Tenho certeza que você já ouviu falar de Bukowski. Se não ouviu, já leu algum texto ou frase dele, mesmo que não saiba.
Seus textos ganharam o mundo. Suas frases viraram tuítes e posts no Facebook. O fato é que Bukowski escreveu contos e poemas e ficou conhecido pela sua forma grosseira de escrita. Não poupava palavrões e situações que envolviam apostas, sexo e bebedeiras. Talvez por isso ele seja tão adorado e odiado.
Com o velho safado é 8 ou 80. Você não gosta dele no meio termo.
Sua história começa lá em 1920, em Andernach, na Alemanha. Ele é filho de Heinrich Bukowski (soldado americano) e de Katharina (jovem alemã), mas na Alemanha nem viveu muito. Aos três anos se mudou para Baltimore, nos Estados Unidos. Depois foram para um subúrbio de Los Angeles.
Em Los Angeles ele foi criado em meio à pobreza, por lá viveu 50 anos. Onde apostou, embriagou-se e viveu com diversas mulheres. Seu primeiro conto foi publicado aos 24 anos de idade. Só aos 35 começou publicar poesias.
Diversas vezes ele foi internado com hemorragia, tudo em decorrência do abuso do álcool e dos cigarros.
Aos poucos foi ganhando notoriedade ao publicar contos em jornais como “Open City” e “Nola Express”. Mas nem só de contos viveu Bukowski. Ou melhor, ele quase não viveu disso. Teve que trabalhar nos correios por 14 anos para se sustentar. No meio dessa jornada ele se casou e teve uma filha (Marina Louise Bukowski), após um tempo acabou se separando.
Em grande parte de seus textos, sua vida é exposta. Os temas são bem crus, não existe muita estrutura e temas como: prostituição, apostas em corridas de cavalos, bebedeiras, sexo, escatologia e tudo que há de mais vil estão lá.
Ao longo de sua vida publicou pouco mais de 45 livros entre poesia e prosa. Não consegui levantar o número correto, pois muita coisa se perdeu. Mas sabemos que romances foram seis: Cartas na Rua (1971), Factótum (1975), Mulheres (1978), Misto-Quente (1982), Hollywood (1989) e Pulp (1994).
Dentre os livros citados, eu tive o prazer de ler 5 deles. Ainda não li Hollywood.
Ele também publicou livros de contos e histórias: Ereções, ejaculações e exibicionismos (1972), Ao sul de lugar nenhum (1973), Tales of Ordinary Madness (1983), Numa Fria (1983), There’s No Business (1984) e Septuagenarian Stew (1990).
Livros de poesia são mais de 30, grande parte permanece inédita no Brasil.
Acabou morrendo de pneumonia, decorrente de um tratamento de leucemia, na cidade de São Pedro, Califórnia, em 9 de março de 1994, aos 73 anos de idade.
Mas, falando sua biografia assim, que sua infância foi difícil e que seus textos são “sujos”, você, que não sabe sobre ele, pode se perguntar. O quão difícil e o quão sujo pode ser?
Pois bem. Se quiser começar ler sobre o velho safado, comece com “Misto-Quente”, é lá que conhecemos Henry Chinaski, alter ego de Bukowski, e vemos com clareza todos os ocorridos de sua infância.
“Ele (pai de Bukowski) pegou o amolador da navalha que estava pendurado em um gancho. Seria a primeira de uma série de surras que viram a ocorrer com mais frequência.”
Bukowski apanhava por tudo. Em um trecho do livro ele é obrigado a cortar o gramado de casa, ao terminar, seu pai se ajoelha e nota que existiam fiapos de gramas maiores que outros. Pronto, isso bastou para que outra surra fosse dada.
Misto-Quente percorre todos os pontos positivos e negativos de sua infância, com foco maior nas coisas ruins. É ali que vemos seu problema com as espinhas e como ele era ruim em se relacionar com outros.
Factótum “é uma sequência”, nele temos uma visão sobre sua fase adulta. Nessa época ele foi considerado inapto para o serviço militar, então, enquanto os Estados Unidos levavam seus soldados para guerra, Bukowski percorria o país em busca de emprego.
No livro, sua relação com os pais pouco mudou, ele já não vivia mais na casa deles, mas foi obrigado passar lá um tempo. Nessa época, após chegar bêbado em casa e vomitar, seu pai iniciou uma discussão e tentou bater nele. Só que dessa vez…
“Ele me agarrou pela nuca. Começou a me empurrar para baixo (…). Queria me pôr de joelhos.
– Vou lhe ensinar.
– Não..
(…)
– Vou lhe mostrar como fazemos com os cachorros!
Ergui-me do chão com o soco pronto. Um golpe perfeito. Ele retrocedeu toda a distância da porta até o sofá, onde caiu sentado.”
Uma relação conturbada, sem dúvida. Mas tudo na vida dele era assim. Creio que esse trecho defina bem quem era Charles Bukowski.
“Não conseguia achar disposição para ler os classificados. A ideia de me sentar diante de um homem e sua mesa e lhe dizer que eu queria um trabalho, que eu tinha as qualificações necessárias, era demais para mim. Francamente, eu estava horrorizado diante da vida, o que um homem precisava fazer para comer, dormir, manter-se vestido. Então fiquei na cama enchendo a cara. Quando você bebe, o mundo continua lá fora, mas por um momento é como se ele não o trouxesse preso pela garganta.”
Posso dizer que, ao ler Misto-Quente, você já vai saber se prossegue ou não em sua obra. Como disse, é 8 ou 80.
Cartas na Rua e Mulheres são duas obras belíssimas também. Quero dizer, belíssimas para quem gosta desse estilo autobiográfico. No primeiro vemos como foi seu trabalho nos correios, no segundo vemos suas dezenas de casos.
Considerado o último escritor maldito, ele transcreveu tudo o que passou. Eu não posso falar mais. Está tudo nos livros. Vai lá e delicie-se.
Fonte do texto: L&PM
Imagens: Google Imagens.
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“Eu era um homem que se fortalecia na solidão; ela era para mim a comida e a água dos outros homens. Cada dia sem solidão me enfraquecia. Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia. A escuridão do quarto era como um dia ensolarado para mim.”