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HQ’s Entrevista | Marcio Baraldi

As charges são um exercício diário de democracia. – Marcio Baraldi.

O quadrinista mais rock’n’roll do Brasil, esse é Marcio Baraldi. Mas calma, ele mesmo explica os motivos desse título. Ele também fala um pouco sobre o documentário “Sobrou Alguma Coisa no Tinteiro? (Vida e Obra de Eugênio Colonnese)”. Mostra seus personagens e dá alguns pitacos no cenário político nacional.

Então, sem delongas…

1 – Qual o motivo de se envolver com charges políticas?

Primeiro porque eu gosto, tenho vocação para isso. Segundo porque, felizmente, sempre existiu bastante mercado para charge política no Brasil. Praticamente todos os jornais tem espaço pra charge.

2 – Como seus amigos do meio enxergam suas charges? Afinal, sabemos o quão polarizado é esse campo político.

Eu acho que a função da charge não é agradar os amigos ou desagradar os inimigos.

É fazer uma análise bem humorada de uma situação política daquele momento. Charge é jornalismo, não é presente pra agradar ninguém. Mas é claro que sempre existirá quem goste e quem não goste de determinada charge. Faz parte da democracia e da pluralidade de pensamento. As charges são um exercício diário de democracia.

3 – E para não nos estendermos muito nesse campo, qual sua visão política? Acredita em melhora do nosso país nos próximos anos?

Sou um cara de esquerda, que deseja uma sociedade planetária mais justa e humanizada do que a atual. Com base nisso e em tudo que estamos vendo acontecer no Brasil e no mundo, infelizmente não posso acreditar em melhora nenhuma. Pelo contrário, vivemos um momento de muita agressividade e violência no ar e de retrocessos sociais praticamente no mundo todo. E, ao que tudo indica, nos próximos anos a situação só deve acirrar.

4 – No seu site é dito que você é o cartunista mais rock’n’roll do Brasil. De onde surgiu essa paixão pelo Rock?

Sou roqueiro desde moleque. Me identifico com a energia e o espírito contestador e revolucionário do verdadeiro rock. Descobri o rock com o Queen e o Kiss, depois descobri o punk e me encontrei de vez. É verdade que hoje em dia tem muito urubu reacionário travestido de roqueiro. Mas faz parte, cada um ouve o que quiser.

Esse titulo de “cartunista rockn’roll” veio porque desenhei para praticamente todas as revistas de rock do Brasil entre 1996 e 2016. E algumas no exterior também.

5 – “Roko-Loko” e “Adrina-Lina”. Quem são? O que fazem? De onde vieram?

O casalzinho “Roko-Loko” e “Adrina-Lina” foram personagens que publiquei mensalmente na revista Rock Brigade de 1996 a 2014. Além dos quadrinhos, os personagens viraram camisetas, bonecos, quatro livros e um vídeo-game, “Roko-Loko no Castelo do Ratozinger”. Teve bastante público, até hoje tem galera que pergunta dos personagens. Foi um período muito agitado e criativo. Valeu a pena cada minuto.

6 – “Tattoo Zinho”, “Rap Dez”, “Ultravesti”, “Mix Mouse”. Personagens distintos, ideias criativas e ao mesmo tempo malucas. De onde surge tanta inspiração?

Da urgência diária para entregar o material para os editores. Cada personagem foi criado para uma determinada revista e todas tinham prazos apertados, por isso eu tinha que criar personagens rápidos, diretos, sem muita frescura, com papo reto. Personagens que funcionassem bem para o público de cada revista. A necessidade é mãe da ação e a urgência a mãe da inspiração. Cartunista está acostumado a trabalhar sob pressão e contra o relógio.

7 – Existe algum personagem que você gosta mais do que outro?

Não. Gosto de tudo que eu fiz até agora. Cada personagem tem um pouco de mim ou de algum modelo que eu idealizo. Acho que, no fundo, eu tentei, até inconscientemente, idealizar um mundo melhor em todos os quadrinhos que eu fiz.

Acho que o cartum também serve para levar alguma esperança às pessoas ou repartir os seus sonhos com elas.

8 – Falando um pouco sobre “Sobrou Alguma Coisa no Tinteiro”. Quanto tempo você levou para produzir tal obra? Quais são suas expectativas para o documentário?

Há muito tempo eu queria fazer esse documentário, mas na época eu não tinha muita estrutura pra isso. Em 2012 eu criei coragem e fiz, às próprias custas, um documentário sobre o Rodolfo Zalla, outro mestre do quadrinho brasileiro e sul-americano. Com isso adquiri experiência e fiz dois documentários do roqueiro Serguei e um punhado de DVDs da banda Made in Brazil. Aí resolvi encarar o do Colonnese, comecei a gravar lá pra 2015. Aí veio o golpe, todo mundo começou a quebrar e eu dei um tempo. Retomei em 2018, terminei de editar e lancei agora, em dezembro. Em 2018 completou-se dez anos do falecimento do Colonnese, então acho que foi uma data boa pra soltar o documentário.

Minha expectativa é que as pessoas (re)descubram a obra do Colonnese e não o deixem cair no esquecimento. A intenção do DVD é essa.

9 – Quais são seus projetos para o futuro?

Em primeiro lugar espero que haja futuro (risos). Eu, o Carlos Rodrigues, o Franco, o Kendi e o Roberto Guedes, estamos lançando um punhado de livros importantes pra HQ nacional. Fizemos a biografia do Gedeone, e estamos produzindo as do Luchetti, do Minami e do Edmundo Rodrigues. Além de resgatar obras clássicas do Osvaldo Talo, Paulo Fukue, Claudio Seto, Ignacio justo e outros veteranos de guerra da HQB. Também estou editando meu próximo DVD, “A Era de Ouro do Quadrinho Brasileiro”, que vai contar a história da HQB nos anos 60 e 70, através dos mestres que viveram aquele período.

10 – Duas perguntas em uma. Qual seu maior sonho dentro da profissão? E se você pudesse mudar algo nesse meio, o que seria?

Acho que meu maior sonho é que tivéssemos uma indústria de Quadrinhos e animações forte no Brasil. Que gerasse emprego para todos os profissionais e conquistasse os 210 milhões de habitantes do Brasil, transformando-os em consumidores de sua própria cultura ao invés da de outros países, como, infelizmente, tem sido até hoje.

Mas para isso muita coisa tem que ser feita: uma regulação da mídia, educação e politização da sociedade, erradicação do analfabetismo, altos investimentos na educação pública, geração de empregos, salários dignos para que todos tenham poder de compra e consumo. Enfim, justiça social, que é tudo que não temos no momento e, ao que tudo indica, não teremos tão cedo.

Essas são as mudanças que o Brasil e boa parte do planeta precisam, mas eu não tenho poder pra mudar isso. Sou apenas um cartunista.

11 – Jogo Rápido.

Personagens preferidos?

Qualquer um que seja bem escrito, bem desenhado e faça rir.

Filmes preferidos?

Todos esses filmes que mostram quão terrível pode ser o futuro da Humanidade, como “No mundo de 2020” (Soylent Green, 1973) ou “A Estrada” (The Road, 2009).

Melhor livro?

Os de História e Ciências.

Matérias tão desprezadas atualmente.

Melhor herói nacional?

Getúlio Vargas e Lula

Uma banda nacional e uma internacional.

New Model Army e Legião Urbana.

12 – O que o Marcio Baraldi com toda experiência que adquiriu ao longo dos anos diria para o Marcio Baraldi do passado?

“Obrigado. Graças a você é que estou aqui hoje!”

13 – Para finalizar. Quem é Marcio Baraldi?

Um bom sujeito. Nem o melhor nem o pior.

14 – Deixe todos os seus contatos e locais onde os leitores poderão comprar seus trabalhos.

Conheçam mais meu trabalho aqui: www.marciobaraldi.com.br

E comprem-no aqui: www.comix.com.br

Marcio Baraldi, o HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada,  e se você quiser falar alguma coisa, essa é sua hora.

Muito obrigado, eu que agradeço. Ajudem a perpetuar a memória do Zalla e do Colonnese, comprando seus DVDs.

Sempre em frente!

Não deixe de conferir. 

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