“Glória eterna àqueles que morreram pela revolução!”
Lançado em 1925 e dirigido pelo cineasta russo Sergei M.Eisenstein (1898 – 1948), O Encouraçado Potemkin é um filme soviético de extrema importância para a história do cinema, sempre figurando entre os melhores filmes de todos os tempos.
Baseado em fatos reais, ocorridos na Rússia Czarista, que à época se encontrava sob o poder do czar Nicolau II, a obra de Eisenstein é focada na revolta dos marinheiros no porto de Odessa, que aconteceu em Junho de 1905, mesmo ano em que, anteriormente, ocorrera o famoso e cruel Domingo Sangrento (considerado o estopim da Revolução Russa). A rebelião dos marinheiros eclodiu no Potemkin, navio da Frota do Mar Negro pertencente à Marinha Imperial Russa e que depois se estenderia pela cidade. Na ocasião, os trabalhadores da embarcação se revoltaram contra seus superiores, após suportarem anos de maus tratos e péssimas condições de trabalho.
O filme é dividido em cinco partes, cada uma com o seu clímax e com consequências vindouras nos capítulos que seguem, ao longo de seus 75 minutos de duração:
. Parte Um: Os Homens e as Larvas
. Parte Dois: Drama no Porto
. Parte Três: Um Morto Demanda Justiça
. Parte Quatro: As Escadarias de Odessa
. Parte Cinco: Um Encontro com a Esquadra
A revolta tem início quando a tripulação do couraçado fica indignada com a carne estragada que estavam sendo obrigados a comer. Em contra argumento, os superiores mandavam lavar essa carne e tirar as larvas que esta ficaria comestível.
Após a refeição ser feita com a carne em questão, os marinheiros se recusam a comer a Borscht (tradicional sopa de origem ucraniana muito consumida no Leste Europeu). Sendo assim, os oficiais do navio decidem penalizar todos os rebeldes, condenando-os à morte por fuzilamento, porém, antes mesmo da execução, os marujos, liderados por Grigory Vakulinchuk, que sempre se posicionava como um líder dos trabalhadores, pregando em favor dos vassalos e falando da importância de se fazer uma revolução, se amotinaram, iniciando um grande confronto com seus comandantes.
A vitória foi conquistada, e o navio tomado, mas Vakulinchuk foi atingido por um tiro e veio a óbito. Seu corpo foi levado até o porto, aonde milhares de pessoas, pertencentes à classe mais humilde da cidade, já sabendo dos amotinados do Potemkin, marchavam até o local para velar e se despedirem daquele bravo homem. O cais ficou ocupado com o povo, que inspirado pelo espírito da revolução, que já ecoava, cheio de manifestos por todo o território russo, resolvem marchar escadaria acima da cidade de Odessa, para se rebelarem contra a alta classe, combatendo seus opressores.
Sergei Mikhailovitch Eisenstein começou sua carreira no teatro em 1920, trabalhando em Proletkult (abreviação em russo para “cultura proletária”), que foi um movimento literário surgido na Rússia em 1917. Eisenstein sempre foi engajado na política, tendo se filiado ao Exército Vermelho em 1918, após participar ativamente da Revolução de 1917. Questões trabalhistas, da classe operária e a burguesia foram temas recorrentes em sua filmografia, estreando na direção em 1923 com o curta metragem O Diário de Glumov (Dnevnik Glumova). Dois anos depois, em 1925, lançou seu primeiro longa A Greve (Statchka), já demonstrando seu notório talento como realizador. Mas foi com O Encouraçado Potemkin (lançado no mesmo ano), que o jovem diretor, com 27 anos na época, realizou sua obra-prima, causando uma revolução na indústria do cinema.
Bronenosets Potyomkin se tornou um marco na montagem cinematográfica, e aqui, Eisenstein utilizou-se disso com todo o seu potencial, trazendo técnicas que até então, eram pouco ou nada utilizadas, como colocar dois planos juntos, completamente diferentes, criando uma consequência, cortes rápidos e frequentes, pessoas correndo em direções contrárias, vários acontecimentos ao mesmo tempo em tela, tudo sendo feito para dialogar com o seu público, para de certa forma, “manipular” o que o expectador deveria sentir. Hoje em dia, essas técnicas parecem básicas, até banal falar sobre isso, mas à época de sua produção, Potemkin foi uma inovação de grande importância para o cinema, e mesmo se tratando de um filme socialista, rompeu barreiras para o ocidente, se tornando uma grande referência.
A sequência mais famosa do filme, com o povo subindo pela escadaria de Odessa e em seguida, sofrendo uma repressão violenta da guarda do czar é de um primor que só um gênio como Eisenstein poderia conceber. Aqui surgem cenas memoráveis, como o menino pisoteado e sua mãe em desespero pegando-o no colo e o levando escadaria acima para mostrar aos soldados o filho morto, uma outra mãe assassinada e o carrinho de bebê conduzido por ela, que portava o seu filho, descendo de forma desenfreada pelas escadas sem ninguém para segurá-lo (essa cena recebeu algumas homenagens em outros filmes, a mais famosa está em “Os Intocáveis”, clássico do diretor Brian De Palma de 1987). Detalhe interessante, as vítimas que sofriam com a brutal opressão dos soldados sempre filmadas em close, com o horror transparecendo em seus olhos, e a violência acontecia pra todos, homens, mulheres, crianças, idosos, amputados, um verdadeiro massacre, enquanto os assassinos não tinham seus rostos mostrados, como se estivessem escondidos. Toda essa passagem é de tirar o fôlego, a direção, fotografia e os planos utilizados dão tamanha profundidade que parece que a escadaria não tem fim, nesse clímax mais notório de toda a obra.
Há de se destacar também, o roteiro de Nina Agadzhanova, a trilha sonora de Edmund Meisel e claro, o grande trabalho da direção de fotografia Eduard Tisse, que foi um grande colaborador de Sergei durante um longo período de aproximadamente vinte anos.
Quando Sergei Eisenstein foi convidado a realizar esse grandioso projeto, o objetivo era celebração de duas décadas da revolta dos marinheiros, e foi homenageando essa passagem consagrada da história que Eisenstein fez a sua própria. E como não poderia ser diferente, por incitar a revolução/revolta, a produção acabou sendo banida de alguns países ao longo dos anos, dependendo de seus governos e censura implantada em cada um, inclusive na União Soviética. Mas nada disso tirou a força e relevância dessa belíssima produção, que não é só primorosa por seus aspectos técnicos, mas também pela importância de seu conteúdo político, histórico e o forte discurso.
Sem sombra de dúvidas, o trabalho mais admirável de seu diretor, daqueles filmes obrigatórios aos cinéfilos de plantão e de carteirinha. Uma verdadeira obra de arte.
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Dados Técnicos.
Título: O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin) – 1925.
País: União Soviética.
Duração: 75 minutos.
Direção: Sergei Eisenstein.
Roteiro: Nina Agadzhanova (intertítulos de Nikolay Aseev)
Elenco: Aleksandr Antonov, Vladimir Barskiy, Grigori Aleksandrov, Ivan Bobrov, Mikhail Gomorov, Aleksandr Levshin, N. Poltavtseva, Konstantin Feldman, Prokhorenko, A. Glauberman, Beatrice Vitoldi, Daniil Antonovich
Sinopse: Em 1905, na Rússia czarista, aconteceu um levante que pressagiou a Revolução de 1917. Tudo começou no navio de guerra Potemkin quando os marinheiros estavam cansados de serem maltratados, sendo que até carne estragada lhes era dada com o médico de bordo insistindo que ela era perfeitamente comestível. Alguns marinheiros se recusam em comer esta carne, então os oficiais do navio ordenam a execução deles. A tensão aumenta e, gradativamente, a situação sai cada vez mais do controle. Logo depois dos gatilhos serem apertados Vakulinchuk (Aleksandr Antonov), um marinheiro, grita para os soldados e pede para eles pensarem e decidirem se estão com os oficiais ou com os marinheiros. Os soldados hesitam e então abaixam suas armas. Louco de ódio, um oficial tenta agarrar um dos rifles e provoca uma revolta no navio, na qual o marinheiro é morto. Mas isto seria apenas o início de uma grande tragédia.