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HQ’s Entrevista | Adelino Delsin

Todas as vidas que poderíamos viver, todas as pessoas que jamais conheceremos, jamais seremos, elas estão em todo lugar. É assim que o mundo é. – Colum MacCann.

Pensamentos, amores, desilusões, brigas, sonhos, desejos, vontades… ah, são todos iguais, mas tão desiguais. Novo Horizonte, 09 de setembro de 2018, na pacata cidade do interior de São Paulo, uma feira do livro acontece pela segunda vez no ano, coisa rara.

Chego ao local, um tal de Seu Adelino está lançando um livro. Com fala mansa e olhar distante ele fala para o pequeno público que ali se encontra, o som é baixo e não consigo ouvir, só pego um trecho no final da apresentação no qual ele diz que tem história para um segundo livro.

Todos aplaudem, a apresentação se encerra e os cumprimentos começam. Fico observando de longe aquelas pessoas e noto que conheço quem produziu o livro.

Novo Horizonte, 10 de setembro, entro em contato com a produtora, peço o contato do seu Adelino e logo estou falando com ele no telefone.

Alô? Seu Adelino? Tudo bem? Aqui é o Henry.
– Quem?
Henry, o senhor não me conhece, tenho um site de cultura pop, gostaria de trocar algumas palavras com o senhor.
– Tudo bem, pode vir.
Não, não, preciso de algumas horas para fazer um roteiro. Pode ser amanhã?
– Pode.
Qual o melhor horário?
– Qualquer um, tenho todo o tempo do mundo.
Tudo bem então, vou às 14:00. Obrigado.

Novo Horizonte, 11 de setembro, 14:05, encosto em frente de sua casa, ele, sentado em uma cadeira…

Seu Adelino, tudo bem?
– Quem é você?
Henry, liguei para o senhor ontem.
– Ah, oi, Henry, pode entrar.

Pego uma caneca, presente que nossa loja fez para ele e entrego. Ele agradece e deixa em cima da estante. Explico como vai funcionar a entrevista, ligo o gravador e ele já me avisa: “Aconteceu tanta coisa na minha vida, rapaz (risos)”.

Seu Adelino, quando que surgiu a ideia de escrever um livro contando sua história?
Foi lá em Umuarama, no Paraná. Onde muitas coisas aconteceram. Com o tempo a ideia sumiu. Mas ao retornar para Novo Horizonte, a ideia surgiu novamente.

E quando você teve a ideia de fazer o livro, alguém discordou?
Não, ninguém sabia. Só minha esposa sabia. Nem meus filhos sabiam. Eu só os convidei para o lançamento. Mas infelizmente não puderam comparecer.

Entre uma pergunta e outra, Seu Adelino nos contava algumas histórias que estão em seu livro.

Fui para Rondônia, eu, minha esposa e meu filho adotivo de 5 anos. Chegando lá comprei uma serraria fiado, tinha dois meses para pagar. E para conseguir montar eu tive que ficar 4 dias sem comer, era um local estranho e eu tinha muita vergonha. No 4º dia fui até a cidade de Alvorada d’Oeste e pedi alguma coisa para comer em uma venda. O homem falou para que eu pegasse o que precisava. Então pedi 1 saco de arroz, 1 lata de óleo, 1 kg de sal, 2 kg de jaba e uma faca, coloquei tudo em uma sacola e a faca coloquei na cinta. Andei um pouco e dois caras me cercaram, queriam me roubar. Coloquei as compras no chão e fui para cima dos dois com a faca, então eles correram.

E quanto ao processo de produção. Nós sabemos que você não escreveu nada. Foi tudo por gravação. Como funcionou?
Eu gravava e passava para que o Samuel (Dono da Editora) digitasse. Ele com o auxílio de algumas pessoas fizeram essa parte.

Quanto tempo demorou para gravar?
Para gravar foi rápido, o que demorou foi para produzir todo o livro.

Quanto tempo?
Uns 8 meses.

E de todas essas histórias, qual foi a mais maluca de todas? 
Ah, foi na época que morei no Rio de Janeiro. Eu comprava alguns terrenos para fazer condomínios. Na época comprei dois terrenos de uma advogada, quando já estava construindo, vieram duas mulheres falando que o terreno era do pai delas. Que ele tinha falecido e que estavam fazendo inventário. Mas eu tinha registrado no cartório, como poderia ser delas?

Foi então que descobrimos que alguns cartórios estavam registrando terrenos com documentos falsos.
O rolo foi tão grande que o Fantástico fez uma reportagem conosco…

Imagem: Rede Globo.

Seu Adelino caiu em um golpe dado por uma quadrilha….

Imagem: Rede Globo – Arte: Flávio Fernandes

Segundo ele, algumas coisas dessa época (2006) ainda estão na justiça.

Reportagem do Fantástico.
Apresentação: Pedro Bial e Glória Maria.
Locução: Cid Moreira.
Reportagem: Eduardo Faustini.

No dia do lançamento você falou que tem ideia para um segundo livro. Pode adiantar algo?
Ah, desse eu não vou contar muito não (risos), é surpresa. Mas já tenho boa parte gravada. Será uma segunda parte da história da minha vida.

Uma pausa para outra história. 

Em alguns momentos eu “dei muita sorte”. Uma vez apareceram dois toureiros, me ofereceram tora. Eu, como não tinha um centavo no bolso recusei e expliquei minha situação. Mas eles me falaram que isso não seria problema. Eles se propuseram a trazer as toras, e quando vendesse eu pagaria eles.

Você pode dar algum conselho para quem quer escrever um livro?
Olha, fácil não é. Você tem que ficar bem atento. Levar tudo anotado. Fazer um cronograma para não se perder.

Você é de 1930. Muita coisa mudou. Você sente falta de algo daquela época?
Naquele tempo era a lei do mais forte. Foram tempos difíceis. Então não sinto falta de nada.

Quando eu tinha uns 5 anos, lembro que meu pai tinha um rádio e nós ouvíamos a radionovela “O Crime não Compensa”.

Você passou pela ditadura militar. Pode falar algo pra gente?
Teve seus lados bons e ruins. Ela tirava nossa liberdade, mas não existia tanta bandidagem.

Para finalizar. Quem é Adelino Delsin?
Pergunta difícil. Sei que não sou importante, apenas gosto muito da minha família. No mais, não tenho o que falar.

Seu Adelino. O HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Muito obrigado.
Sou eu que agradeço pela boa atenção. Se uma hora precisar de alguma coisa, me procure, estarei sempre disponível.

Gostou da caneca feita para o Seu Adelino? Você pode ter sua própria caneca personalizada. Para isso basta acessar nosso site ou chamar no WhatsApp 17 98120 1965 para tirar possíveis dúvidas.

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