Lancelott nasceu no ano de 1958, em Parnaiba (PI). Formou-se em Administração de Empresas e Teologia. Lancelott ainda atua como desenhista, roteirista, web-editor e pesquisador de quadrinhos. Oriundo do movimento dos fanzines na década de 80, com várias produções virtuais e impressas, autor dos personagens: EXÚ, SETE ESTRELAS e CATALOGADOR, este último, liberado para utilização por todos os quadrinistas, como forma de interagir nos diversos Universos Independentes sem provocar descontinuidade. Atualmente, lança impressa e em fascículos, sua obra de 10 anos de pesquisa denominado Catálogo de Heróis Brasileiros, onde registra/cataloga personagens dos idos 1900 aos dias atuais, publicados em diversas mídias e regiões do Brasil.
Deu para notar que: Lancelott Martins é, sem dúvida alguma, uma das pessoas que mais ajuda no crescimento dos quadrinhos brasileiros. Com diversos heróis criados e uma coletânea que reúne os heróis mais importantes do nosso cenário, Lancelott não só conquista seu espaço no cenário nacional, mas dá oportunidades para outras pessoas crescerem.
Então, sem mais delongas…
1 – Lancelott, como você começou fazer quadrinhos?
Bem… isso já faz algum tempo. Eu, como toda criança que lia quadrinhos, no início da década de 60, curtia muito as produções da DC, da Marvel, da King Features, publicadas aqui no Brasil, e minhas inspirações foram então: Ray Moore, Bob Kane, Raymond, Foster e comecei daí meu gosto e paixão por quadrinhos.
2 – Consegue me dizer quantos personagens já criou?
Não foram muitos… São criações mais circunstanciais, voltadas para algum tipo de tema e/ou situação. Acho que os mais importantes chegam a 5 ou 6 personagens.
3 – De onde surge tanta inspiração para criação de seus heróis?
A inspiração sempre é arquetípica… Ela tem fundo em algo que você conhece, ela se espelha na sua memória icônica, do universo que lhe é peculiar, culturalmente… Penso que seja assim , toda inspiração. Todos meus personagens tem uma veia fundada em algo que o precede, por exemplo, EXÚ vem da religiosidade, o CATALOGADOR veio de minha necessidade de extrapolar meu próprio trabalho de pesquisa, SETE ESTRELAS vem do regionalismo nordestino e seus mitos…
4 – Bom, então vamos focar nesses três personagens. Primeiro, quem é o “Catalogador de Universos”?
O Catalogador como fonte de inspiração, originou-se do aspecto do meu trabalho, que era pesquisar e registrar criações e PUFT!, surgiu o personagem já em 2010 nas mídias sociais como o Facebook, Google+ e blogs, adquirindo um fandom fantástico. O personagem foi criado para ser uma espécie de “elo de ligação” entre os vários Universos Independentes, que na verdade seriam os microcosmos de cada autor, onde são desenvolvidos suas histórias e seus personagens e que quase sempre são fechados em sí, com seu início meio e fim. E nesse particular o Catalogador poderia facilitar esta inter-relação com os outros personagens, possibilitando encontros que não alterasse o que cada autor teria planejado para seu herói dado a sua condição cósmica de imiscuir-se nestes “universos” sem ferir estas continuidades. Por exemplo, poderia possibilitar “encontros” entre personagens do futuro e do passado, de cidades fictícias e cidades reais sem alterar o satuts quo de cada um.
5 – Poderíamos dizer que ele é o personagem que tem mais possibilidade de fazer crossover no mundo?
Sim… como falei antes, por estas características, é justamente para poder provocar esta sinergia entre os autores independentes…
6 – E sobre o “Sete Estrelas”, quando surgiu a ideia de transformar um vaqueiro do Piauí em herói?
Ah… este é meu xodó! SETE ESTRELAS/Jose Sivirino, veio da mítica e suas crenças nas estrelas, na religiosidade inocente do povo nordestino. Ele é era um vaqueiro que foi sacrificado por questões de terra, toda sua família foi trucidada na década de 30 e sua crença nas estrelas lhe deu esta condição de vingança e um propósito muito maior. As “estrelas” na verdade eram bem mais do que à sua pequena crença imaginava… Foi uma criação da década de 80.
7 – Acredito que o “Exú” seja seu personagem mais “polêmico”. Ele não é mal interpretado por causa do nome?
Sim… O personagem é oriundo da religiosidade afro, mais especificamente do Candomblé. Foi uma criação da década de 80 e naquela época, o nome “Exú” sempre foi ligado a “demônio”, “macumba”, estas coisas abominadas pela a maioria das pessoas como se fosse algo satânico… Era publicado em meu fanzine O Querela, nos anos 80, e realmente você tem razão, não foi bem visto…
8 – Aproveite e nos conte um pouco sobre a origem desse personagem.
Bem, uma das minhas formações é Teologia, e fui buscar no Candomblé esta inspiração… A religiosidade africana é muita densa e centrada na raiz da tradição familiar e o culto dessas crenças são bem pessoais… Os deuses no Candomblé compõem um panteão, como o mito dos deuses gregos ou escandinavos, por exemplo: Exú é de 80, quando eu fazia fanzines, e um deles, O QUERELA, tinha uma linha com personagens míticos, mais na linha das lendas populares locais. Foram publicadas 36 edições. Tinha quadrinhos, entrevistas e matérias afins. O EXÚ surgia na edição de número 7, por isso EXÚ 7, sem qualquer relação com qualquer outra forma religiosa ou de culto. Nas histórias e nos diálogos sempre foi simplesmente EXÚ. Como sou adepto do Candomblé a denominação de EXÚ, refere-se ao orixá, o deus afro que guarda todos os caminhos, isto é, nenhum outro deus orixá sai ou entra sem o conhecimento dele (uma espécie de Heimdall)… Mais tarde, por causa da palavra sete, muitos confundiram com EXÚ na Umbanda, que é outra coisa, são falanges de várias denominações de entidades EXÚS (que devem ser respeitados), que são divididas em 7 linhas mas, EXÚ, aqui o personagem, é o deus Orixá.
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Calma, a entrevista ainda não acabou, se você quiser saber sobre o trabalho de mais de 10 anos de pesquisa denominado “Catálogo de Heróis Brasileiros”, não deixe de acompanhar o HQ’s com Café, dentro de alguns dias voltaremos com a segunda parte desse excelente bate-papo.
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