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5 Momentos do Livro “Uma Longa Viagem” que mostra como o ser humano pode ser cruel

O pátio onde ficavam as “casinhas de macaco” está agora ocupado por uma residência. Os lugares onde tais coisas ocorreram podem ser destruídos com muita facilidade. A tortura, afinal, não é facilmente percebida; tudo que ela requer é água, um pedaço de madeira e uma voz alta. Ela acontece em cômodos esquálidos, pátios sujos e porões, e não sobra nada para preservá-la quando acaba. As marcas no corpo podem desaparecer rapidamente também. Eric Lomax, no livro “Uma Longa Viagem.”

Sim, meu amigo. O livro é um relato de um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial. Eric Lomax, o autor, foi capturado e levado para os campos de concentração japoneses, onde lá, recebeu e presenciou os mais diversos tipos de torturas.

O livro que virou best-seller é uma ótima obra para nos fazermos pensar sobre como nós, humanos, podemos ser ruins, mas, também, mostra um lado de superação e perdão que inexplicavelmente, podemos ter.

Então, sem mais delongas. Eric começa contando…

Tínhamos um mascote no campo, um encantador gatinho preto que andava por lá, e gostávamos demais dele. Ele era uma criatura mais indefesa do que nós e de quem poderíamos cuidar. Um dia, ele estava brincando na escuridão do complexo quando um guarda coreano estava passando. Ele pegou seu fuzil com uma longa baioneta e empalou o animalzinho, como se fosse assá-lo.”

Foto via The Railway Man

Em outro trecho, o autor cita que foram levados para um local aberto, às 10 da manhã, e que lá foram obrigados a ficar na posição de sentido durante 12 horas consecutivas, sem nada para beber ou comer, só com uma ida ao “banheiro”, depois foram sendo chamados, um por um, para sofrerem um espancamento…

“Os momentos em que eu esperava minha vez foram os piores da minha vida. A expectativa é indescritível; uma história de infância a respeito de mártires protestantes que viram os amigos morrendo em agonia na roda da tortura passou como um relâmpago por minha cabeça. Ter de testemunhar a tortura de outras pessoas e ver os preparativos para o ataque em seu próprio corpo já é uma punição por si só, sobretudo quando não há escapatória. Essa experiência é o começo de uma forma de insanidade.
Então, eu. Deve ter sido lá pela meia-noite. (…) Fui chamado à frente. Fiquei na posição de sentido. Eles ficaram parados me encarando, respirando ofegantes. Então houve uma pausa. Ela parecia se arrastar por minutos. Então fui abatido com um golpe que abalou todos os meus ossos, e emitiu uma sensação de uma dor líquida e excruciante que percorreu meu corpo inteiro. Golpes súbitos me atingiram por todo o corpo. Eu conseguia identificar as periódicas batidas das botas na parte posterior de minha cabeça, imprensando meu rosto no cascalho; o som dos ossos se partindo; meus dentes se quebrando; e minhas próprias tentativas involuntárias de reagir aos chutes fortes e cruéis e de retomar uma posição em pé, apenas para ser jogado no chão mais uma vez.
Em certo momento, percebi que meus quadris estavam sendo machucados e me lembro de ter olhado para o alto e visto o cabo das picaretas descendo na direção deles, e de posicionar meus braços em uma tentativa de amortecer os goles. (…) Lembro-me do golpe exato que quebrou meu pulso. Ele caiu bem na extensão do pulso, com a dor terrível dos ossos delicados sendo amassados. No entanto, a dor pior veio com meus ossos da pélvis e da base da minha coluna sendo atingidos. (…) Isso tudo prosseguiu infinitamente. Não consigo definir quanto tempo tudo durou. Há certas coisas que a pessoa não é capaz de medir com o tempo, e essa é uma delas.”


Depois de todos os espancamentos, foram levados para outra prisão, onde não recebiam alimentação adequada.

“Descobri a definição de “fome” quando me mandaram levar uma panela vazia para a cozinha e, algo muito raro, sem ser escoltado por um guarda, e enquanto estava andando pelo hall principal vi um único grão de arroz na entrada de uma cela. Fui até lá, o peguei e o comi.”


Seu relato ainda conta que além da falta de alimento, eles ficavam sem poder fazer nada. Absolutamente nada. E que isso enlouquecia todos.

“Havia uma quietude doentia e mortal por toda a prisão, tão grande que dava para ouvirmos o som metálico de uma chave em uma fechadura ecoando por todos os andares até o longo teto. As botas de um carcereiro emitiam um som estrondoso no chão de pedra, e eu sentia medo de que o som de um sussurro pudesse ser levado até ele.
Pois eles eram rigorosos a respeito de seu decreto de silêncio. Parecia extremamente cruel fazer-nos compartilhar a cela e ser proibido de falar um com o outro e, ao mesmo tempo, nos privar de livros e de quaisquer tipos de distração. Tudo o que podíamos fazer naquele lugar era: nada.”


Quase no final da obra, Eric descobre um livro de uma das pessoas que interrogaram ele, nesse livro, de autoria de Nagase, há um relato sobre o que Eric Lomax passou.

“O PM bateu nele com um pau. Eu não conseguia suportar olhar aquilo; então, o aconselhei a confessar para evitar a dor no futuro, tanto física quanto mental. Ele apenas sorriu para mim. Finalmente, o policial aplicou a tortura usual. Primeiro o levaram para banheira (…) Então, o braço direito dele, que estava quebrado, foi coloca à frente dele e o braço esquerdo colocado às suas costas, amarrado com uma corda. Eles o fizeram se deitar com uma tolha cobrindo frouxamente sua boca e seu nariz. Jogaram água sobre o rosto dele. A toalha molhada obstruiu seu nariz e sua boca. Ele lutou para respirar, e abriu a boca para inalar o ar. Eles jogaram água em sua boca. Eu vi o estômago dele inchar. Vendo aquele prisioneiro sob grande tortura, quase perdi a presença de espírito.


Eric Lomax e Nagase Takashi em reencontro após várias décadas. Foto Micool Brooke / Associated Press

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A cura física acontece rapidamente; o resto é que leva tempo. – Eric Lomax.

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