Trabalhou na DC Comics, Marvel, Dark Horse, Disney, Image e Hanna-Barbera, no Brasil criou o Quebra-Queixo (além de outros personagens), produziu diversas histórias e abriu sua empresa de artes… “Quanta” coisa, né? Pois bem, hoje temos o prazer de falar com o polivalente Marcelo Campos, aproveite.
1 – Marcelo, de antemão já agrademos a sua participação no HQ’s Entrevista, é uma honra falar com você, e como já é de praxe aqui no site, vamos começar pedindo para que você se apresente ao público.
Bom, atualmente eu sou diretor da Quanta Academia de Artes, que é uma escola de artes em São Paulo, e também sou diretor do Quanta Estúdio de Artes, que presta serviços de ilustração para varias editoras do país. Trabalhei com quadrinhos, como desenhista pra editoras nacionais e norte-americanas, como DC Comics, Marvel, Dark Horse, Disney, Image, etc, também trabalhei com animação pra Hanna-Barbera e Disney e como ilustrador pra editoras nacionais e norte-americanas… acho que é isso.
2 – Um dos motivos dessa entrevista foi nossa curiosidade em saber sobre o Quebra-Queixo, como surgiu a ideia de criar esse herói?
O Quebra-Queixo era um exercício de entender algumas referências que eu curtia, inicialmente eu criei ele como um tipo de detetive noir em um Rio de Janeiro (eu morei lá um tempo) estilizado, meio cyberpunk, meio steampunk, em 1920/1940, inspirado em coisas do Lester Dent, Henry Rider Haggard, Dashiell Hammet, e no livro Naked Lunch, tudo meio misturado com expressionismo alemão do F. W. Murnau, Fritz Lang. Depois eu decidi colocar a coisa todo num futuro maluco, meio distópico, meio Jodorsky, com o Brazil de Terry Gillian, e aí fui misturando uma porrada de referências com o passar do tempo… coisas como Laranja Mecânica, Robocop, O Sentido da Vida, Buckaroo Banzai, Judge Dredd, foi tudo um grande exercício pra entender criação de universo e estabelecimento de estética narrativa.
3 – Fale um pouco sobre a origem e os poderes dele.
Bom, ele é um policial da Força Zero, que é uma força da justiça com “permissão para matar, esmagar, destruir”, concedida pelo Império, o Quebra-Queixo vive em uma cidade chamada Nova Fronteira, que se subdivide em algumas outras cidades como: Crystal Mega-City (onde moram os podres de ricos), Buracópolis (onde vivem os pobres e trabalhadores), Lixópolis (onde vivem os miseráveis) e Nova Fronteira 2 – Space Station, que é, obviamente, uma cidade que orbita a terra exatamente em cima de Nova Fronteira e tudo isso é uma colônia do Império Além-Mar.
A Força Zero tem uma porrada de super-heróis e cada um deles tem um universo próprio e uma área de atuação mais específica, o Quebra-Queixo é o super-herói que é mais livre e pode atuar em várias áreas. Ele foi criado pelo Technotrio, que são uns technomagos que vivem no Technodomo, uma cidadela high-tech em um ponto de fuga dentro do fluxo do espaço-tempo. O Quebra-Queixo é um Technoclone, um ser-humano com DNA alterado, ele é mais resistente, super forte e tudo mais. A personalidade dele é artificial também, é como se ele tivesse sido criado com um personagem pelo Technotrio. Quando ele se fere, existe uma máquina chamada Caixa-Embrião, que começa a clonar os membros ou órgãos, ou o que quer que for, pra substituir nele quando ele voltar da missão… é meio que isso.
4 – Sua participação no cenário nacional e internacional de histórias em quadrinhos é notória, nos conte qual trabalho que você considera o mais importante de sua carreira e qual foi o que você mais gostou de fazer.
Eu acho que o mais importante foi mesmo o da Liga da Justiça pra DC Comics, mas não curto nada que fiz pra DC… aliás, não tenho absolutamente nada do que publiquei nos EUA.
Pros EUA eu gostei muito de fazer uma revista que acabou nem sendo publicada, ela se chamava Death Race 2020, a história era uma continuação do filme B clássico Death Race 2000, de 1975, dirigido por Paul Bartel e produzido pelo genial Roger Corman, achei legal porque conheci e conversava sempre com o Roger Corman, de quem sempre fui muito fã, eu adoro coisas bem trash, o Quebra-Queixo acho que é isso… e trabalhei com o Pat Mills, que também é um roteirista que eu curto, além disso foi um trabalho onde pude fazer um pouco mais o meu estilo, que é mais cartoon, nunca curti o desenho realista, minha linha sempre foi mais pros desenhistas chamados de “estilizados”.
No Brasil com certeza o Quebra-Queixo e uma outra criação minha, o Cão e Gata, que publiquei apenas uma história no álbum da Fábrica de Quadrinhos, uma escola/estúdio da qual eu era sócio-fundador. Ah… e tem uma história de 3 páginas só, com outro personagem meu, o Nego DiBranco, que eu também curto.
5 – Existe algum trabalho que você se arrepende de ter feito?
Não! Nenhum! Acho que tudo é válido e importante, não acredito nesse lance de só fazer o que se gosta. Eu curto fazer trabalhos que também me desafiem a fazer um bom trabalho mesmo que eu não curta, mas não me envolvo “emocionalmente” com estes trabalhos, tanto que não tenho nenhum deles.
6 – Sabemos que você trabalhou na editora Abril, e uma grande curiosidade nos toma, como foi que surgiu a ideia de criar gibis de famosos (Angélia, Xuxa, Faustão…)?
Esses gibis eram produtos da Abril e Globo, eu não me envolvi na criação de nenhum deles, trabalhei como desenhista em alguns, como desenhista e roteirista em outros e também como arte-finalista, mas era mais um produto de editor mesmo.
Achava legal e engraçado trabalhar com estes produtos.
7 – Ultimamente você não anda mais trabalhando com HQ’s, isso ocorre exclusivamente por causa da sua empresa? Aproveitando, nos conte a maior vantagem e a maior dificuldade que você enfrenta tendo que gerir o próprio negócio.
Eu peguei trauma de desenhar, acho que fiz coisas de mais. Não consigo desenhar mais. É meio trauma de guerra (risos), mas meu afastamento veio muito por conta da escola, que foi onde meu prazer começou a migrar. Sinto muito mais prazer em fazer o que faço hoje do que quando era desenhista. Gosto de participar de alguma maneira da formação de outros artistas, e também chegou um momento que realmente não estava conseguindo mais fazer meu trabalho como artista gráfico e ser diretor de duas empresas, era uma coisa ou outra, optei pelo que me dava mais prazer. Mas realmente não consigo mais desenhar.
8 – Tem algum conselho para quem está começando no mundo dos quadrinhos/empresarial?
Bom… na parte dos quadrinhos acho que o mais importante é produzir e estudar. Ler todos os tipos, gêneros, estilos de quadrinhos, não ler só o que você gosta, continue gostando do que você gosta, mas é legal ler de tudo porque sempre você aprende alguma coisa diferente. Sempre. Mostre seus trabalhos e aceite críticas… com o tempo você vai saber diferenciar boas críticas de más críticas, mas isso vem com a experiência. Com vivência e conhecendo o que você curte e quer fazer. Produzir é muito importante, se não ficou do jeito que você queria, não pare, vá fazendo seus quadrinhos até chegarem a um ponto onde você considera aceitável.
Não se deixe levar nem por elogios e nem por críticas muito negativas, nenhum dos dois vale a pena. Fique no meio termo sempre. Nunca ache que você é bom ou está pronto.
Na parte empresarial eu não posso falar quase nada. Não me considero um empresário consciente ou inteligente, vou fazendo as coisas de acordo com o que acredito, geralmente me dou muito mal, mas só sei fazer as coisas assim, então…
9 – Bom, vamos encerrar por aqui, mas antes, como nosso leitor poderá entrar em contato com você?
Olha, eu tenho o Facebook, e os contatos pela Quanta.
Marcelo, agradecemos imensamente o tempo que você concedeu para essa entrevista, se você deseja deixar algum recado ou falar mais alguma coisa, esse é seu espaço.
Eu que agradeço, galera. Valeu o convite.
Leia outras Entrevistas.