Quando temos algum ídolo, desejamos estar perto. Gustavo Berriel, o entrevistado de hoje, tinha alguns ídolos na infância, o programa do Chaves estava entre eles.
O tempo foi passando e o ator/dublador/tradutor conseguiu ir adentrando ao universo do Chespirito. Primeiro foram algumas dublagens para os DVD’s, depois as do desenho e agora ele está lá no Multishow, dublando e traduzindo os “novos episódios” do universo Chespirito.
Então venha saber um pouco mais sobre o Gustavo e, lógico, sobre esse universo fantástico que é o da dublagem. Mas antes, já vai seguindo ele para ficar por dentro dos próximos trabalhos (Instagram | Twitter | Facebook)
1 – Qual o tamanho da responsabilidade de assumir um convite do Multishow para participar da dublagem e tradução dos novos episódios? Afinal, nós sabemos o quão fanáticos são os fãs de Chaves.
É uma responsabilidade imensa, porque já carrega uma legião de fãs de décadas da exibição dessas séries. Já temos a consagrada versão Maga e temos uma responsabilidade profissional dupla: a boa tradução e adaptação do espanhol para o português e a continuidade do trabalho feito na Maga. Acredito que estamos conseguindo manter a fidelidade máxima possível à versão Maga, sem deixar de criar e também corrigir antigos equívocos textuais.
Toda série grandiosa tem seus seguidores fanáticos e isso é saudável, é natural. A grande maioria do público tem curtido demais a nossa tradução e a dublagem dos inéditos. Recebo mensagens positivas quase diariamente, desde que estreamos em maio. E também há críticas construtivas de fãs educados, bem intencionados. Isso é o que vale.
2 – Falando em tradução. Recentemente uma piada cortada sobre Batman e Robin causou certo alvoroço pela internet. Qual sua opinião sobre o caso?
Fui totalmente contra a adaptação. Em meu texto, mantive a piada intacta, exatamente como foi feita no original. Não considero a piada homofóbica de modo algum. No meu entendimento, o Bolaños sempre ridicularizou o machismo e outros preconceitos em seus programas. Ele expôs preconceitos de modo a ridicularizá-los, mostrar o quanto são idiotas. Essa é minha visão.
O canal optou pela alteração daquele texto e já deu declarações sobre o caso, assumindo o equívoco, o que achei uma atitude nobre da emissora. Não houve outro caso semelhante em todo o trabalho.
3 – E vocês tem essa liberdade para reformular alguma piada ou mesmo criar algo? Ou a piada do Robin foi um caso esporádico?
Temos total liberdade. O Eduardo Gouvea traduz comigo, mas eu assino a versão final dos textos, faço as adaptações mais necessárias e as mais complexas. É muito desafiador traduzir Chespirito, porque há um domínio do idioma espanhol em seus textos, com trocadilhos, referências linguísticas e culturais, neologismos etc. Tudo isso tem que ser adaptado minuciosamente. O objetivo é “abrasileirar” o programa ao máximo, como foi feito na versão MAGA e exigido pelo canal. É um trabalho diferenciado, não é uma tradução “normal” como qualquer outra. Chaves e Chapolin são casos especialíssimos.
4 – Você participou da dublagem da série em DVD, agora está no Multishow e também fez dublagem dos desenhos. Qual a razão dos desenhos não terem feito tanto sucesso quanto o seriado?
O desenho tem um público restrito: o infantil. As crianças amam o desenho! A série original é muito diferente, não se deve nem comparar. A série é para todo o público, Chaves nunca foi um “programa infantil”.
5 – Todo mundo sabe que você é um grande fã dos programas do Chespirito. Qual foi a sensação de quando recebeu o convite para dublar os personagens? (Nhonho, Jaiminho e Seu Barriga)
No começo de tudo? Nos DVDs, fui fazer teste em São Paulo, lá no estúdio Gabia, em 2006. Já era ator e tinha feito curso de dublagem com o grande Hamilton Ricardo, no Rio. Então, fui escolhido porque minha voz era a que mais se aproximava do Jaiminho feito por Older Cazarré. No começo desse trabalho, faleceu o querido Mário Villela, então acabei assumindo o Nhonho (somente o Nhonho, a princípio; o Sr. Barriga foi feito por Fadu Costa e Gilberto Baroli nos DVDs.) Quando chegou o desenho animado, na Herbert Richers, fizemos novos testes e fui escolhido para Nhonho e, depois, Sr. Barriga. Jaiminho ficou com Waldir Fiori nos desenhos.
Em cada versão, sempre pediram novos testes de vozes, mesmo com os dubladores clássicos, das antigas. Como foi o caso do Multishow: o estúdio gravou vozes com todos os dubladores oficiais e o canal foi aprovando.
A sensação é sempre de felicidade total e reconhecimento. Dar voz a esses personagens é uma das maiores bênçãos da minha vida.
6 – Você tem alguns anos de carreira, se lembra de como tudo isso começou e de qual foi seu primeiro papel?
Faço teatro desde os 17 anos, estudei letras e artes cênicas, fiz cursos profissionalizantes como a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), além de ter estudado dublagem com os mestres Hamilton Ricardo e Hermes Baroli. Meu primeiro papel foi vozerio em filme, mas logo surgiu a oportunidade do teste para Jaiminho e Nhonho nos DVDs da Amazonas Filmes. Peguei personagens grandes logo cedo, o que foi uma pressão muito grande, mas dei o melhor possível e tive um ótimo retorno. Em 2008, ganhei uma premiação (Oscar da Dublagem) como revelação.
7 – Qual a maior dificuldade dentro da sua profissão?
A profissão de artista em geral é cheia de altos e baixos. Minha maior dificuldade é conciliar a carreira artística e a dublagem em si com minhas outras atividades profissionais. Eu também sou professor de Língua Portuguesa e também escrevo. Com isso, não me sobra o tempo ideal para visitar estúdios, como eu gostaria. É um grande desafio conciliar todas essas atividades, mas amo cada uma delas, pois acredito demais na Arte e na Educação. Então, cada vez que saio de casa seja para dublar, fazer uma peça ou para dar aula, sinto-me realizado, orgulhoso. Arte e Educação podem salvar o nosso país.
8 – O que você pode dar de conselho para quem deseja seguir carreira no mundo da dublagem?
Precisa ter muita paciência, persistência e entender que tudo acontece no seu tempo certo. Cada pessoa tem seu próprio “tempo”, uma relação muito pessoal com a trilha de sua carreira, seja qual for. O importante é acreditar no seu próprio trabalho e seguir em frente, ouvindo sempre os conselhos dos profissionais mais antigos. O aprendizado é diário.
9 – Jogo rápido.
Atuar, dublar ou traduzir? Atuar.
Jaiminho, Nhonho ou Seu Barriga? Jaiminho.
Trabalho que mais gostou? Como dublador? Dublar múltiplos personagens do Edgar em Chapolin. Como ator em cena, minha peça “Quem Matou Laura Fausto?”.
Personagem mais difícil de fazer? O Sr. Barriga.
Melhor dublador? Hamilton Ricardo é uma grande referência e foi meu mestre de dublagem.
10 – O que o Gustavo Berriel, com toda experiência que adquiriu ao longo dos anos diria para o Gustavo Berriel do começo de carreira?
“É importante saber dizer “não” mais vezes, sempre respeitosamente. Não é possível agradar a todo mundo. Seja mais presente; ansiedade só atrapalha; e cuidado com a preguiça nos dias errados.” Eu diria isso.
11 – Para finalizar. Quem é Gustavo Berriel?
Costumo dizer que sou o “príncipe encantado no reino errado”. Eu sou artista, educador e tenho o dever de enxergar o mundo de outras formas, às vezes pelo avesso, justamente para encontrar algum jeito de transformá-lo. Uma das chaves para isso, eu tenho certeza, é o humor. Sou um cara bem humorado e naturalmente otimista.
Gustavo. O HQ’s com Café agradece o tempo concedido. Desejamos sucesso nessa sua caminhada. Agora o espaço é todo seu, pode deixar seus contatos e falar o que quiser.
Quero agradecer imensamente ao HQ’s o espaço, adorei dar essa entrevista. Sigam-me os bons no instagram @gusberriel e twitter @gustavoberriel. Página no Facebook: Gustavo Berriel. Espero vocês lá! Abraços a todos!!
Não deixe de conferir.
HQ’s Entrevista, Marta Volpiani, a voz da Dona Florinda
HQ’s Entrevista | Dilma Machado
HQ’s Entrevista | Fábio Lucindo, a voz do Ash
HQ’s Entrevista | Cassius Romero, o dublador do Negan
HQ’s Entrevista | Luiz Laffey, dublador do Shion de Áries, Androide 16…