Quando sentamos para assistir algo, é impossível sentar para assistir com imparcialidade, nós carregamos uma carga de informações dentro do nosso ser. Somos moldados por forças da natureza durante nosso crescimento e, dia a dia, nós somos modificados. O Rei da TV sabe disso e flerta com os dois públicos, os amantes e odiadores do Senor Abravanel.
Sim, meu amigo, o homem do baú em outrora foi idolatrado em terras tupiniquins, hoje, com o avanço da internet, de subcelebridades e influencers, Silvio Santos, quando comente algum deslize é massacrado sem dó, acusado de homofobia, gordofobia, racismo e por ai vai, mas seria mesmo preconceituoso um homem que na década de 80 já abria espaço em seu programa para show de transformistas?
A realidade é que, como humanos, nós erramos e acertamos. Alguns erram mais do que outros, mas o brasileiro tem uma capacidade incrível de massacrar e fazer chacota de seus ídolos. Criticar um Barrichello é ‘cool’. Falar que se ele corresse sozinho chegaria em segundo é se achar ‘o bonzão’, mas campeão Sul-americano de Kart, da Fórmula Opel, da Fórmula 3, do desafio das estrelas, das 500 Milhas da Granja Viana e ter mais uma dezena de títulos no currículo, é para quase ninguém, então o que sobra é fazer chacota.
Assistir o seriado do Star+ é se aventurar, a geração que não cresceu com Silvio Santos não dará importância e achará que é verdade, por exemplo, que ele mentiu para o Manoel de Nóbrega o fazendo assinar um documento que lhe dava poderes no Baú da Felicidade. Fato esse que não ocorreu na vida real. Vide entrevista do próprio Carlos Alberto de Nóbrega.
Também acharão lindo quando de forma totalmente caricata uma criança questiona um palhaço sobre o Baú da Felicidade.
Você vai ficar com o dinheiro das pessoas por um ano, certo? – Criança.
– Sim. – Palhaço.
Mas, quando eles devolvem em mercadorias o que as pessoas pagaram, não corrigem o valor pela inflação. A gente perde dinheiro! – Criança.
– Queridinha, esse não é o baú do investimento. É o Baú da Felicidade! O importante é que o Silvio Santos gosta de ajudar os pobres. O Silvio Santos não é demais, criançada? – Palhaço.
A faceta do patrão malvadão é exposta. Convenhamos, toda empresa foi feita para dar lucro, pois se não der, ela quebra. Esse é o fato, empresas não são para fazer caridade, ela depende do lucro, o Star+, se não vender, quebra. O parque da Disney, se não vender ingressos, quebra. Isso é óbvio.
Em diversos outros momentos, vemos o ‘patrão’ sendo extremamente caricato, ele vê coisas, é arrogante e prepotente, coisa que em diversas entrevistas de artistas por ai, é dito exatamente o oposto.
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Talvez não tenham tido tempo de mostrar as qualidades do homem e expuseram brevemente em uma cena onde ele dá um carro para um funcionário. Eu sei que Silvio não é santo, longe disso e retratar Cidinha na série, na minha opinião, é o maior acerto, o próprio homem do baú considera imperdoável o que fez com ela.
- Quando eu me lembro da minha mulher que morreu e quando eu me lembro que eu dizia que era solteiro, quando eu me lembro que eu escondia as minhas filhas pra eu poder ser o galã, pra poder ser o herói, eu, quando falo com a minha consciência, eu acho que é uma das coisas imperdoáveis que eu fiz diante da minha imaturidade. – Silvio Santos.
Essa fala foi dita em um dos shows de calouro da década de 80, você pode conferir a partir do minuto 9.
Sua rixa com Boni, aqui, claramente mostrado como “Rossi” é outro acerto. É fato que os dois não são amigos, mas ninguém chega onde chegou só fazendo amigos, agora, vamos ser sinceros, nós, sem conquistar grandes coisas, já fazemos diversos inimigos, quem dirá quem alcança o prestígio que ele tem.
Eu sou fã do Silvio, então não consigo ser imparcial, e é fato que a obra traz momentos totalmente nostálgicos ao mostrar e referenciar monstros televisivos como Golias, Dercy, Roque, Chacrinha e mais uma dezena deles. Nossa memória afetiva logo é ativada ao os vermos em cena é impossível não sorrir.
Se fôssemos um local que desse o devido valor aos ídolos, o Rei da TV já teria sido feito há tempos, afinal, Silvio é o maior apresentador que o Brasil já teve, isso não há discussão. Um homem que começa como camelô e constrói um império não é normal, assim como haver poucas obra sobre ele. Só que Silvio talvez seja o grande culpado, pois até imitadores ele havia proibido de utilizar seu personagem, o que é mais um dos diversos erros da carreira do empresário.
O Rei da TV impacta mostrando temas sensíveis, ameniza as dores com as referências, mostra um lado humano ao mostrar que seus funcionários são velhos de casa e erra ao caricaturar tanto o homem do baú.
Silvio está no imaginário do público, falar sobre ele é dificílimo, interpretá-lo então deve ser pior ainda. Aprecio a coragem do Star+ ao tocar em diversas feridas, mas também sou contra as estórias para enfeitar.
Uma obra é uma obra, ou clássico é clássico e vice e versa, correto? Mas uma obra desse tamanho não pode ser dar ao luxo de fugir, nem que seja por um milímetro da realidade. E por mais crítico que eu seja nesse ponto, lá no fundo agradeço aos criadores por fazer com que tantas emoções fossem geradas nesse seriado, afinal, quando falamos de Senor Abravanel não estamos falando de qualquer um, estamos falando de uma lenda, goste você ou não. Ache o homem preconceituoso ou egocêntrico. Ache o que quiser, não dê valor aos milhares de relatos de seu bom coração, mas a realidade que você terá que aceitar é que Neco, o Peru Falante, é insubstituível. Silvio só houve e só haverá um, o Santos.
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