Respeitável público.
Raphael vem conquistando o mundo. Enrolados, Frozen, Guardiões da Galáxia, Pretty Little Liars, Nanatsu no Taizai… essas são algumas das dezenas de obras nas quais ele já trabalhou. Mesmo com todo esse currículo ele foge da agitação, prefere ficar em casa assistindo uma boa série ou ouvindo seu bom e velho Rock’n’Roll. Venha saber um pouco sobre esse cara que foi “formado” dentro de um circo.
1 – Sabemos que você vem de uma família circense. O quanto ser locutor de espetáculos lhe ajuda em suas dublagens? Aproveitando, nunca rolou uma apresentação de mágica ou malabares?
O fato de ter passado a vida toda em um circo, ajudou não só na dublagem mas em todos os aspectos da minha vida. O Circo é a melhor escola que existe pra um artista, e pra vida também. Aprendemos a lidar com qualquer situação, passamos perrengues, sofremos, nos divertimos. É uma vida dura, mas gostosa. E rolaram sim (risos). Eu era acrobata. Fazia trampolim, acrobacia solo, andava no arame, atirava facas, engolia fogo… (risos). Aprendi um pouco de tudo nos meus 20 anos de circo.
2 – Flynn Rider (Enrolados) foi um ponto de partida para sua carreira de dublador, por razões comerciais seu trabalho ficou restrito apenas para canções e trailers do filme. Como você vê essa questão do dublador profissional ser substituído por artistas (apresentadores e atores) por essas questões de marketing?
Eu acho péssimo! Nunca existiu isso e de um bom tempo pra cá as grandes produtoras insistem em colocar os chamados “Star Talents” para dublar personagens importantes nos filmes. O resultado em 80% dos casos é um lixo. Prejudica a produção, e prejudica a profissão também, que já não é tão valorizada, passa a ser mais desacreditada ainda. Apesar de termos que ser atores para dublar, é muito diferente de atuar, pode ser o ator mais incrível, ele vai chegar na bancada e vai levar uma surra na dublagem, é fato. Por isso existem os cursos, existe uma técnica, quase que uma fluência em dublagem, sem isso são raras as vezes que um trabalho feito por um ator (ou não) famoso, fica bom.
3 – Frozen foi um grande sucesso e você teve a oportunidade de dublar Kristoff e Sven. As crianças conseguem te reconhecer pela voz?
É difícil, minha voz natural é um pouco mais grave, mas quando descobrem é uma alegria só. Me vesti de Kristoff no aniversário dá filha de uma amiga e cantei a música que gravei para o filme, ela ficou perplexa (risos). Foi muito legal.
4 – Quando você recebeu o convite para dublar o Chris Pratt, em Guardiões da Galáxia, um filme que era visto como uma grande aposta da Marvel Studios, com vários personagens desconhecidos pelo grande público. Você imaginou que o filme fosse obter tamanho sucesso?
Nunca! (risos). Eu nem conhecia os Guardiões. Mas foi um grande presente ter passado no teste pra dublar o Chris Pratt nesse filme, não só pelo enorme sucesso do filme, mas pelo grande sucesso que ele começou a fazer, me possibilitando dubla-lo em outras produções também.
5 – E agora, qual a responsabilidade em dublar os Guardiões Vol. 2?
É muito maior, a expectativa do público aumentou agora que já conhecem os personagens. E a minha cobrança com o meu trabalho também. Confesso que tem alguns pontos no primeiro filme que eu não gostei do resultado do meu trabalho, e eu tentei melhorar isso no vol 2. Ainda não assisti, mas acho que ficou bem legal, e o filme é muito divertido.
6 – Como é poder assistir um filme antes de todo mundo e não poder contar nada para ninguém? Já aconteceu de você soltar algum spoiler sem querer?
(Risos) Não, não podemos mesmo. Por questões de contrato, as consequências são pesadas se alguma coisa vaza. Confesso que dá vontade as vezes, mas não rola. E quanto a assistir antes, nós não assistimos o filme na íntegra, só as partes onde o nosso personagem aparece. E o filme não chega finalizado para nós dublarmos também, então no cinema a emoção é como se estivéssemos tendo o primeiro contato com o filme.
7 – Raphael, saindo um pouco da parte dos filmes e indo para o mundo das séries e desenhos. Você já dublou o Ezra em “Pretty Little Liars”. No anime “Nanatsu no Taizai” você fez o vilão Hendrickson. Recentemente você começou trabalhar em Buddy Thunderstruck e nos desenhos dos Guardiões da Galáxia. Por serem trabalhos de maior duração, existe um apego maior aos personagens das séries e desenhos? Ou seu amor é igual por todos?
Tenho um carinho especial por personagens que me divirto mais fazendo, ou pelos que acabam se parecendo comigo em algum ponto. O Ezra por exemplo, é um personagem que adoro fazer e tenho um carinho enorme, já dublo ele há quase 6 anos, é como se fosse um amigo distante que vejo quando vou gravar, (risos). Tive a felicidade de conhecê-lo esse ano, e só aumentou a minha admiração.
8 – Existe uma certa rixa entre quem assiste filmes dublados com os que assistem legendados. Como você encara as críticas ao trabalho do dublador brasileiro? Acha que vocês não são valorizados como deveriam? | Já que o próprio Hugh Jackman idolatrou seu dublador (Isaac Bardavid) recentemente.
Sinceramente, eu acho uma falta de respeito com a profissão que escolhemos para nossa vida. A dublagem tem um caráter tão importante para as pessoas que precisam dela, e é uma arte tão linda que não entendo como ainda existem tantas pessoas que falam mal. Muitos trabalhos de dublagem, de fato, deixam a desejar, pois existem profissionais ruins na dublagem, assim como existe em qualquer profissão, assim também, como existem atores ruins fazendo filmes de Hollywood, mas no geral, a dublagem não deixa em nada a desejar, a nossa dublagem é considerada a melhor dublagem do mundo, e não é a toa que ganhamos esse título. As vezes acho que se tornou cultura falar mal de dublagem e dizer que só assiste legendado, mas eu acho que mais Cult ainda seria defender a dublagem, defender a cultura do nosso país. Em vários países do mundo, só entram no cinema filmes dublados no idioma local, porque as pessoas valorizam a língua, os dubladores, o país, o Brasil só valoriza o que vem de fora, e isso é deprimente.
9 – Para encerrar. Raphael Rossatto, quem é você?
Eita, que difícil. Ah, eu sou um cara normal que acabou fazendo coisas muito diferentes e especiais ao longo da vida, que sempre opta por fazer coisas com amor e não o burocrático e chato só pelo dinheiro ou por status. Sou uma eterna criança, adoro brincar, jogar, colecionar Action Figures. Sou muito amigo, serei parceiro e te ajudarei pelo resto da vida, só não quebre esse elo, porque uma vez quebrado, eu não faço questão de consertar. Troco baladas pela minha cama e uma boa série, e sou Rock n Roll! (risos).
Raphael, o HQ’s com Café não tem palavras para agradecer pela oportunidade, desejamos que você obtenha todo sucesso do mundo. Se você quiser deixar algum recado, essa é sua hora.
Eu que agradeço a vocês pelo espaço, agradeço a todos os fãs também pelas mensagens e pelo carinho de sempre. Continuem me seguindo, seguindo outros dubladores e valorizando cada vez mais essa profissão tão linda e apaixonante. Fazemos tudo com muito amor para o público brasileiro, podem ter certeza que o amor é a base de tudo. Obrigado.
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