Ele é admirador declarado de Stan Lee e Jack Kirby, prestou serviços para diversas editoras, é criador do Meteoro, tem seu próprio selo editorial… bem, são mais de 30 anos de trabalho, falar brevemente de cada coisa que ele fez não vai adiantar, então nada melhor do que você apreciar as histórias desse brilhante quadrinista brasileiro.
Roberto. Você é considerado um ícone do quadrinho nacional. Como você se sente ao ler matérias envolvendo seu nome com os mais diversos adjetivos?
Fico muito satisfeito quando constato que o meu trabalho é apreciado e reconhecido pelos leitores e colegas de profissão. Mas não me vejo como um ícone.
Você dedicou grande tempo em pesquisas envolvendo Stan Lee e Jack Kirby para produzir suas obras (Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis | Jack Kirby – O Criador de Deuses). E nós sabemos o quão fã você é de Stan Lee e seus trabalhos. Podemos dizer que você conseguiu trabalhar com o que realmente ama?
Sim. Trabalhar com quadrinhos sempre foi o meu ideal. Escrever livros, editar revistas e roteirizar HQs são as coisas que eu sempre sonhei em fazer. No começo, lá atrás nos anos 1980, trabalhar com quadrinhos era uma atividade paralela, mas depois acabou se tornando a minha profissão. Nesses anos todos já prestei serviços para várias editoras, como a Europa, Panini, Mythos, Opera Graphica, Ediouro, Minuano, Escala, Ninja etc. – e até mesmo para algumas estrangeiras.
Aproveitando. Em muitos locais existem a comparação de criações da Marvel e DC. Muitas delas apontam “cópias” de personagens entre as duas editoras. Sendo que algumas envolvem o nome de Stan Lee. Qual sua opinião sobre o tema?
No que diz respeito aos super-heróis, trata-se de um gênero com quase cem anos e milhares e milhares de publicações. Portanto, é natural que existam personagem parecidos, temáticas semelhantes e reciclagem de conceitos. Plágios acabam surgindo nesse balaio também.
Continuando em Marvel e DC. Você nota uma certa queda de qualidade nas publicações das editoras? Vejo que com o passar dos anos elas andam “criando personagens” baseados em personagens já existentes, e isso acaba não satisfazendo o público. Ou você acha que estou equivocado nessa observação?
É um assunto complexo. São vários os fatores que determinaram ou culminaram nessa descaracterização atual dos super-heróis. Descaracterização promovida por gente (editores e roteiristas) pouco afeita aos próprios códigos dos quadrinhos. Gente mais interessada no apelo midiático que as HQs possuem, com a finalidade única de expor sua ideologia – qualquer uma – por mais desinteressante que seja para os leitores.
Chega de falar das duas gigantes do mercado. Vamos falar do nosso quintal. Você tem vários livros abordando a história do quadrinho nacional. Qual a evolução que tivemos durante essas décadas?
Em termos artísticos e criativos evoluímos bastante, mas ainda carecemos em termos editoriais. Quer dizer, não temos uma indústria de publicações de massa. Algo nos moldes americanos, japoneses ou italianos. Se bem que, embora o quadrinho brasileiro continue longe das bancas (exceto pelo onipresente Mauricio de Sousa), hoje é possível encontrar muitas publicações em livrarias. Os autores também interagem diretamente com o seu público via redes sociais e até organizam levantamento de fundos para lançarem seus trabalhos. Acho que no final das contas, por esse prisma, é um avanço…
O que falta para virarmos uma potência nesse meio?
As editoras acreditarem no potencial do autor nacional, e traçar uma meta de trabalho.
Roberto, um dos motivos da entrevista foi para saber sobre seus personagens. Quem é o Meteoro? E quem são os Protetores?
São personagens que criei ainda nos anos 1980, e que passaram a ser publicados no comecinho da década seguinte, em revistas independentes. Meteoro teve mais êxito, com várias HQs publicadas, e se tornou o mais conhecido entre os leitores. Inicialmente seria lançado pela Editora Phenix, que acabou fechando as portas antes da revista sair. Mas depois o herói foi publicado pela Editora Escala. Atualmente tem seu próprio título, o Almanaque Meteoro, que é publicado pelo meu selo Guedes Manifesto.
Você se lembra de como surgiu o insight para criação desses heróis? Fale um pouco sobre a origem dos personagens e seus poderes.
O Meteoro é uma mistura de influências que eu queria explorar em forma de quadrinhos. De Tom Sawyer a Homem-Aranha, passando pelas músicas do Ramones e Rolling Stones, e filmes como Grease e Ruas de Fogo (Streets of Fire). Com o tempo, inseri elementos de Teoria da Conspiração, tema que curto bastante. A identidade civil do Meteoro é a do jovem roqueiro Roger Mandari. Um misterioso homem encapotado afirmou que Roger seria o “Campeão do Bem” se aceitasse o “Poder Meteoro” para enfrentar o “Grande Maligno”, um ser terrível enviado pela sociedade secreta Sinarquia Universal para destruir o mundo. Roger só aceitou quando viu que seu pai, Cesar Mandari, e editor do jornal Manifesto Diário, seria assassinado pelos capangas do Encapuzado, o chefe do submundo em São Paulo. Em seguida, uma força avassaladora despencou dos céus e transformou Roger em Meteoro – capaz de voar em velocidade meteórica, detentor de uma força descomunal, e de uma espécie de premonição que o avisa quando entes queridos estão em apuros. Por uma triste ironia, Cesar admira Meteoro e despreza Roger, sem saber que seu filho é o Mascarado Voador. Já os Protetores é uma equipe formada por três amigos aventureiros: Estrela Negra, Montanha e Furacão. Essencialmente se trata da manifestação do meu amor pelas histórias clássicas do Quarteto Fantástico, de Stan Lee e Jack Kirby.
Qual foi o primeiro quadrinho que te deixou fascinado por esse universo?
Eu conhecia os super-heróis Marvel dos desenhos animados (ou desanimados, como costumam brincar), mas só comecei a colecionar os gibis ao saírem pela Bloch em 1975. Meu primeiro gibi Marvel foi Namor 2, escrito por Roy Thomas e desenhado por Sal Buscema. Fiquei fascinado com as tramas mirabolantes e desenhos impactantes. Antes disso, era apenas um leitor eventual de quadrinhos, como os do Fantasma, de Lee Falk, e do Drácula lançado pela editora Taika.
Jogo rápido: Melhor herói nacional?
Chet, o caubói dos irmãos Portela, lançado pela Vecchi nos anos 1980. Tive o privilégio de editar duas HQs do personagem no Almanaque Meteoro. E uma novidade em primeira mão: a pedido de Wilde Portella, escrevi a “última história do Chet”. Ainda está inédita. Só Wilde pode responder quando será publicada e quem será o desenhista.
Melhor escritor nacional?
Admiro vários, mas os meus preferidos são Rubens Francisco Lucchetti e Wilde Portella.
Melhor filme de herói?
Homem-Aranha 2 (do Sam Raimi) e Capitão América: Guerra Civil.
Para finalizar. O que Roberto Guedes gosta de fazer quando não está escrevendo?
Coisas normais: ouvir música, ver uma partida de futebol, jantar fora…
Deixe os contatos onde os leitores poderão adquirir suas histórias e falar com você.
Os interessados podem me contatar pelo Facebook, pelo e-mail [email protected] ou ainda pelo blog guedes-manifesto.blogspot.com.br
Roberto, o HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada, e se você quiser falar alguma coisa, essa é sua hora.
Eu que agradeço a oportunidade de falar um pouco do meu trabalho. Boa sorte para nós todos!
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