Aos 11 eles iam embora juntos da escola. Os sábados e domingos eram os piores dias, as aulas eram ótimas e os intervalos nem se fale.
Aos 11 eles iam embora juntos da escola. Ele carregava sua mochila até sua casa. Ela entrava, todos diziam que eles se gostavam. Os dois riam. Sabiam que era verdade.
Ela era mais baixa que ele, se bem que aos 11 todos são baixinhos. Seu riso era inconfundível e seu sobrenome inesquecível: Libryli
Ele adorava dizer Libryli. O final lembrava brilho para ele. Ele não sabia o motivo, até achava meio sem sentido, mas quando se envolve amor, todo sentido se faz desnecessário.
Aos 11 eles iam embora juntos da escola, de mãos dadas.
Aos 11 eles pareciam um casal perfeito. Não por ele, ele sempre foi bem inseguro. Mas ela achava ele incrível, e ao lado dela ele acreditava ser.
Aos 12 algo aconteceu. Parece que o amor aumentou. Era impossível ficar longe, trabalhos de escola começaram ser feitos juntos.
‘Libryli’, ele repetia sozinho.
Aos 12 aquilo era o mundo de ambos. Tinha tudo para dar certo. Eles seriam perfeitos juntos, o casal mais bonito da cidade.
Aos 13 todos sabiam deles. Era questão de tempo. Ele só precisava de coragem. Era só um pingo de coragem e o destino seria selado.
Era inevitável.
Aos 13 algo aconteceu. Steve entrou na jogada. Mas ele não queria nada com Libryli, ele queria que os dois ficassem juntos, por isso decidiu intervir.
– Ei, Libryli. Sabia que o Lehman gosta de você?! Ele quer ficar com você!
– Oi, Steve. Será?! Vou perguntar.
Ela sabia que era verdade, todos sabiam. Era questão de tempo para acontecer, era inevitável acontecer.
– Ei, Lehman, falei com a Libryli. Disse que você gosta dela e quer ficar com ela.
– Oi? Steve!! O que você fez???
– É, cara. Vocês se curtem. Tá na cara. Vai lá, ela vai curtir.
– Ééééé… não sei não, vou ver…
Ele sabia que ela sabia que ele gostava dela. Ela sabia que ele sabia que ela gostava dele. Era questão de tempo, era inevitável.
Ela vem em sua direção. Seu coração dispara, sua pele arrepia. Ele parece não enxergar mais nada. Só ela.
‘Como ela é linda. Será agora. Libryli. Ah, Libryli. Tudo é perfeito, até esse jogo em seu nome. Vou falar tudo que sinto. Tudo mesmo.
Mas, mas, o que é aquilo ao lado dela? Amigas? Meu Deus! Ela veio falar comigo junto com três outras amigas. E agora? O que eu faço? O que eu faço! Já sei!’
– Ei, Ewald, vai tá livre hoje?
– Fala, Lehman, vou sim.
Nesse momento Libryli e suas amigas chamam por Lehman. Ele escuta, finge não ouvir.
– Ah, legal. Bora jogar um Mortal Kombat?
– Demorô, na minha casa ou na sua?
Elas gritam. Ele olha, vira o rosto.
– Pode ser na minha…
– Legal, apareço lá pelas 14:00
Elas vão embora. Ele respira aliviado.
‘Foi por pouco. Foi por muito pouco. Ela estava louca. Iria me dar uma resposta daquelas na frente das amigas. E se ela dissesse não? Seria vergonhoso.
Mas, mas, e se ela dissesse sim? Ah, se ela dissesse sim. Seria incrível. Um sonho.’
Aos 13 ele teve aquela chance. Aquela maldita chance.
Aos 14 ele viu ela beijando outro.
Aos 15 foi ela quem viu ele beijando outra.
Aos 16 mudaram de sala.
Aos 17 falaram o último “oi”.
Aos 20 ele viu uma foto sua no Facebook. Ela continuava linda. Mas não era mais aquela Libryli. Não era mais sua Libryli.
Aos 22 ela viu ele na rua.
‘Meu Deus. Ele continua lindo, mas não parece mais meu Lehman.’
Aos 30 ele ficou sabendo que ela foi presa. Não ficou sabendo o motivo. Ninguém sabia.
Aos 35 ela saiu da prisão. Seu primeiro pensamento foi que queria reencontrar Lehman.
Aos 40 ele sonhou com ela. Gostaria muito de saber se aquele dia no colégio foi o que selou o destino de cada um. Mas ele não sabia seu paradeiro.
Aos 42 ele teve a impressão de ver ela na rua, mas ao firmar o olhar viu que não era. Aquele dia ele ficou com ela no pensamento.
Aos 43 ela viu ele dentro de um carro. Ele estava com uma mulher e duas crianças. Parecia feliz.
Aos 45 eles caminhavam pela mesma calçada, uma forte chuva começou cair. Ele abriu o guarda-chuva. Tapou sua visão, eles se cruzaram, não se viram.
Aos 50 ele viu ela com algumas amigas em um bar. Ela estava diferente. O tempo tinha feito mal pra ela. Mas agora ele sabia que ela estava viva e ali. Ele precisava dar um jeito de falar com ela. Ele precisava saber.
Aos 50 ela teve uma parada cardíaca. Não resistiu.
Aos 50 ele procurou ela por todos os cantos.
Aos 55 ele continuava procurando. Queria saber se naquele dia ela teria aceitado o pedido que não fez.
Aos 60 ele ainda tinha esperança de encontrar ela.
Aos 65 encontrou sua irmã.
– Oi. Tudo bem? Quanto tempo! Você é a irmã da Libryli, né?
– Sim. Sou.
– Como ela está?
– Ela faleceu. Faz 15 anos.
– Eu, eu… é, eu não sabia. Me desculpe.
– Tudo bem.
Aos 70 ele lembrou daquele dia no colégio. Qual teria sido a resposta?