Miserável país aquele que não tem heróis (Bertolt Brecht).
Diário de Bordo: Rio de Janeiro, 2019… Após crescer consumindo uma série de filmes de heróis, que de maneira alguma representam a realidade tupiniquim, eis que surge a oportunidade de assistir ao filme O Doutrinador. A expectativa é grande, pois, trata-se daquele tipo de herói que sai das páginas de quadrinhos, e para além de todas as coisas, sua história foi construída por um brasileiro, os vilões são tão reais quanto aqueles que votamos nas últimas eleições, e nos deparamos com um herói necessário para toda uma conjuntura estabelecida nesse país tropical, quiçá, abençoado por Deus…
O filme traz consigo uma série de questões que podem ser problematizadas, no entanto, o que se torna latente, é o fato de que tal uniforme poderia ser usado por qualquer um de nós, qualquer brasileiro cansado dos problemas que se apresentam em torno de saúde, corrupção, e principalmente lideranças políticas. O estopim para as ações heroicas, está na morte da filha do protagonista (se leu as HQs estará pode dentro do assunto), e a ausência de amparo para uma criança que foi baleada em meio ao espetáculo de torcer para o país do futebol. O herói, amargurado pela caótica situação que passou, e na qual o país está afundado, resolve bater de frente com o sistema, não levando em consideração o perfil de santidade que alguns heróis possuem, ou seja: Eu prendo o bandido, ele vai para a cadeia, e pagará por suas ações.
O protagonista, quase um discípulo de Maquiavel “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, fazê-lo de uma vez só”. Se apresenta diante dos responsáveis pela destruição da nação (os políticos), e “bota pra quebrar”, levando-os a morte, pois, o Doutrinador, não acredita mais no sistema, nos partidos políticos, em governantes…
No exercício de não revelar muito sobre o filme (missão difícil), trata-se de uma história interessante para ser vista por fãs de heróis e pelos pobres mortais (aqueles que não compreendem muito de cultura pop), ou seja, ao assistir tal filme, seus pensamentos flutuam entre a ideia de que “eu faria o mesmo”, ou “ele foi longe demais”.
Vale lembrar que no segmento heróis, e suas narrativas cinematográficas, o Brasil ainda está engatinhando, quem sabe, a partir de o Doutrinador, poderão ser construídas outras narrativas, de heróis que se assemelham aqueles famosos que conhecemos desde a infância, porém, que possam ser reconhecidos como parte da identidade nacional, pois, caros amigos, “Aqui é o Brasil”.
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