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5 Grandes Poemas na voz de Antônio Abujamra

Resumir o que foi Antônio Abujamra é impossível. Suas perguntas eram ácidas, sua dicção perfeita, tanto é que os poemas recitados por ele em seu programa, sempre nos arrepiavam.

Hoje venho até você para relembrar de 5 poemas que foram eternizados em sua voz marcante.

Então, sem delongas, vamos começar com “Mude“, do autor Edson Marques.

Coragem, coragem. Mude, mude. Mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Sente-se em outra cadeira, no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa. Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho, ande por outras ruas, calmamente, observando com atenção os lugares por onde você passa. Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os teus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias. Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia, ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos. Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetas, as gavetas, portas, com a mão esquerda.
Durma do outro lado da cama. Depois, procure dormir em outras camas. Assista a outros programas de tv, compre outros jornais, leia outros livros, Viva outros romances! Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo. Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos, escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores, novas delícias. Tente o novo todo dia. o novo lado, o novo método, o novo sabor, o novo jeito, o novo prazer, o novo amor. a nova vida. Tente. Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações. Almoce em outros locais, vá a outros restaurantes, tome outro tipo de bebida compre pão em outra padaria. Almoce mais cedo, jante mais tarde ou vice-versa. Escolha outro mercado, outra marca de sabonete, outro creme dental. Tome banho em novos horários. Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito, ame muito, cada vez mais, de modos diferentes. Troque de bolsa, de carteira, de malas. Troque de carro. Compre novos óculos, escreva outras poesias. Jogue os velhos relógios, despertadores. Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas, outros cabeleireiros, outros teatros, visite novos museus. Mude. Mude Lembre-se de que a Vida é uma só. A vida é uma só, e pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano. Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo. E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível, sem destino. Experimente coisas novas. Troque novamente.
Mude, mude de novo. Experimente outra vez. Atue, atue. Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança, porque se você tem mais medo da mudança do que da desgraça, você não impede a desgraçada, a mudança, o movimento, o dinamismo,
a energia. Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver, a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena


Felicidade Realista, de Martha Medeiros, também ficou marcado por sua voz.

A princípio bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: nós queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis. Dinheiro? Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida, o cinema, o teatro: nós queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas. E quanto ao amor? Ah, o amor, o amor… não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos amor, AMOR, todinho maiúsculo. Nós queremos estar visceralmente apaixonados, nós queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, nós queremos jantar a luz de velas, sabe quando? De segunda a domingo, nós queremos sexo selvagem e diário, nós queremos ser felizes assim e não de outro jeito. É o que dá. É o que dá ver tanta coisa. É o que dá ver tanta televisão. Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista. Ter um parceiro constante pode ou não ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio. Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé, um pouco de criatividade. Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável. Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno. Olhe para o relógio: é hora de acordar. É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz, mas sem exigir-se desumanamente. A vida, a vida, ah, a vida, a vida não um jogo onde só quem testa seus limites é quem leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta, dessa sempre total competitividade. Vamos competir, vamos competir. Não! Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.


Das Coisas Memoráveis, do autor Antonio Brasileiro foi outro poema recitado por Antônio Abujamra.

“Um dia, tudo será memória. As pessoas que andam naquela rua, as gentis, as sábias, as más, todas, todas serão memória, o mendigo que passa sem o cão, o ginasta, a mãe, o bobo, o cético, a turista, Deus, Deus, inclusive, regendo o fim das coisas memoráveis, também será memória. Deus e os pardais. Os grandes esqueletos do museu britânico e todo sofrimento serão memória. Eu, sentado aqui, serei só esses versos que dizem haver um eu sentado aqui.” — Antônio Brasileiro.


Eu escolho meus amigos pela pupila, de Oscar Wilde, também entra na lista.

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Eu fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, eu quero o meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Eu quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Eu escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Eu não quero só o ombro e o colo, eu quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Eu não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Eu quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Eu não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Eu tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que normalidade é uma ilusão imbecil e estéril.


E para fechar vamos com o brilhante poema de Marina Colasanti.

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, a gente logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra. A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias de água potável. A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.


Lembra de alguma outra declamação do Abujamra que te marcou?

Encontrou algo inverídico no texto? Nos contate pelos comentários, redes sociais ou pelo Email: [email protected], prezamos pela verdade e transparência. Até o próximo post…

Os textos foram retirados de sua forma original para seguir o que foi exatamente declamado pelo Abujamra.

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