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Ethel e Ernest, história real, o resto é estória

O quanto é possível viver? O que é possível presenciar?

Ethel e Ernest presenciaram muitas coisas nas décadas em que estiveram juntos.

Passaram pelas guerras, o telefone chegou em sua residência, televisão, carro, o homem foi à Lua…

Mas, sério. O que é história? O que fica pra história?

Ali, naqueles momentos narrados de forma real, sem labaredas espetaculares ou fantasias irreais. Ethel questiona o real motivo do homem ir até à Lua.

O que ele foi fazer lá?

Tanto lugar pra ir.

E o rádio? Ah, desliga isso. Não quero que ele (radialista) me ouça do outro lado.

Simples. Inocente. Vida real de pessoas comuns, sofridas, unidas na dor e no amor. Ela, doméstica, ele, entregador de leite. Um conservador, outro puxando para esquerda. Um simples, o outro burguês.

Ah, que obra sensível. Que coisa maravilhosa. Em um mundo ávido por ação, pornografia e suspense. Assistir algo com diálogos banais, retratando o que é uma vida real, nos faz sentir mais vivos. Traz a gente para mais perto da realidade ver um casal que, apesar de todos os contratempos, ficaram juntos até o fim. Uma família unida. Algo raro hoje, mas essencial para fazer um homem ser homem.

Em uma época tão cinzenta, onde todos saem com todos, mas ninguém se completa, é legal ser transportado para décadas passadas, onde andar de bicicleta e tomar um chá eram as coisas mais importantes da vida.

Oh, Deus, quando deixamos isso de lado e entramos na corrida dos ratos? Quando foi que falaram que tomar um chá com sua família poderia ficar para depois? Quando? Qual o motivo de acreditarmos?

Não sei. Não tenho respostas, apenas quero voltar para uma época em qual não vivi, uma época onde “eu era o rei, era o bedel e era também juiz, e pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz, e você era a princesa que eu fiz coroar, era tão linda de se admirar, que andava nua pelo meu país. Não, não fuja não. Finja que agora eu era o seu brinquedo. Eu era o seu pião, o seu bicho preferido. Sim, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo, no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido…” – Chico Buarque, canção João e Maria.

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