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HQ’s Entrevista | Junior Cortizo (A Tribo)

Ele é fã de Star Wars, tem entre seus quadrinhos preferidos o Cavaleiro das Trevas e Dias de um Futuro Esquecido (notou que é possível gostar da Marvel e DC?), já tem mais de duas décadas no ramo de fazer quadrinhos. Recentemente, em conjunto com Tony Brandão, lançou a excelente história “A Tribo, Perseu & Aline: Carrapato”. Hoje é dia de falarmos com Junior Cortizo.

1 – Vamos direto ao assunto. O que é “A Tribo”? Conte-nos tudo sobre Lynx, Cura, Portal e Volt.

A Tribo é antes de tudo a minha vontade de querer contar histórias. Um meio de tentar alcançar as pessoas com meu ponto de vista das coisas, das injustiças que cercam a gente, daqueles momentos em que a gente percebe que precisa ter fé pra seguir em frente e encarar os desafios e saber que a gente pode sim superá-los. É toda uma alegoria pra nossa vida, um pouco mais fantástica e muito menos perigosa!

Para fazer isso, eu e alguns amigos criamos quando adolescentes essa super equipe de gente diferente uma da outra, e que por influência do que a gente sempre leu e assistiu tem seu poderes, para não chamá-los de mutantes nós os batizamos de Supra Genomas. Então são eles: Lynx, um samurai moderno que pode transformar sua pele em qualquer outro tipo de material que ache adequado à situação, possui visão de raios x e é um colecionador de espadas; Cura, que consegue regenerar seu corpo rapidamente e também curar outras pessoas; Portal, que como o nome entrega é capaz de abrir “atalhos”. Ela usa muito para ter acesso às suas armas não letais; Volt, parceirona da Portal ( as duas são adolescentes ) produz descargas elétricas e as canaliza em forma de raios; Tiborg é extremamente ágil, rápido e forte, além de ter o incrível poder da ironia! Temos também o Puma que é o tanque da equipe, um gigante peludo meio homem e, bem, meio puma! A equipe ainda tem o Pantera, que é um líder nos bastidores e possui poderes mentais; Professor Ladislau que é o pai de Volt e adotou Portal ainda pequena, ele é um cientista brilhante, fornece parte do equipamento ao grupo. Ainda existe uma outra personagem chamada Ultra, é uma transmorfa, mas essa ainda não apareceu em nenhuma HQ.

Eles acabaram se unindo depois que um evento incomum fez com que habilidades especiais despertassem em pessoas do país inteiro, após um hiato desde o período da ditadura, quando se teve registro do último desses Supra Genomas. À partir disso, políticos, empresários corruptos e bandidos comuns se misturam à Dragões chineses, armas com inteligência artificial capazes de transformar seus hospedeiros em zumbis, atentados à bomba em São Paulo, perseguição de carro pela cidade e seres sobrenaturais nas páginas das histórias.

2 – O que os paulistanos comentam quando leem suas histórias?

Tenho tido respostas variadas, mas todas positivas. Geralmente gostam e se surpreendem ao ver que as historias se passam no Brasil, em São Paulo ou no Rio. Identificam lugares, carros, o trânsito da cidade, os políticos que temos…

Fico feliz quando elogiam, claro, pois realmente faço com dedicação. Geralmente uma revista dessa leva no mínimo um ano de produção, temos 3 até o momento, estamos produzindo a próxima para 2018, e nada me deixa mais contente quando peguntam quando sai a próxima. É sinal de boa aceitação.

Pra dizer aqui alguma coisa que apontaram como falha foi o fato de os primeiros gibis não terem uma ficha com os personagens. Algo para que o leitor saiba de cara quem são. Até entendo, pois são muitos personagens, mas achei que poderia ser bacana você entrar na história sem saber mesmo do que eles são capazes e aí ir descobrindo. Como quando se conhece alguém que aos pouco vira seu melhor amigo. Mas estamos corrigindo isso nas edições seguintes.

3 – Recentemente o Tony Brandão me enviou um exemplar de um trabalho vosso (A Tribo, Perseu & Aline: Carrapato). Qual é a dificuldade em criar uma história em conjunto? E qual é o lado mais fácil?

A Carrapato foi o nosso crossover, mas além desse material eu tenho duas edições de A Tribo e o Tony tem uma só com os irmãos Perseu e Aline, mas nada disso seria feito se não fosse o empurrão do meu irmão de coração, o Tony Brandão. Ele que me incentivou a fazer a Carrapato, como nossos personagens são contemporâneos foi até fácil pensar em uma HQ. Também ajudou muito o fato de os dois desenharem e colorirem, pois como a gente decidiu que teriam os dois traços, as páginas iam saindo sem necessariamente um esperar pelo outro. O mais difícil é o tempo para se produzir. A gente usa o tempo livre, e nem sempre dá para fazer o que se quer, por motivos adversos. Ainda não conseguimos juntar um grupo para dividir esses afazeres de cores, balonagem, diagramação e tal, mesmo assim percebemos que hoje é muito mais fácil se fazer uma HQ, imprimi-la ou colocá-la em um site.

4 – Aproveitando, achei bem interessante a história. Os desenhos mantém uma média altíssima e a história é muito bacana. Com tal nível de dedicação empregado, você não acha que o mercado nacional evoluiu bastante? Apesar de não termos um mercado editorial tão presente e, o que eu acho pior, noto certa desunião no próprio meio artístico. Você concorda ou acha que minha visão está equivocada?

Eu acho que temos sim mercado para essas produções, mas também vejo que há uma certa seleção do que se vai comprar, o que seria natural, a gente tem sim de escolher o que quer comprar, mas também é preciso apostar em coisas novas, de outros autores, e não só os de sempre. Eu, como autor independente, que produz, edita, paga a impressão e ainda sai para vender, sofro com a concorrência e pouco visibilidade que o material em si tem, seja por não sermos conhecidos ou mesmo por não termos espaço para apresentar o que fazemos e assim chegar a mais pessoas.

Acho que temos um mercado editorial que tem sim atuado, mas como eles precisam de lucro acabam logicamente apoiando aqueles que acham que vão ter mais retorno. Que dão mais visibilidade. Que são nomes garantidos nos eventos. Que tem mais seguidores e tal.

Agradeço pelo elogio ao material e já digo que as novas estão ainda mais legais. Mais bem produzidas. E isso acontece porque como a concorrência é forte a gente tem de deixar cada vez mais interessante e se aplicar cada vez mais, sendo então os próprios editores do que fazemos. Isso, a meu ver, contribui para a profissionalização dos autores, mas como você citou, acaba por desunir um pouco os profissionais, cada um tem de gastar seu tempo com as próprias obras, dentro dos seus pequenos grupos e participando sempre das mesmas panelas.

5 – As redes sociais apresentam virtudes e defeitos para quem é artista. Em quais aspectos elas lhe ajudam? E em quais atrapalham?

No geral acho que ajuda mais do que atrapalha. Um cara com muitos seguidores hoje é quase certeza de sucesso em vendas. Os haters que essa pessoa pode ter também são bem menos prejudicais, já que são em menor número e acabam não afetando negativamente.

No meu caso, uso para a divulgação, ainda que de forma tímida, mas consigo chegar num pessoal que nunca saberia da existência dos meus gibis. Sites como o seu também são essenciais para o mercado, pois ajuda muito à divulgar, suas críticas também podem influenciar muito em como o leitor olha para algo novo, fazendo com que ele dê uma chance para aquele material, que às vezes ele poderia encaixar em alguma categoria que jamais lhe interessaria.

Sempre vai ter quem é contra qualquer movimento e o quadrinho nacional não é exceção. E a internet, como a gente bem sabe, dá voz e coragem para qualquer um. O quadrinho que faço, já percebi, acaba virando nicho do nicho pois são automaticamente comparado ao comics americanos e muitas vezes essa relação acaba por diminuir o material que é feito. Como se a gente tivesse que fazer algo que fosse a “cara” do Brasil. Mas o que seria a cara de um país tão heterogêneo quanto o nosso?

6 – Junior. Você tem mais heróis? Ou projetos futuros?

Olha, heróis, como descrevi na Tribo, não faltam. Mas também tenho vilões que não são necessariamente vilões. Estão apenas com um ponto de vista equivocado.

E isso eu pretendo mostrar nas próximas edições, Carrapato – Estágio 2 e A Tribo 3. Fora esses tenho planos para contar outras histórias, com outros temas, como terror e aventura, além de alguns crossovers futuros. Muitos amigos com personagens super interessantes estão junto comigo tentando cavar uma brecha e mostrar que dá para se contar e produzir ótimos materiais.

7 – Se você pudesse mudar uma coisa no leitor de quadrinhos, o que seria?

Eu sou leitor de quadrinhos e gosto de qualquer tipo de gibi, desde que ele tenha no mínimo um desenho legal ou uma boa história. Se tiver os dois aí é um combo! Então eu gostaria que o leitor de quadrinhos desse uma chance para outros autores que não conhece, pois ele pode se surpreender de uma maneira muito positiva!

8 – Jogo rápido.

Qual foi o primeiro quadrinho que te deixou fascinado por esse universo?

Vou tirar mônica e mickey dessa e culpar logo o Conan!

Melhor quadrinista brasileiro?

Olha, aqui é difícil, pois esse tipo vem brotando a cada dia! Realmente não tenho um, são vários que admiro. Injusta essa pergunta aí!

Qual seu quadrinho preferido?

Vou colocar aqui dois dos últimos que li: Santos, Um Time dos Céus e Resistente 3. São meus preferidos do momento. Você precisa pluralizar essas perguntas! Tem outros que sempre leio também como WE3, Cavaleiro das Trevas, Dias de um Futuro Esquecido…                                                                                           

Melhor filme?

O Império Contra Ataca.               .

Melhor Livro?

Invasores de Corpos, de Jack Finney.

9 –  Para finalizar. Quem é Junior Cortizo?

Sou paulista, ilustrador publicitário faz uns 20 anos, mas sou quadrinista a mais tempo. Junto com uns amigos montamos um estúdio chamado Estudiorama e lá, quando me sobra tempo, faço o que realmente gosto e recomendo à todos. Dedico um tempo para meus sonhos.

Agradeço demais a chance de falar (e eu falo pacas!) e fico ainda mais feliz por ver que uma ideia nossa causou esse interesse por parte de vocês!

Deixe os contatos onde os leitores poderão adquirir suas histórias e falar com você.

São três revistas em formato americano e totalmente coloridas que temos até o momento:

Carrapato, 96 páginas de muita ação, super poderes, gore e areia.

A Tribo 01 e A Tribo 02, 44 páginas cada, com uma pequena amostra que como dá pra ter historias de ação e aventura no Brasil.

Para ver um pouco mais acesse: http://atribohq.blogspot.com

E meu e-mail para contato é : [email protected]

Junior, o HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada. Obrigado!

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