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Blue Jay, uma história sobre seu primeiro amor

25 de janeiro de 2017 foi quando escrevi uma pequena Opinião com Café” do longa Blue Jay. O tempo passou, minha forma de escrita e compreensão dos fatos mudaram, o que não mudou foi o apreço pelo filme.

Pois bem, fui ler o texto que havia escrito e notei que ele tentava passar informações técnicas sobre o mesmo. Coisas como planos de câmera, atuações e cenários. O fato é que já faz um tempo que parei com isso. Sempre procuro ver o que a obra tem para nos ensinar. O que de fato é passado ali, com sentimentos e emoções.

Blue Jay fala sobre o primeiro amor. O primeiro amor, segundo Jim Jinkins, criador do desenho Doug: “Não acontece porque, realmente, a maioria das pessoas não acabam com seu primeiro amor”. 

Eu complementaria dizendo que no momento do primeiro amor não estamos prontos. Aliás, nós nunca estamos prontos para nada. Imagine para o primeiro amor.

Nesse momento quero que você olhe para trás. Lembra dela, então… eu sei.

Blue Jay é sobre isso. Jim (Mark Duplass) e Amanda (Sarah Paulson) foram namorados há muito tempo. Por circunstâncias da vida eles se separaram, como sempre ocorre. Mas aqui acontece um fato. Décadas se passaram e eles se esbarraram sem querer. Nesse momento aquelas emoções afloraram.

Note que falei sobre emoções e não sentimentos.

As emoções ali foram grandes. O passado relembrado…

É incrível como nos apegamos aos fragmentos de lembranças passadas. Creio que seja por isso que um filme despretensioso seja tão incrível. Relembrar de tempos que já foram é relembrar de vida vivida. Quanto mais velho, mais nostálgico. Isso é bom, acredito. Algumas vezes relembramos aquele tempo e até imaginamos que ele tenha sido melhor do que foi.

Mas o toque especial em Blue Jay não são só as lembranças. O passado, apesar de ter uma aparência doce, por vezes é amargo. O relacionamento do casal não deu certo por algo que deixarei o filme contar para você. E esse fato também é exposto.

Depois da discussão, maduros, com vários anos na bagagem, a decisão teria sido outra. Mas não dava mais tempo. O que passou, passou…

Aqui se encaixa um trecho que gosto muito do livro “Trem Noturno para Lisboa”

 

“Agora finalmente pareço saber o que sempre me empurra a vir visitar a escola: quero voltar àqueles minutos no pátio em que nos livramos do passado sem que o futuro tivesse começado ainda. O tempo parou e segurou a respiração como nunca mais haveria de fazer depois. Seriam os joelhos morenos de Maria João ou o perfume do sabonete em seu vestido claro aos quais quero voltar? Ou se trata do desejo — o desejo patético, de sonhos — de voltar àquele ponto da minha vida e tomar um rumo bem diferente do que aquele que fez de mim o que sou agora?
Há algo de estranho nesse desejo, ele tem sabor de paradoxo e uma lógica incomum. Pois a pessoa que experimenta esse desejo não é a mesma que se vê diante da encruzilhada, ainda intocada pelo futuro. Muito pelo contrário, é a pessoa marcada pelo futuro já percorrido e que se tornou passado, a pessoa que deseja voltar atrás para revogar o irrevogável. E como poderia revogá-lo se já não o tivesse vivenciado?”

 

Mudar o que não tem mais jeito. Mudar algo que já vivemos, mas se mudássemos, não seríamos mais quem teve o desejo da mudança, e como poderíamos mudar se já vivemos aquilo tudo?

Blue Jay é um filme pacato, com dois atores e uma história de vida. Uma história que poderia ser minha ou sua. Uma história que mostra que em tudo nós temos que seguir em frente.

Nossa vida não tem um caminho plano. São altos e baixos, mais baixos em alguns momentos. Por isso é tão necessário nutrir coisas boas. Mesmo que elas não tenham dado certo é importante parar por uma noite, como fizeram Jim e Amanda, e lembrar de tudo que passou. Imaginar o que teria acontecido se os caminhos fossem diferentes e, no fim, seguir em frente, afinal, é o que fazemos.

Não deixe de conferir.

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