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HQ’s Entrevista | Gabriel Rocha (Lagarto Negro)

Tivemos a honra de conversar com o quadrinista Gabriel Rocha. Nessa entrevista ele deixa sua opinião sobre o atual cenário de quadrinhos brasileiros, conta algumas coisas sobre o projeto ALFA e, ainda, nos fala como surgiu a ideia de criar o Lagarto Negro, seu herói.

1 – Gabriel Rocha, o que lhe influenciou para escrever histórias em quadrinhos?

Gostava muito de desenhar e queria ilustrar histórias em quadrinhos, mas na época não tinha roteiros disponíveis e então tive que começar a escrever meus próprios roteiros. Assim comecei estudar o assunto, busquei ler vários livros sobre a técnica para a escrita de roteiros, até que, finalmente, consegui desenvolver meus próprios roteiros.

2 – O Lagarto Negro surgiu em qual época da sua vida? Você pode nos falar um pouco sobre sua ideia de criação, origem e poderes?

Era 1998 e, na época, eu estava na faculdade. Havia uma publicação em bancas que tinha aberto oportunidade para colaboradores. Imaginei o personagem para esta revista, e enviei quatro páginas de amostra (enviei os originais, jamais façam isso!). Recebi uma resposta positiva, mas a publicação deixou de ser editada. Decidi então lançar o personagem em publicação independente, estilo fanzine por fotocópia. O personagem depois saiu em uma outra revista, que foi para as bancas em duas edições entre 1999 e 2000.

Nunca lancei uma origem, embora, em algumas HQs, deixe vestígios dela. O personagem não possui super-poderes, embora eu acredite que esta ausência não descaracterize o gênero dos super-heróis.

3 – Qual o personagem nacional que você mais gosta? E internacional?

Personagem nacional do gênero dos super-heróis que curto mais é o Redentor, do Marcos Franco. Ele parece um quinto integrante do Kiss, com aqueles espinhos do uniforme original, e sua arma de exorcizar demônios! Estrangeiro, eu acho incrível o fenômeno do Kaliman, personagem dos quadrinhos mexicanos. Kaliman afirma ter um bilhão de exemplares vendidos entre 1964 e 1991, e aponta para uma direção diferente do decadente mainstream de sempre. Quem mais vendeu tantas unidades neste período? O filme de 1972 foi recordista de bilheteria no México até pouco tempo. No segundo filme, o personagem vem ao Brasil, um lugar muito exótico (risos).

4 – Sabemos que nossos heróis são praticamente desconhecidos perante o grande público, mas com o avanço da internet as coisas estão mudando um pouco. Em sua opinião, qual seria o caminho que teríamos que trilhar para alcançar o sucesso que os heróis norte-americanos possuem?

Resolver o binômio distribuição e boa divulgação. Além disso, o brasileiro ainda lê muito pouco. Segundo pesquisa realizada pelo instituto Ipsos Mori, em 2016, o Brasil é o sexto lugar em ranking de países mais ignorantes do mundo. Mas a Índia é ainda pior, amarga a primeira posição do mesmo ranking, e ainda assim há quem diga que a Raj Comics alcança tiragens superiores à Marvel e a DC na Índia. Então, a ignorância não é desculpa para brasileiro não ler HQs nacionais. Precisamos olhar mais para exemplos da Índia e do México e descobrir o que podemos aprender com eles. Os mercados Norte Americano, japonês e europeu já não apontam mais direções que interessem tanto quanto os mexicanos e indianos naquilo em que conseguiram alcançar.

5 – Se analisarmos nosso cenário, vemos que o projeto ALFA é gigantesco. Como você recebeu o convite para ceder o Lagarto Negro para esse projeto?

ALFA – A Primeira Ordem não é gigantesco, mas é sim ambicioso. Pretende investir em artistas profissionais, com experiência comprovada em mercado internacional de quadrinhos, e escritor consagrado para promover um grande encontro de heróis brasileiros, incluindo alguns que foram sucesso no passado, na TV, no rádio e nos quadrinhos.
O convite veio por e-mail, pelo Elenildo Lopes. Acreditei na proposta, e não fui o único, pois há uma editora já interessada. Ainda é preciso atingir certo grau de sucesso na campanha do Catarse para chegar lá, então apoie hoje mesmo.

6 – O financiamento requerido no Catarse é de R$ 20.000,00 para o desenvolvimento dessa história. Esse número não é um pouco elevado para os padrões brasileiros? Pois é aquela velha história, heróis nós temos, mas infelizmente ainda não temos um público fiel.

É o valor da equipe criativa contratada para desenvolver o material e da gráfica, além das despesas de correio. O valor do trabalho é caro? No Brasil tem muita gente que acha que sim, mas somos um país que resistiu tempo demais e acabou sendo um dos últimos lugares do mundo a se livrar da escravidão. Desvalorizar o trabalho deve ser um mal cultural decorrente. Na minha opinião pessoal, caro mesmo seria se fosse trabalho escravo. O custo social do trabalho escravo é o atraso, o retrocesso… Acredito que ALFA – A Primeira Ordem busque uma direção diferente. Os custos de produção estão definidos lá na página 😉
Alguns projetos no Catarse conseguem valores baixos, mas a equipe criativa não é remunerada, pois são os próprios autores. Outros cometem erros e acabam não conseguindo cumprir as obrigações no prazo. Acredito que o orçamento da ALFA – A Primeira Ordem buscou ser enxuto e viável para com as obrigações que assume, mas quem pode mesmo falar sobre isso é o Elenildo Lopes.

Desenho: Edvanio Pontes.

7 – Você tem mais algum projeto paralelo ou herói?

Estou colorindo alguns quadrinhos para projetos profissionais e estou também trabalhando em uma edição do Lagarto Negro para 2017.

8 – Gabriel, quem é você?

Só um cara.

9 – Para encerrarmos, gostaria que você deixasse todos seus contatos .

O Lagarto Negro tem uma página oficial, mas ando sem tempo de atualizar como deveria: Lagarto Negro.
Além do site, mantenho um blog, com assuntos mais variados mas de interesse tangente: Lagarto Negro Blog.

Gabriel, O HQ’s com Café agradece a oportunidade, se você deseja falar mais alguma coisa, essa é sua hora.

Sou eu quem agradeço pela oportunidade de falar um pouco sobre estes trabalhos! HQ’s com Café é um ótimo espaço para quem curte quadrinhos e não se limita a replicar cbr.com ou do newsarama.com e parte em busca de conteúdo próprio!

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Foto de capa: “Visita dos amigos Marcelo e Priscila ao evento Family Geek Brasil no Bay Market!!”

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Ajude o projeto ALFA no Catarse.