Não. Simples, ele nunca morrerá. É um personagem. Uma lenda. Lendas não morrem.
Mas, então, o que gera tanta comoção em torno de um personagem que teve seu seriado finalizado em 2007 e que até hoje causa questionamentos quanto ao seu final?
Sim, meu amigo. O final de Sopranos é incerto, apesar de ter sites e mais sites que juram que o vilão, ou mocinho, depende de sua interpretação, morreu.
Tony Soprano. Gângster. Mafioso. Infiel. Assassino. Viciado. Mentiroso.
Tony Soprano. Amoroso. Pai. Esposo. Amigo. Fiel. Verdadeiro.
Quando o sino bate, a canção Don’t Stop Believin para de tocar e a tela fica preta, acaba um dos maiores seriados da televisão. Ali perdemos um parente, ou parece que perdemos. Com o decorrer dos anos acompanhando o interior da máfia, nos afeiçoamos aos bandidos e, como o agente Harris, torcemos por eles.
Harris, agente do FBI, torceu para Tony no final, nós, reles mortais, torcemos para Tony, sofremos seus dramas e ficávamos putos quando algo não dava certo.
Aqui entra aquele velho conceito de que “o bem e o mal não existe, o pensamento os cria”. Tony seguia essa máxima.
Somos soldados e soldados não vão para o inferno. É uma guerra, soldados matam soldados. – Tony Soprano | T2 E9.
Não acho que sou perfeito, mas faço a coisa certa com a minha família. Isso serve para alguma coisa? – Tony Soprano | T3 E11.
Notou? Em dois momentos distintos ele reflete sobre sua vida. Ele provê o melhor para sua família e ele se considera um soldado.
Para prover minha família posso prejudicar outra?
Em algumas religiões é permitido matar em nome de Deus.
Em um país poligamia é crime, em outro, coisa normal. Existem locais onde não se pode fumar maconha, em outros, ela é liberada.
Não existe certo ou errado. Existe sua percepção de mundo, os ensinamentos que lhe foram passados e o conhecimento que você adquire por conta. Visões distintas de um mesmo mundo.
Para alguns, relacionamento aberto é o que há, para outros, traição é dar like em uma foto no facebook.
Os valores são complexos, as escolhas, infinitas, talvez seja por isso que, mesmo sabendo que tudo joga contra o Tony, mesmo sabendo que se ele não houvesse sido morto, iria pra cadeia, mesmo sabendo que é só uma série, nós nos afeiçoamos pelo personagem, sentimos asco por sua mãe maltratá-lo, ficamos putos quando Paulie começa traí-lo, ou quando Adriana faz um acordo com o FBI.
Talvez por Tony ir ao psiquiatra, ter crises de pânico e acessos de choro que torcemos para ele, lá no fundo, não morrer. Afinal, ele é humano como todos nós.
Eu controlo o mundo todo e ainda me sinto fracassado! – Tony Soprano | T2 E6.
Talvez seja por isso que torcemos para o mal, mesmo que inconscientemente.
Talvez por Tony ter tantos problemas e dúvidas, talvez por Tony ser tão complexo, que aqueles 86 episódios faz com que nos sintamos da família, talvez por isso torçamos para um personagem, digamos, de ‘caráter duvidoso’ e torcemos para que ele não tenha morrido. Afinal, se o final é passível de interpretação, eu interpreto do jeito que quiser, e para esse cara que acabou de escrever o texto, Tony jamais morrerá.
Estou bem sem terapia. Não há cura para vida. – Tony Soprano | T2 E4.
Sigam-me os bons!