Trem Noturno para Lisboa foi um livro que me deixou fascinado. Na primeira parte do post eu já destaquei 5 trechos no qual Amadeu faz profundas reflexões. Mas uma obra dessa magnitude não pode ter apenas 5 trechos destacados. Então irei separar mais 5 momentos que esse livro me deixou reflexivo.
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É incrível como existe gente que não consegue tomar suas próprias decisões. Gregorius, aos 57, conseguiu.
“Gregorius se virou e começou a caminhar lentamente em direção à ponte de Kirchenfeld. Assim que a avistou teve a sensação, tão inquietante quanto libertadora, de que agora, aos 57 anos de idade, estava finalmente prestes a tomar as rédeas de sua própria vida.”
Pela primeira vez era ele quem estava no comando. E fica o questionamento. Quantas vezes você já esteve no comando?
Nietzsche já dizia: “Pois quem não tiver para si dois terços de seu dia é um escravo, seja ele quem for”. Tudo bem, você pode até não concordar 100% com Nietzsche, existem alguns momentos que não temos dois terços de nosso dia. Mas que faz todo sentido, faz. Gregorius viveu uma vida monótona, se dedicou ao serviço de corpo e alma, viveu um casamento que não era dos melhores, mas não desfrutou sua vida, não teve ambição, apenas foi levado. Isso, infelizmente, acontece com grande parte da população.
“Trabalhamos em empregos que odiamos para comprar porcarias de que não precisamos”. – Clube da Luta.
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Um pouco adiante o autor nos conta o que deixava Gregorius transtornado: “Geralmente o que o deixava arrepiado era o mero fato de que as transformações nas expressões faciais testemunhavam o passar indelével do tempo e a decadência sem piedade de tudo o que existe.”
Pegue uma foto de algumas décadas atrás, não olhe apenas em como você era jovem, mas repare todo o cenário… é, o tempo muitas vezes é um remédio, mas em sua maior parte ele é inclemente.
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Em um dos vários pensamentos de Amadeu ele também fala sobre o tempo: “Qualquer instante pode ser o último. Sem o mínimo pressentimento, no mais completo desconhecimento, vou transpor uma parede invisível atrás da qual não existe mais nada, nem sequer a escuridão. O meu próximo passo pode muito bem ser o passo através dessa parede. Não seria ilógico sentir medo disso, uma vez que nem vou mais vivenciar esse súbito apagar e sabendo de antemão que tudo é assim mesmo?”
Para traduzir esse trecho deixo com você um vídeo sensacional…
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Em um dos trechos mais marcante, Amadeu do Prado fala sobre sua vida, sobre suas escolhas, sobre seu destino…
“Agora finalmente pareço saber o que sempre me empurra a vir visitar a escola: quero voltar àqueles minutos no pátio em que nos livramos do passado sem que o futuro tivesse começado ainda. O tempo parou e segurou a respiração como nunca mais haveria de fazer depois. Seriam os joelhos morenos de Maria João ou o perfume do sabonete em seu vestido claro aos quais quero voltar? Ou se trata do desejo — o desejo patético, de sonhos — de voltar àquele ponto da minha vida e tomar um rumo bem diferente do que aquele que fez de mim o que sou agora?
Há algo de estranho nesse desejo, ele tem sabor de paradoxo e uma lógica incomum. Pois a pessoa que experimenta esse desejo não é a mesma que se vê diante da encruzilhada, ainda intocada pelo futuro. Muito pelo contrário, é a pessoa marcada pelo futuro já percorrido e que se tornou passado, a pessoa que deseja voltar atrás para revogar o irrevogável. E como poderia revogá-lo se já não o tivesse vivenciado?”
A sensibilidade empregada nesse trecho não pode ser traduzida nem por um milhão de palavras ou, seria você, uma pessoa que nunca olhou para trás e se questionou se o que você se tornou seria o mesmo com outras decisões?
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Para fechar vou deixar uma fala de Gregorius, fala essa que não precisa de explicação: “Havia pessoas que liam e havia as outras. Era fácil distinguir se alguém era leitor ou não. Não havia maior distinção entre as pessoas do que esta. As pessoas ficavam admiradas quando ele afirmava isso e algumas sacudiam a cabeça perante tal bizarrice. Mas era assim mesmo. Gregorius o sabia. Sabia-o simplesmente.”
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Todas as imagens foram retiradas do filme dirigido por Bille August.