Pular para o conteúdo

HQ’s Entrevista | Luciano Cunha, criador de “O Doutrinador”

O Doutrinador é um anti-herói, mas podemos dizer que o Luciano Cunha é um verdadeiro herói, afinal, não é fácil fazer quadrinho independente no Brasil. Agora, transformar um quadrinho independente em filme, é só coisa de herói mesmo.

1 – Seu primeiro emprego foi ao lado do Ziraldo, como isso aconteceu? E como foi trabalhar com um dos mestres brasileiros?

Eu tinha 16 anos e fazia um curso de desenho no Oberg, antiga instituição aqui no Rio de Janeiro. A professora do curso era amiga do Helcy Miranda, editor da revista do Menino Maluquinho e velho parceiro de Ziraldo. Como ela me achava ótimo aluno, me indicou pro Helcy, que também adorou meu trabalho. E lá estava eu, um moleque, numa equipe de grandes feras. Foi uma época maravilhosa, de muito aprendizado, que guardo com orgulho na memória.

2 – O Doutrinador é um personagem nascido da insatisfação política do nosso país, e ele nasceu primeiro no mundo virtual, para depois ir para o mundo impresso, isso ocorreu como forma de planejamento ou foi difícil encontrar editoras que encarassem um personagem com tal temática?

Não foi nada planejado. Na verdade, quando criei o Doutrinador, enviei umas 40 páginas para 14 editoras brasileiras. Onze delas me responderam que o trabalho era bom mas que seus advogados haviam aconselhado “Não publique isso que vai dar merda!” Então a saída foi me auto publicar nas redes sociais. A ideia era postar o primeiro arco inteiro na fan page, mas como a audiência aumentava rapidamente e as pessoas pediam uma edição impressa, decidi publicar de forma independente. Vendi toda a primeira edição sozinho, enviei um por um pelo correio. Os funcionários da agência dos Correios já me conheciam.

3 – Você já teve algum problema na justiça em relação aos quadrinhos do Doutrinador?

Sim, já fui processado por um político famoso. Mas deu tudo certo, no final. O processo já foi arquivado, mas meu advogado me orientou a não falar muito sobre isso.

4 – E nesse cenário cada vez mais caótico, onde a intolerância predomina, não importando se você é de direita ou esquerda, todos querem ter razão e enfiar goela abaixo suas opiniões, você não ficou com medo de percorrer esse campo minado?

Não. Na verdade, desde que criei o personagem e decidi realmente desenvolvê-lo, medo era um sentimento que eu não podia cultivar, do contrário não faria nada. E essa polarização começou depois, na eleição de 2014. É uma pena que isto esteja acontecendo, é um retrocesso.

5 – Falando com toda sinceridade do mundo, você ainda acredita que nosso país consiga ter algum índice de melhora? Ou a corrupção já está impregnada em nossos conceitos?

Sou um otimista nato. Acho que o país está passando por uma espécie de depuração. Somos uma nação jovem, perto de algumas sociedades europeias, somos adolescentes. Vamos evoluir, não na velocidade que desejamos, mas vamos chegar lá.

6 – 2018 tem tudo para ser um ano fantástico para você, afinal, em setembro teremos a grande estreia do seu longa, quais são suas expectativas?

As melhores possíveis. Estamos trabalhando muito para fazer história. Do jeito que está o projeto, acho que vamos ser um marco para o audiovisual e para o relacionamento do público brasileiro com a cultura pop produzida aqui. E ainda tem os outros produtos e outros personagens da Guará, a editora/produtora que acabei criando com um dos roteiristas e criadores do filme, meu parceiro Gabriel Wainer. Tem muita coisa ainda pra acontecer.

7 – E o que você pode nos falar sobre seu filme e sobre seu seriado?

Como mencionei, a produção está caprichadíssima. Foi emoção pura quando eu vi o set de filmagem, paguei mico e comecei a chorar, não aguentei. Realmente está muito bonito, mas não posso dar mais detalhes.

8 – Depois desses projetos, quais são seus planos?

Dar prosseguimento ao universo Guará, temos mais uma dezena de personagens sendo desenvolvidos. Os Desviantes já tem mais da metade de páginas prontas, assim como O Santo, nosso caçador de falsos profetas. E Penélope, o primeiro spin off do Doutrinador, também já está quase pronta. É bastante conteúdo!

9 – O trabalho do Universo Guará é incrível, tem algum quadrinista que bombou através desse projeto?

Na verdade, ainda não. As HQs que estão em produção trazem alguns artistas já consagrados, como Alisson Borges, Pericles Júnior e Alzir Alves. O único “novato” é o talentosíssimo Juliano Henrique, que está desenhando Os Desviantes. Esse rapaz vai ser um dos grandes do quadrinho nacional, tenho certeza disso e me orgulho da Guará estar lançando seu trabalho.

10 – O que você pode dizer para essa galera jovem que sonha em fazer quadrinhos?

Que continue sonhando e o faça com paixão. Não espere ganhar dinheiro com isso, faça por amor. Se for preciso, trabalhe em outra profissão e faça quadrinhos nas horas vagas. Não desista nunca. Eu sou um exemplo de perseverança: esperei quase 30 anos para lançar um projeto autoral do jeito que queria. E olha no que deu!

11 – Para finalizar. Quem é Luciano Cunha?

Um velho nerd roqueiro, revoltado com a classe política brasileira, que adora ficar com a família e amigos. Com uma cerveja bem gelada, se possível.

12 – Deixe os contatos onde os leitores poderão adquirir suas histórias e falar com você.

Obrigado pelo espaço, foi ótimo. E podem falar comigo pelo inbox da fan page, respondo tudo. Ou pelo e-mail: doutrinadorhq@gmail.com

E nesse link você pode adquirir a edição definitiva do Doutrinador, um encadernado lindo de capa dura e mais de 200 páginas, lançada em dezembro na CCXP. É um item de colecionador, vai virar relíquia depois de lançado o filme (risos) : https://loja.redboxeditora.com.br/hqs/O-Doutrinador1

Não deixe de conferir. 

HQ’s Entrevista | Lancelott Martins

HQ’s Entrevista | Lucio Oliveira (Edibar)

HQ’s Entrevista | Raphael Pinheiro (Os Tomos de Tessa)

HQ’s Entrevista, Marcelo Campos (Quebra-Queixo)

HQ’s Entrevista | Lincoln Nery (Jou Ventania)

Em tempo, agradeço ao Caio Vinicius por me ajudar na elaboração das perguntas.