Hoje temos o prazer de disponibilizar para você uma entrevista com Juliano Rocha, o criador do Capitão Brasil e do Resistente, você irá notar que essa entrevista sai fora do padrão das outras já publicadas no site, a entrevista de hoje será divida em duas partes, na primeira parte teremos algumas perguntas pré-formuladas e a segunda parte da entrevista será postada de um jeito mais informal.
Então acompanhe e saiba tudo sobre os heróis brasileiros e esse mercado de quadrinistas independentes que muitas vezes é tão cruel.
Antes de tudo deixo meus agradecimentos ao Juliano, ele foi muito gentil em atender o “HQ’s com Café” e respondeu tudo com a maior gentileza, sem mais delongas…
1 – Juliano, apresente-se para o público, fale um pouco sobre sua carreira e sua vida pessoal.
Eu tenho 40 anos, sou formado em desenho industrial. Eu desenho desde 1992, foi quando criei o Capitão Brasil, então, comecei a produzir algumas tiras e publicar nos jornais da região onde eu morava. Consegui publicar em jornais de Suzano e Mogi das Cruzes, depois em um jornal de Minas Gerais. Publiquei também num jornal de Portugal que me procurou pois achou engraçado as “zuadas” que eu dava nos brasileiros. Essas publicações foram até 1998. Em 2001 eu lancei o primeiro gibi do Capitão Brasil. Depois, dei uma parada com a parte de quadrinhos e fiquei trabalhando mais com a parte editorial (design e ilustração publicitária). Em 2011 voltei com o Capitão Brasil, fiz um site e reformulei as tiras. Em 2012 lancei outro gibi do Capitão Brasil e também lancei o Resistente, que é o personagem que eu mais trabalho atualmente. Publiquei na web a primeira história em 2013 e a segunda em 2014. Em 2015 saiu a primeira edição impressa do Resistente. Em 2016 saiu a segunda edição e agora já estou desenhando a terceira, para sair no início de 2017.
2 – Juliano, eu conheci você graças ao Capitão Brasil, porém eu notei que ele anda meio “esquecido”, isso se deve ao fato de você estar focado exclusivamente no Resistente?
Exatamente, eu sempre tive essa coisa de desenhar herói dentro de mim, eu cresci lendo gibis da DC e da Marvel, e o Capitão Brasil foi uma forma de desenhar um super-herói mais focado no humor, visando um público maior. Mas a mentalidade sempre foi produzir algo mais sério, algo meio DC e Marvel, por isso estou apostando no Resistente neste momento. Porém, vou retomar o Capitão Brasil uma hora dessas, mas como meu tempo é muito escasso, e ainda não vivo dos quadrinhos, consigo desenhar apenas nas horas vagas. Eu não consigo levar dois projetos ao mesmo tempo. Tenho de focar em um personagem só e mandar bala.
3 – Por qual personagem seu carinho é maior? Pelo Capitão Brasil ou pelo Resistente?
Eu gosto muito do Capitão Brasil, foi ele quem me fez aparecer um pouco, mas eu vejo muito potencial no Resistente, acho que é um herói com uma história bem interessante, acredito que ele tenha um grande futuro. Eu boto muita fé no Resistente como super-herói brasileiro.
4 – Você tem mais algum projeto?
Projeto de quadrinhos, não! O pessoal me convida muito para fazer crossover contra outros heróis brasileiros, mas eu não tenho tempo, infelizmente, então eu só estou trabalhando na edição 3 do Resistente.
5 – Qual a maior dificuldade para vocês que são quadrinistas independentes?
O que eu sinto na pele é que a gente tem que fazer toda a parte intelectual, criar a história, desenhar, colorir, colocar texto, diagramar, enfim, fazer toda essa parte de técnica e ainda ter que levantar custos de impressão, procurar lugar para vender, ir em feiras, você tem que fazer tudo. A maior dificuldade que eu encontro é não poder focar no que eu realmente sei fazer, que é desenhar e produzir, então eu acho que falta uma editora que bancasse isso, que acreditasse, você tem muito herói bacana, muita história boa, claro que tem muita coisa que não tem qualidade, mas eu acho que o que falta é a profissionalização mesmo… você vai fazer sua arte, eu vou fazer a minha, depois que estiver pronto eu vou imprimir, eu vou colocar nas bancas. Se você vasculhar vai ver que os Estados Unidos tem micro editoras, o cara publica online e a revista impressa, e tem brasileiros que trabalham para essas micro editoras, e os caras apostam mesmo, você vê coisas que aqui se o pessoal visse iria achar horrível, mas os caras apostam, aqui ou você vai para o humor, ou para aquele “desenho bonitinho” ou você faz mangá, mas mesmo assim o pessoal torce o nariz, super herói só serve de chacota, são poucos os que gostam.
(Chegamos ao fim das perguntas pré formuladas, de agora em diante você ira ler na íntegra um bate papo bem informal com o entrevistado.)
Eu noto que o público brasileiro em muitos momentos é ingrato, eles aceitam muito bem os heróis estrangeiros e na hora de apreciar o que é nosso, só encontramos críticas… eu acompanho muita gente que dá um duro danado, e o público só desvaloriza e apresenta criticas negativas, não tem ninguém que chega e fala que o trabalho está bom, ou dá uma ajuda.
De vez em quando eu patrocino algumas postagens no Facebook, e coloco idade dos 13 aos 18 anos, a molecada é o público que precisamos formar, pois não adianta pegar um cara de 40 anos que lê DC e Marvel, o cara vai torcer o nariz mesmo. Agora, a molecada, uns acham demais, outros nem sabiam que existia um herói brasileiro e acham legal, e, lógico, que tem quem “mete o pau”, mas a porcentagem dessa molecada até 18 anos que gosta é muito boa, então o foco é atingir esse público, porque eles vão em bancas e livrarias comprar as revistas. Culturalmente eu ouço que super-herói brasileiro é um lixo há anos, é sempre cópia: “O Raio Negro é cópia do Ciclope”, e é ao contrário, o Raio Negro sempre existiu, o Ciclope veio depois, é muito complicada essa situação.
É, muita gente não conhece nossos heróis, recentemente eu fiz uma enquete no HQ’s com Café perguntando qual era o seu herói brasileiro preferido, e 70% respondeu que não conhecia nenhum herói nacional, então nossa situação é complicada, realmente.
Tem um rapaz que eu conheci outro dia na Festcomix que aconteceu aqui em São Paulo, ele desenhou o Resistente e mostrou para algumas crianças carentes, eles não acreditaram que existia um herói brasileiro, eles adoraram, então você nota que a discriminação não é deles, e sim da galera mais velha, e não podemos esquecer que tem a questão da competitividade… “Por que o seu herói vai fazer mais sucesso do que o meu”?
Eu fiz uma campanha no Catarse da primeira edição do Resistente e não tive quase nada de apoio de quadrinistas que desenham super-heróis, porque a galera não quer. “Não, não, o seu não pode fazer mais sucesso do que o meu”… então tem essa coisa de um boicotar o outro.
Aos poucos eu estou notando uma pequena mudança nesse pensamento, a graphic novel “A Ordem” reuniu vinte heróis, agora vai sair o Esquadrão Amazônia com financiamento coletivo pelo catarse…
…bom, ai tem um cara muito forte que é o Joe Bennett, ele desenha muito bem, eu vou contribuir porque eu quero uma revista desenhada por esse cara, a qualidade ali está garantida, tanto gráfica quanto de roteiro.
O que é estranho é que alguns caras como o Mike Deodato, e outros caras grandes não falam nada, eles seriam pessoas que poderiam apoiar o quadrinho de heróis brasileiros, o Joe Benett está fazendo, ele chegou até no começo do projeto da “A Ordem” ser cotado para fazer a capa, mas não conseguiram arrecadar o valor, esses caras que poderiam começar a formar uma opinião para isso…
…aos poucos a gente vai tentando inserir a cultura de heróis brasileiros…
…a verdade é que a gente faz por amor mesmo…
…realmente, meu primo faz algumas tiras no jornal da cidade, já fazem 3 anos que ele contribui com o jornal sem receber um centavo…
…ah! A hora que você falar pra eles pagarem um centavo eles vão falar que precisam por uns classificados no lugar.
Juliano, muito obrigado pelo seu tempo, deixe os seus contatos.
É fácil me encontrar pelo Facebook do Resistente, também tem o site do Resistente, onde as edições tanto impressa ou digital podem ser compradas.
…e pra galera que deseja saber sobre o Capitão Brasil?
Tem o capitaobrasil.com.br onde tem as tiras, deve ter umas cem tiras lá e algumas HQ’s.
Há! Mais uma informação. O roteiro da edição 3 do Resistente quem está escrevendo é o meu amigo Daniel Arcos que deu entrevista para você.
Sim, o Daniel já tinha comentado, muito gente boa ele…
…ah, o Daniel é um cara muito bacana!
Quer deixar mais algum recado ou falar mais alguma coisa?
Quero agradecer o convite e dizer que esse tipo de espaço é muito importante para nós quadrinistas independentes que estamos na batalha para divulgar nosso trabalho. Muito obrigado pela lembrança, Henry.
Bom, espero que você tenha gostado desse novo formato. Não deixe de ler nossas outras Entrevistas.