Filme com 2 horas e 38 minutos de duração.
Diretor: Jack Lee Thompson | Inglaterra – 1961.
Sinopse: Grécia, 1943. Dois mil soldados britânicos perderam-se em Kheros. Exaustos e indefesos, eles têm apenas uma semana para partir, pois em Berlim o supremo comando do eixo determinara fazer uma demonstração de força no Mar Egeu, para fazer a Turquia entrar na guerra do seu lado. A demonstração seria em Kheros, sem valor militar, mas próximo à costa da Turquia. O melhor armamento alemão seria usado e assim os britânicos seriam facilmente dominados, a não ser que pudessem fugir antes. Porém a única rota de fuga possível estava bloqueada, pois dois canhões enormes controlados por um radar estavam em Navarone, uma ilha vizinha. Assim, um grupo aliado tem a quase impossível missão de escalar uma parede de rocha em Navarone e invadir uma fortaleza nazista, onde estão os canhões, que se não forem destruídos vão afundar diversos navios aliados, pondo um fim na tentativa de resgatar os soldados britânicos.
Opinião com Café.
Clayton Alexandre Zocarato.
Aquém de suas características militares, o clássico filme inglês “Os Canhões de Navarone”, contém em suas bases ideológicas, o poder do trabalho em grupo e da amizade, bem como enaltece o fator da coragem individualista diante os horrores da guerra.
Dois grandes ícones do cinema (vencedores de Oscar) contracenam nessa emocionante aventura, encarnando os limites que a crueldade nos campos de batalha pode exaurir diante momentos de profunda crise de irracionalidade ética.
Gregory Pecky (1916 – 2003) e Anthony Quinn (1915 – 2001), se colocam no comando de um “esquadrão suicida”, disposto a jogar todas as suas fichas de sobrevivência, em destruir dois poderosos canhões nazistas, instalados estrategicamente entre a Turquia e a Grécia, durante a Segunda Guerra Mundial, causando forte impacto destrutivo na marinha de guerra britânica.
Curiosamente, otomanos (turcos) e helenísticos (gregos) vão entrar em confronto ao longo do século XX, pelo controle da Ilha de Chipre, acendendo um estopim para novos embates entre o “ocidente e oriente”, no condizente de um plano estatal, no controle das rotas marítimas localizadas no mar mediterrâneo.
“Navarone” ausculta um espaço cinematográfico rechaçado pela “ação”, tanto ao plano psicológico, dado aos dois personagens principais, que possuem divergências pessoais, e necessitam unir suas habilidades belicistas, no objetivo, de se fazer valer, um caráter de “psico-higiene”, no fortalecimento do trabalho em grupo como base para conquistar seus objetivos.
Não se trata aqui, unicamente de se envolver uma crítica tradicionalista de levar os filmes de guerra, rabiscados de tendências heroínas, contando tradicionalmente entre os fatores do “bem e mal”, e sim a valorização de um sentido filosófico da amizade, que diante das diferenças e indiferenças pessoais, no traçado em arquitetar uma trama ficcionista, contendo em suas estruturas, o lado “mais humano possível do herói”, fazendo com que venham a disseminar bases para procedimentos de realizar uma auto – estima, dentro de atividades individuais que ao mesmo tempo que envolvam, antagônicos princípios psicológicos, bem como um aquecido multiculturalismo, banhado pela tolerância e confiança, caminhando em um elo de identidade, no traçado de buscar a sanar as intempéries, constantes nas “subjetividades dialéticas” que venham a compor, um contingente humano em exercício de suas funções de trabalho e intelectualmente, não sendo isso necessariamente restrito ao cunho militar.
A tecnologia da época em qual se passa o seu teor narrativo, frente a táticas de guerrilha e improviso organizados pelos comandados de Peck e Quiinn, dentro de comparações a períodos históricos distanciados, pode ser a comparado em que os equipamentos de logística avançada, bem como a usufruir as melhores condições materiais, não páreos para o improviso, em meio a arte de renovação incessantes nos caminhos, em se promover, elaborações de novas normas e prosseguimentos de táticas de guerra, exemplos disso não nos falta na contemporaneidade, como os arranjos da luta “corpo a corpo” feitos pelos “vietcongues”(frente de luta vietnamita) contra o poderoso exército dos estadunidense durante sua intervenção na “Guerra do Vietnã”, (1965 – 1975) que levou a morte milhares de seus soldados, mesmo contendo um poder armamentista de longo alcance retratados em filmes como: Platoon (1986), Pecados de Guerra (1989), Bom Dia Vietnã (1987) e Fomos Heróis (2002), ou a luta das tropas soviéticas contra os (mujahidin) (guerreiros do deserto tendo como base o uso de cavalos e rifles) afegãos entre 1980 – 1987, em que sabotagens e emboscadas se transformaram em um martírio sem precedentes, para os “cossacos”, ao qual foi o plano central do filme Rambo III (1988), com Sylvester Stallone (1946).
Dentro da história da guerra, não é incomum, “uma imagem de luta entre Davi e Golias”, o eminente historiador inglês John Keegan (1934 – 2012), coloca a guerra “como algo intrínseco ligado as múltiplas faces do comportamento humano”.
Uma sangria dialética é, emergida ao inverso do pensamento militarista objetivado na total destruição do inimigo, gerando construções narrativa, fazendo com que “Os Canhões de Navarone”, exauri um gosto primitivo pelo “terror”, onde o fator da luta está presente como um princípio nato do ser – humano, e temos sempre que superarmos nossos desafios, mesmo que para isso, um pleito de barbárie se faça presente, ocupando o lugar destaque na carência do diálogo, e de reconhecimento a opiniões e visões de mundo, dispersos em torno de suas bases de ética e respeito.
O paradoxo dos personagens, é um “chulo” empreendimento na superação da balburdia, substituindo a confiança entre as pessoas como algo nefasto, para uma equipe atingir suas metas, colocando em evidência um sombrio desatino de Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), ao qual não há vitória, sem que haja a destruição de um inimigo, “declarado, ou escolhido”.
Para a declaração de inimizade, é fundamental que um espaço de desunião ou traição, seja fácil de se identificar, e ao mesmo tempo de ser conquistado.
“Navarone” exala, a gloria, mas também deturpa uma vitória, que é feita nos campos de batalha melindrados pela morte, não importando como “se morra”, e sim que “sua” passagem contenha um emblema de louvação ao poder, de vim a ser agraciado pelo demônio da vitória e as lembranças advindas da paz perpetuada depois do conflito.
Tanto Peck como Quinn, buscam incessantemente a “gloria”, todavia feita nas fraquezas de uma postura cruel em alcançar seus objetivos, não poupando utilizar as mesmas armas dos seus inimigos para que se demarque, uma magnitude de reconhecimento pelo dever cumprido, exaurindo traços preconceituosos diante um inimigo desolado.
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