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Euro-Cine | Fuga de Nova York

O Cenário apocalíptico de John Carpenter (1948) em Fuga de Nova York é um encontro com o caos, o qual a maior metrópole do planeta, é  transformada em uma mega complexo – prisional abrigando o fracasso do “sonho americano”, em seu tempo de sua narrativa cinematográfica se passando em 1997.

Com um elenco com atores ornaram passagens entre o cinema e o teatro contando com rigor de atuação inglesa já que boa parcela de seu elenco pertenciam a “a Terra da Rainha”, é traçado uma alusão de um novo “levante do gueto Varsóvia as avessas”, que ao invés de ter uma luta por  liberdade contra regimes totalitários, estavam mais voltados em suas condutas contra uma política segregacionista, que limita a mistura e miscigenação e de uma democracia que seja participativa para todos.

Kurt Russell (1951), como Snake Plisssken um Ex-Combatente das forças especiais preso por assalto, faz crescer um anarquismo, do homem que perdeu o sentido da vida, que busca na verdade da sua existência encontrar o “amor” por si mesmo, que não possua uma economia comportamental auspiciada no julgamento incorreto da Lei, de que para se fazer a igualdade é fator primordial a destruição do cunho de sobrevivência de uma consciência atormentada, para um silogismo de que arte necessita não somente divertir, mas causar um forte impacto destruição para se construir a admiração.

O senso-comum de dissabores, rumo a uma utopia de reconstrução sentimental do Estado que não fique prezo somente, a fazer cumprir regras, mas que projete a uma cena ética de benfeitorias, perante a organização da “destruição organizada”.

O termo “organização da destruição” reflete uma cinematografia, ao qual a desordem é o estereótipo de consciência, que dentro de cada ser – humano culmina em seu destino moral, tendo que de alguma forma lutar por liberdade, mesmo dentro de uma “história”, sendo aspergida, por prisões, realizando a pureza de uma etnia, que louva a supremacia racial.

Não indiretamente há uma tendência em relação ao vilão principal da película Duke de Nova York (Isaac Hayes – 1942 – 2008), um alarde de que nos subúrbios e o preconceito de “cor” fazendo a revolta ganhar um plantel ideológico, para que possa servir para uma espiritualidade de poética de espacialidades mentais, que sejam orientadas para uma ontologia do que se torna negativo, indiretamente as nossas vontades.

As catástrofes fazem emergir atitudes, que dentro da normalidade cotidiana, oferecem um princípio inicial de aceitação, mas concomitantemente, com uma produção sociológica de prover as vontades do Estado, de que para conservar o é necessário fazer para diminuir todos os tipos de exclusões.

“Dentro de uma visão foucaultiana o ‘vigiar”, que é mostrado logo no seu inicio quando se confirma a queda do Força Área I, e o aprisionamento do presidente dos Estados Unidos (Donald Pleasence – 1919 – 1995), pelos revoltosos, que caberia uma a tentativa de rebelião da Frente de Libertação Nacional dos Trabalhadores com indireta Socialista, que com efeito a cápsula de fuga presidencial é encontrada e  cercada pelos revoltosos, em volta dos blocos de Muralhas constantemente patrulhadas e com um Estado Policial incessante, fazendo expor a carência de construir um esteio nacionalista que não contivesse características de biopolíticas em favor de uma “intelectualidade”, que não fosse acentuada para a destruição de uma portento social pluriétnico.

Frontalmente, quando Plisssken é convocado para libertar o presidente da Ilha de Manhattan, é evidenciado um pouco da ideia de controle biológico na população ao se injetar micros-explosivos, em suas circulação  sanguínea que explodirá se não cumprir a sua operação de resgate dentro de 24 horas.

Para essa biologização da guerra, sua narrativa é um prenuncio acerca de uma globalização quanto a elevar a massificação e um controle da subjetividade, através mecanismos cibernéticos, que atravessam o tempo e matéria, para uma ontologia de destruir o individualismo a favor de um psicologismo funesto.

Outro caminho para essa tipologia de exemplificação de fazer do incentivo, algo que venha motivar a morte heróica ou não, de Plisssken, está no sentido de que para o renegado, pouco importa a destruição da humanidade, fazendo de tudo para deixa-la de lado, em um plano existencial, que vai se alicerçando para um gosto sádico que para o extermínio, qualquer motivo pode ser cabível para engrandecer um armamento encorajador, que faz um romantismo do anti-herói, que prefere jogar o destino de muitos para o ar, mas que contém um messianismo de procurar ainda algum sentido para seu patriotismo ultrajado.

Logo que é apresentado ao chefe de segurança Bob Hauk, (Lee Van Cleef – 1925 – 1989), Plissken, deixa um tom de sarcasmo espiritual no ar ao indagar, “qual presidente?”, supostamente deveria ser resgatado.

Se, lembramos que historicamente em 1981 ano do seu lançamento, Ronald Reagan (1911 – 2004) também sofreria um atentado, perante a escala de endurecimento de campanhas antissocialistas, e de uma distensão com a União Soviética, pode ser caracterizado como uma carência de uma eloquência de se fazer uma política de Estado, que não ficasse somente dentro dos interesses suprapartidários e também de uma constituição de Governo, que viesse com um potencial de enxergar cada um como eventual suspeito de atentar contra a República Estadunidense.

A questão nuclear, durante o período que enfoca a Guerra Fria (década de 1980 e 1990), está também fortemente ligada que um atentado, fez, com que o Presidente contendo segredos confidenciais, em uma fita K7 (Cassete), onde estão informações acerca da União Soviética e da China, e uma aditamento de tratado de contenção da produção de armas nucleares.

Para a história das relações internacionais, soa como uma preocupação dos assuntos estatais com a sua política externa, e do Imperialismo dando as cartas, para um favorecimento de economia de mercado, visando a conservação majoritária de uma acumulação de capital e bens, que excluem os famigerados e classes sociais menos favorecidas, de uma participação quanto a Ideologia de contribuir claramente para uma igualdade com liberdade, com princípios orgânicos, e não exclusivamente um núcleo filogenético, que fique a uma estética destruindo o diálogo entre os países.

Norman Birnbaum (1926 – 2019), esmiúça que “a revolução industrial, seria um fator para elaborar novas maneiras, de insurreições, com comprometimentos, a isolar mais as pessoas que não contivessem meios técnicos e intelectuais para gozar do poder do grande capital”.

Plissken quando entra na Ilha, tendo sido transformada em espaço de vigilância e balburdia se depara também com comprometimentos de “parapolíticas” que não fazem uma justiça franca e verdadeira para as todas as pessoas.

Uma questão em torno da preservação tanto natureza do meio em que se vive como da natureza humana, faz dos personagens de John Carpenter, um evangelho de como se portar defronte situações que demandam riscos, e também que venham ameaçar a integralidade de Sistemas de Equilíbrio Institucional de Estado, que venha limitar a ação de seus cidadãos, dentro de um caminho que leve para uma conjugação do “ser”, como detentor do tempo, e que suas decisões estejam no rol de neuroses, de admitir que nem tudo para se manter ordem é conveniente em sua implementação.

Fuga de Nova York

Pois mesmo com o aumento da criminalidade é colocado, como parte de interpretação do seu enredo, que uma predestinação arbitrária, que para quem comete erros, esteja subjugada, um casulo gigantesco de privações, que no caso faz de Nova York a imagem de um poder destrutivo do pensamento lúcido, que seja proveniente, para a recuperação de prisioneiros.

Mesmo quando o Força Área I, cai, durante seu sequestro, faz-se um prelúdio em relação dos ataques de 11 de setembro de 2001, ao qual mudou a classificação para o “terror” imperando um medo coletivo e sucessivo, ao qual o medo pode estar colocado em qualquer canto, ou beco.

Para Bob Hauk, está claro que para resgatar o presidente, é necessário parafraseando aqui com Dirty Harry “lidar com o lixo da sociedade”, e somente com ajuda de alguém de  dentro da cidade, pode levar Plissken a cumprir sua missão.

Nesse caso entra em ação Harold Helman (Crânio / Cérebro) (Harry Dean Stanton – 1926 – 2017), como alguém que traga luz perante um momento já não sabe a qual tipo de comportamento renegado militar possa auferir, mantendo ele assim sobre controle.

Com um trivial contexto histórico, com um domínio de questões que futuramente estariam na pauta de discussões do Estado, constando uma quebra de “conceitos hobbesianos”, quanto ao respeito para a população civil, sendo necessário principiar conspirações contra povo, para que assim a ordem possa ser permutada a conter uma geografia tanto para a elaboração de culturas hibridas dinâmicas, para poder em torno de sua coletividade buscar comprometimentos dialéticos que possam conter o respeito pela individualidade de cada um, pois o agrupamento eleva procedimentos políticos de distorção quanto ao que possa constituir como civilidade, para despertar o respeito pela justiça.

A ideia de fissão nuclear, o medo de conflitos entra as superpotências, foram temas subjacentes, a muitos filmes de ação durante os 1980, sempre focando o perigo da extinção da humanidade.

Mas diferentes cenários e enredos, por exemplo, a saga “Exterminador do Futuro”, ou “Rambo”, onde os perigos tecnológicos, e o emblema de exaustar o nacionalismo e do espírito de libertação dos Estados Unidos, são colocados com todo o vigor, Fuga de Nova York é uma incessante denúncia quanto, a carência de prover  um arquétipo de instrução que não se encontre somente na doutrinação Oficial, e por consequência venha a colocar uma morte da subjetividade, que possa abrir novos preâmbulos de mentalidades, que possam se escrutar  na história, compreendendo, a manipulação de traquejos intelectuais auspiciados na destruição da crítica.

Uma crítica que segundo as palavras de Noam Chomsky (1928), “que cunhe não somente despertar o patriotismo, mas sim que venha a fazer signos de intermediar uma relação recíproca entre o Estado e as pessoas”.

Usando de um teórico político acerca da bipolarização e da tutoria irrestrita do governo sobre seus cidadãos, Fred Halliday (1946 – 2010), “esgarça que com o advento da guerra total, houve uma preocupação, quanto à classificação de isolar ameaças internas, e concentrar todo poder  objetivo de defesa em um eventual ataque externo”, ou seja, o adversário do Estado é um inimigo comum de fora, e de toda a constituição populacional, do Tio Sam.

Porém Carpenter projeta a questão de ter, que usar de meios abnegados dentro do seu próprio aparelho de Estado, contra seus compatriotas, que foram expurgados de todo o convívio da Sociedade Civil.

Essa Sociedade Civil, que busca meios para lidar com o temor nuclear, mas que não consegue fixar flancos de atitudes, que fujam do estrangulamento da tolerância.

De certa maneira, o Presidente, provoca um sentimento de que ele, buscando piedade diante as vindimas de seus sequestradores, que reciprocamente sente o poder da fúria do poder estatal, veio ocasionar a segregação entre criminosos e pessoas ilibadas pela Lei que cumpre os desígnios de obediência a uma relativa Lei Marcial, diante as mazelas de uma gestão de governo, que não consegue prever e prover os desastres e problemas ambientais, econômicos e sociais, que assim, fizeram uma repressão perante aqueles que não se enquadram ao perfil de Capitalismo, fortemente consumista, como também a uma intimidação na separação entre as pessoas.

A ideia de uma biopolítica, onde é traçando planos para aqueles que estarão em uma bioética de estar convivendo pacificamente um com os outros, em torno de um paradoxo institucional, de prolegômenos linguísticos, que foquem tanto para uma subserviência, contra a tentativa de rebeldia, como também a conter uma organicidade de rever conceitos microscópicos de intimidação e de aquartelamento de delinquentes, como também com a compreensão de estar se formando uma massa de revoltados que podem criar um Estado dentro do próprio Estado.

Fuga de Nova York

Um predicado, de movimento psicológico separatista, que possa levar a uma intensificação do arcabouço teórico e a práxis de políticas, que visem não unicamente aliterar procedimentos legais, mas também de um cisma contra procedimentos de um Direito que usa da sua hermenêutica da exclusão, para a justificação de atos que venham a aparelhar a eliminação da desordem justa.

Uma desordem, estando complementado por um psicologismo, indo contra a gnoses, de uma política que venha usar a revolta, como artefato narrativo, que ao invés de integrar produza uma “mise en scéne”, ao qual o herói não passa de mais a classificação de uma identidade libertadora, que não seja um núcleo de vingança dos súditos contra o Estado, sendo uma causa pétrea de lição defronte a excomunhão, de uma humanização, que faça do absurdo, algo estando em torno de cartasis de um Estado Autoritário.

Em uma comparação com sociedade distópica da Nova York de 1997, é projetada dentro do futurismo, como uma ameaça ao qual a urbanização trazendo para novos comprometimentos, de merecimentos, realize o triunfo de um assistencialismo, que fique encarcerado entre os muros, minas, arames farpados e homens fortemente armados.

Mesmo que Plissken necessite salvar o Presidente, o cinema alerta que na vida real, situações que por ventura se classifiquem em conter um paralelo de forte realismo e naturalidade, quanto ao que foi projetado pelo diretor.

Lembramos que a queda do Muro Berlim (1989) aconteceu oito anos depois do seu lançamento, e a Apartheid na África do Sul (1948 – 1994) começava a dar sinais que estava deteriorando, mesmo dentro dessas divisões étnicas,  está um bojo, que a segregação e a separação continham nuances bem específicas, e rigidamente bem controladas e administradas.

Os dois tempos narrativos se passam em 1988, relatando falhas nos sistemas de segurança que não conseguiram  reverterem a um quadro de criminalidade exacerbada, levando a uma condição de sitiar Manhattan, traçando uma visão profética dos muros de contenção que na atualidade foram criados pelo Governo de Donald Trump (1946), para deter a entrada de mexicanos, assim como a imagem da Estátua da Liberdade Caída na capa de lançamento do Filme, demonstra certo sentimento de que os Direitos Civis foram estagnados em uma ontologia, legitimando uma lufada de que a população continha um Estado despótico, realizando factologias manipuladoras quanto ao seu direito de ir e vir.

A esse isolacionismo dos Estados Unidos, permite dentro de sua história uma construção de sua imagem como povo autoproclamado divino, com uma história do presente, que se autodetermina como cunhos para usufruírem, de uma ideologia auscultada no vaticínio da justiça plena, pois Nova York iria enfrentar momento de estar sitiada de verdade como os atentados ao seu metrô em 1993 e como o fatídico e já citado 11 de setembro de 2001.

Outros filmes também fizeram a alusão de um isolacionismo “da capital do mundo contemporâneo”, como Nova York: Cidade Sitiada (1998), ou até mesmo “Duro de Matar 3” (1995), onde são elencados ações terroristas, e como as forças de segurança foram movimentadas para tentarem deterem essas ameaças.

Mas mesmo no clima de um desenrolar de ação lenta, e com um elenco que mistura filmagens que exploram a decadência do sonho americano, como sendo um “documento histórico”, e de sobre como a natureza humana interfere diretamente nas interfaces de uma senciência de “estética”, que leva dentro de vários dos seus personagens a complexidade humana diante a destruição.

As icônicas passagens de Plissken por ruas escuras oferecem um sistema de inferências ao “noir”, sobre uma intelectualidade da arte, sendo uma face “histórica do tempo presente”.

Mesmo que não fosse do perfil de Carpenter diretamente fazer uma metablética de Nova York projetando sentimentos em torno de um futuro sombrio, podemos fazer uma comparação em relação ao caos geográfico e arquitetônico, com o inicio de O Exterminador do Futuro, em uma Los Angeles de 2029, posta a cinzas nos conflitos entre os humanos e máquinas comandadas pela Skynet.

No contexto militar, ambos as obras de Carpenter e James Cameron (1954) realçam uma crise dentro do Império Americano, causada pela sua opulência em orquestrar planejamentos para uma intersecção entre a tecnologia e tempos de ações militares que submetessem ao controle pleno Estado.

Curiosamente o espaço temporal de vivência de Plissken 1997, é exatamente no mesmo ano em que o supercomputador Skynet realiza o início do seu ataque nuclear.

O medo do cataclisma da aniquilação da raça humana faz um caminhar para sintetizar um pessimismo perante a escravização da inteligência frente as suas reunificações neurológicas, para acompanhar características de mergulhos nos mais sombrios dos adereços humanos.

Plisssken procura no perdão presidencial a chance para salvar a própria pele, e de certa forma a honra da humanidade, sendo algo que ele abomina, e revela um anti–herói que foi traído, por Crânio / Helman dando a entender que se conhece de missões antigas, mas isso não fica impregnado claramente ao longo da história.

A generalização da descrença causa impactos de relacionamentos sociais, a uma sociobiologia de homologar, um cântico viril quanto à adaptação de intransigências de uma filosofia que possa organizar uma política que venha aceitar as limitações e carências mentais individuais de cada um.

Plissken se mostra um sujeito complacente com seu próprio instinto em cumprir o que está destinado a si, e também ao qual demonstra que sua reintegração perante o exército americano, está orquestrado a uma longa duração de trajetória política, em se tornar um orgulho para seus compatriotas, enaltecendo que o caos, é uma peça fundamental na construção patriótica da bandeira das 50 estrelas.

Fuga de Nova York

Dados Técnicos.

Fuga de Nova York

Filme de 1981, com 1 hora e 39 minutos de duração.
Direção: John Carpenter
Elenco: Kurt Russell, Lee Van Cleef, Donald Pleasence, Ernest Borgnine, Harry Dean Stanton
Ação – Ficção| Inglaterra – Estados Unidos – Irlanda do Norte

Sinopse: Em 1997 Nova York se tornou uma prisão de segurança máxima, onde estão os piores criminosos. Se fugir de lá é impossível entrar é no mínimo insano, mas quando o avião do Presidente (Donald Pleasence) cai em Manhattan, é oferecida a liberdade a um condenado e herói de guerra (Kurt Russell) para resgatar o mandatário.