como fui pagando do meu bolso, não rolou tudo ao mesmo tempo. Mas teve hora que começaram a atrasar aqui, aí afetava a diagramação e a colorização ali… e a data chegando a milhão na contramão… admito que foi difícil, sim.

Eu sou MUITO organizado, então usei o Trello para não me perder. Fiz cronogramas específicos para cada artista. E como nesse meio tempo eu mudei de emprego – trabalhando muito mais do que antes – eu só conseguia e consigo dar atenção realmente para o projeto aos domingos, sempre fazendo todas as aprovações rapidinho via WhatsApp.

É gostoso, claro que é, mas é uma canseira fodida.

11 – Pô, bacana. E você tem ideia para outros roteiros? Ou até mesmo transformar esse em algum projeto audiovisual?

Eu tenho alguns roteiros prontos que posso adaptá-los para quadrinhos. E tenho outros dois argumentos rabiscados já pensado neste formato. Então se Deus quiser e esse aqui virar, posso trabalhar em um desses quatro para o ano que vem ou quem sabe uma continuação do MM.

Quanto a audiovisual, MM é uma parada totalmente rodável sabe? Então abrir câmera é questão de tempo. Mas vamos um passo de cada vez. Tô tranquilo quanto a isso.

12 – Bom. Então, para fecharmos, faço aquela pergunta de praxe. Quem é Bruno Sorc?

Hunmnm…

Autêntico, carismático e cada vez mais corajoso. Sou um cara apaixonado. Romântico, sabe? Sempre sonhador. Ansioso, mas não envergonhado. Não consigo ficar sem fazer piadas… mas confesso que tenho um bom timing.

Sou escroto, mas não sou um saco. Gosto muito de conversar, de argumentar e acima de tudo, de aprender. As pessoas costumam me amar ou odiar muito rápido. Devo ser intenso.

Gosto de ter muitos amigos, mas não troco um cobertor com minha namorada por nada.
Escrita já foi meu sonho, hoje é o meu trampo e sempre será o meu futuro. Escrevo com a alma, seja lá o que isso realmente quer dizer.

O HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada, e se você quiser falar alguma coisa, essa é sua hora.

Não, não.

Eu que agradeço a oportunidade.

Fiquei muito animado com o convite, e confesso que vocês foram a minha primeira entrevista. Me descabaçaram legal. Desejo sucesso em dobro pra vocês. E claro, espero participar mais vezes. Abração!

E aproveitando o espaço… galera, fiquem ligados!

Sigam o @mojicamoveis que é onde posto todas as novidades do quadrinho e em breve, no Catarse, Mojica Móveis conta com a sua ajuda para ganhar vida. Me ajudem a realizar um sonho, aprendendo um pouco do perigo que é essa tal “influência”.

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