O entrevistado de hoje é famoso por atuar em grandes novelas, tenho certeza que você já viu ele atuando por alguma (Explode Coração, Prova de Amor, Os Mutantes, Chiquititas, As Aventuras de Poliana…), mas você sabia que o Felipe escreve história em quadrinho?
Não?
Então, hoje estamos aqui para falar um pouco sobre isso. Então, sem delongas…
1 – Nosso site está no ar faz pouco mais de três anos, nós sempre conversamos com quadrinistas, e sempre temos as mesmas reclamações: “Pessoal prefere os importados, não dão valor ao que é nacional, faltam editoras…” Você, por ser uma pessoa pública, encontrou um pouco mais de facilidade para lançar suas obras? Ou foi mais complicado por ter que provar que sabia o que estava fazendo?
Não tenho um ponto de comparação que não seja os meus lançamentos, então não sei dizer se foi mais fácil ou não. Para o grande público acredito que possa ter ajudado, por gerar curiosidade, mas ao mesmo tempo se não tivessem gostado e a resposta não fosse positiva, não continuariam voltando para comprar a cada novo lançamento. Talvez o mais difícil tenha sido algumas pessoas dentro do universo dos quadrinhos que possam ter tido um certo preconceito por alguém de outra área querer fazer quadrinhos, mas não me preocupo com isso, deixo que o trabalho fale por si.
2 – Foram 9 anos para “Aurora” ficar pronto. Diversas pesquisas foram feitas (Astronomia, medicina, química…), você não pensou em parar no meio do trabalho? E não ficou com medo de que no final não desse certo?
Foi um projeto que escrevi sem pressa, enquanto tocava outros roteiros. Não havia nenhuma pressão, nenhum prazo de entrega, então deixei que acontecesse de forma orgânica. Durante esse tempo houveram momentos em que fiquei sem mexer nele por anos, mas sempre tinha uma voz que ficava me lembrando que a história estava ali, pedindo para ser acabada. Realmente foi muito gratificante quando já haviam elementos suficientes para dar aquele “sprint” final e terminar a história.
3 – Felipe, como já dito, 9 anos de pesquisa para escrever um quadrinho. Dentre essas pesquisas você citou que estudou um pouco de astronomia, creio que, mesmo que não tenha sido para escrever o Aurora, você tenha estudado diversos temas da ciência. Pois bem, em várias entrevistas você fala que é cristão. Eu também sou e nós sabemos que o cristianismo é baseado na fé. Só que quando começamos nos aprofundar em temas científicos nossa cabeça parece dar um nó em certos momentos. Como você lida com isso?
Na verdade, durante esse período eu estava afastado da religião, questionando várias coisas. Durante esse período, não só a pesquisa do Aurora, como ter escrito minha segunda HQ, Comunhão, me ajudaram a refletir sobre ter fé ou não, religião e ciência, o que me ajudou no meu caminho de volta. A Bíblia fala que a fé é racional, e acreditar em muitas teorias cientificas não deixa de ser um exercício de fé, então a questão é muito mais uma decisão moral de querer acreditar ou não, porque isso implica em adotar um conjunto de valores para balizar sua vida, uma ética, como disse o filósofo americano Thomas Nagel “Eu não quero que haja Deus”.
4 – Ficção, teoria da conspiração, suspense, ação, religião, filosofia… Os gêneros abordados por você em suas obras são diversos. Já sabe qual será o próximo?
Tenho um projeto que escrevi em 2004, um drama romântico ambientado no mundo das artes marciais que chamei o Mário Cau para fazer. Devemos lançar a campanha no começo do ano que vem, para lançar no segundo semestre.
5 – Cada vez mais o país se divide. Parece que somos obrigados opinar por tudo. Qual seu time? Partido Político? Direita ou Esquerda? Marvel ou DC? Ouse ficar em cima do muro em alguma questão, e logo vem o pessoal te chamando de “isentão”. Você, sendo uma pessoa pública, fica receoso em expor certas opiniões ou até mesmo transcrevê-las para os quadrinhos?
Acho perigoso o patrulhamento ideológico, de pessoas que não sabem separar as coisas e não conseguem respeitar a opinião alheia. Falam em tolerância mas se você não concorda chegam ao ponto de quererem te prejudicar. Isso é autoritarismo fantasiado de tolerância com uma pitada de ressentimento. Penso que no momento em que uma sociedade perde o direito ao livre discurso, historicamente acaba em um banho de sangue, então não, é através do diálogo que a sociedade se constrói, restaura e mantém.
6 – Em várias entrevistas você diz que foi uma criança bem nerd. É possível citar quais eram/são suas referências?
Putz, cresci nos anos 80, que foi a melhor década da cultura pop (vide todos os remakes), então inclui cinema, quadrinhos, brinquedos, desenhos, etc. Citando algumas, a primeira trilogia do Guerra Nas Estrelas, Rocky, Rambo, os filmes do John Hughes, o X-Men do John Byrne, Cavaleiro das Trevas do Frank Miller, Asterix, Calvin e por aí vai.
7 – Qual a grande diferença do fã de novela para o fã de quadrinho?
Putz, acho difícil generalizar, porque tem fã de novela que nunca leu quadrinho e leitor que não é fã de novela, mas principalmente quando se é criança, as duas coisas podem marcar muito sua infância. Pessoalmente acho que só por você ter que gastar dinheiro, muitas vezes ter que ir atrás de um quadrinho, faz com que ser fã de HQ exija mais dedicação.
8 – Aproveitando. É mais difícil escrever uma história em quadrinho ou protagonizar uma novela?
Mais uma vez, são coisas totalmente diferentes, com processos criativos diferentes e que exigem responsabilidades diferentes. Não digo ser mais difícil, mas escrever uma história, ver ela ser publicada e ter o feedback positivo das pessoas por um quadrinho do qual eu sou autor me dá muito prazer.
9 – Tenho muitos amigos que quando vão para o exterior, não voltam. Ao estudar cinema em Los Angeles, você não pensou em ficar por lá?
Se eu pudesse trabalhar lá fazendo o que eu faço aqui eu teria ficado, mas eu tinha responsabilidades com minha família que eu tinha que cuidar.
10 – Dentre todas as coisas que você já fez e faz, qual é a que mais lhe dá prazer?
No fundo, tanto no trabalho como ator como nos quadrinhos o que faço é contar histórias. O que me dá mais prazer é quando consigo me conectar com as pessoas, fazer com que elas se emocionem, se divirtam, reflitam e depois compartilhem as experiências que tiveram comigo.
11 – O que o Felipe Folgosi, com toda experiência que adquiriu ao longo dos anos diria para o Felipe Folgosi do começo de carreira?
Seja mais paciente e generoso consigo e com as pessoas e não perca a fé. Os problemas passam, a vida é outra coisa.
12 – Para finalizar. Quem é Felipe Folgosi?
Um cara curioso que ainda está descobrindo o que isso aqui.
Felipe. O HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada. Agora o espaço é todo seu, pode deixar seus contatos, endereços para adquirirmos seus quadrinhos, falar sobre seu empreendimento, enfim… Fale o que quiser.
Agradeço a oportunidade e convido aos leitores a conhecerem meus quadrinhos Aurora, Comunhão, Um Outro Dia e Chaos. Todos podem receber as obras devidamente autografadas em suas casas, é só mandar uma mensagem no link abaixo que explico como fazer para adquirir. Obrigado!
Link para adquirir as obras do Felipe: https://www.facebook.com/hqAurora/
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