Fábio se define como um cara de sorte, só que fomos nós que tivemos sorte por ter sua brilhante voz em diversos personagens que marcaram época. Talvez ele passe despercebido ao seu lado, mas sua voz não.
Então, sem delongas.
1 – Vamos começar com aquela pergunta que você já está cansado de responder. O que o Ash representou para você? E como foi ter que parar de dublar o personagem?
Pra mim o Ash é um marco, uma referência. Trata-se de um personagem que tive o privilégio de acompanhar por mais de quinze anos e que se confunde com minha própria história dentro da dublagem. É o personagem pelo qual sou mais reconhecido. A série transitou por diversos estúdios e métodos de gravação, teve vários diretores, uma verdadeira saga. Parar de fazê-lo é o que considero o fim de certo ciclo, uma ruptura, tanto da minha carreira quanto da minha vida pessoal. Claro que eu gostaria de estar dublando Pokémon até hoje, entendo que seria cada vez mais interessante e potente… mas não gosto de ficar me lamentando. Fiz o possível para continuar, mas sem efeito. Os donos do produto acharam melhor trocar todo o elenco. Vida que segue, certo? Eu poderia ficar horas divagando sobre todo o processo… criar as mais diversas simbologias e afins… mas acho que ficaria chato e extenso demais para esta entrevista. (Não, eu não canso de falar sobre isso.)
2 – Você fez carreira dublando diversos animes (Kuririn de Dragon Ball, Killua de Hunter x Hunter, Ichigo de Bleach, Shinji de Evangelion, Kiba de Naruto…), foi você quem decidiu partir para o lado dos animes ou as circunstâncias da vida te levaram aos personagens?
Circunstâncias da vida. Basicamente em função do surgimento da canal de TV à cabo ANIMAX e o fato deles terem enviado a grande maioria de suas produções para serem dubladas na Álamo, estúdio no qual iniciei minha carreira na dublagem e onde eu mais trabalhava. Naquela época também não haviam tantos dubladores jovens como hoje, então a repetição de atores não ocorre só comigo. Pode ter certeza que meus contemporâneos diretos como Vagner Fagundes, Rodrigo Andreatto e Yuri Chesman dublaram tanto quanto eu.
3 – Sabemos que os fãs de animes são exigentes demais. Você recebe mensagens? Elas são carinhosas ou são de haters?
Recebo algumas mensagens sim, mas não muitas. Todas carinhosas, nunca tive que lidar com um hater (por sorte, imagino).
4 – Você também fez o Doug e o Arnold de Hey Arnold!, qual é a sensação de saber que você faz parte da infância de várias gerações?
Eu acho que não tenho noção certa do tamanho disso… e acho melhor que continue assim. Acho engraçado quando vou a eventos e escuto esse tipo de frase… meu racional automaticamente já me leva para um lado de que o que marcou a vida dessas pessoas foi o desenho em si e não a minha voz particularmente. Entendo que as coisas sejam um tanto indissociáveis e que talvez meu timbre de voz toque uma região muito particular do cérebro de algumas pessoas, uma região de memória afetiva que desperte certas lembranças… isso eu acho bonito… é muito poderoso. Mas, de novo, não considero isso um mérito meu e sim das produções.
5 – Qual seu maior sonho dentro da profissão?
Que a dublagem conseguisse interromper esse processo de autodestruição e sucateamento que vive. Que todos os dubladores e diretores principalmente, praticassem o acordo coletivo por entenderem que é o melhor para todos. Que os empresários vissem os dubladores como parceiros e não como inimigos. Que as pessoas fossem mais cuidadosas com o trabalho. Paralelamente, já faz certo tempo que tento desenvolver um método para atores em dublagem, assim como certas análises sobre a técnica em sí, mas tudo ainda está muito disperso. Se eu conseguir compilar e organizar tudo o que tenho e publicar um dia, será sim a realização de algo que posso chamar de sonho.
6 – Qual é a maior dificuldade que existe para ser dublador?
Dublar. Pra mim isso é o mais difícil. O resto é uma parte que chamo de “política” e essa está cada vez mais fácil. Hoje existem cursos para quem quer treinar e chegar ao mercado preparado, além de estúdios que não se importam com as condições nem com a qualidade do trabalho, então a aceitação e tolerância para trabalhos pífios é muito grande. Desconfio até que seja algo intencional, mas isso já é outra história.
7 – Jogo rápido.
Personagem que mais gostou?
Dr Frogg (Liga dos Supermalvados).
Personagem que mais deu trabalho?
Viewtifull Joe.
Personagem que não fez, mas gostaria de fazer?
Atualmente, Nick e seu monstro hormonal em Big Mouth.
Filmes ou animes?
Indiferente.
8 – O que o Fábio, com toda experiência que adquiriu ao longo dos anos diria para o Fábio do começo de carreira?
Pare de tomar coca cola. Não faça o teste para “Doug”.
9 – Para fechar. Quem é Fábio Lucindo?
Obviamente não vou conseguir responder essa pergunta.
Tentando de maneira rasa e “poética”.
Um estudante.
Um observador.
Um estranho/estrangeiro.
Um cara de sorte.
Fábio, o HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada, e se você quiser falar alguma coisa ou deixar algum contato, essa é sua hora.
De contato quero deixar meu twitter: @fabiolucindo
Eu que agradeço pela atenção e pelo espaço. Podem contar comigo para o que for necessário. Também desejo tudo de melhor para a HQ’s com Café e que um dia possamos tomar tal café pessoalmente.
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