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Euro-Cine | Romasanta – A Casa da Besta

            Romasanta, ao contrário de outros filmes de lobisomem, possui um sentido narrativo de justiça lógico perpendicular para a tolerância defronte a barbárie, em fazer uma evidência pedagógica estética, em como alguém pode fazer a sua própria defesa, perante acusações de assassinatos e canibalismo, mergulhando o público, para um sentido verborrágico sanguinário, ao qual elucida que a mente possui diferentes atrativos no sentido de como caminhar, entre a liberdade de poder fazer o que bem entender realizando tudo o que tem vontade e depois se esquivar, usando a razão para justificar a sua desrazão.

            Mas se a razão possui certa negatividade da desrazão, então estamos vivendo em uma construção de sociedade ao qual “tudo” é mascarado sendo um teatro de marionetes, se rebelando contra a simplicidade hermenêutica, que coloca a diferença entre o “Monstro e o Doente”.

            Vejamos que o Lobisomem, no sentido clássico, é em certa medida diferente da Licantropia, onde haveria um suposto caso de dupla personalidade, que expressa, a complexidade em se explicar o relacionamento de um “ser com problemas existenciais e corporais”, resplandecendo-se de ethos destrutivo, perante um agrupamento humano que vive se comiserando psicologicamente em estar bem, mas que em sua métrica humanística, está dormente perante os monstros “reais” que habitam uma realidade cíclica, diante a aparência tranquila de uma sociedade burguesa e cortesã, na gnose, de elevar-se para uma individuação com ludicidade dialética, contendo o discurso que possa fazer do Direito, algo que não venha exclusivamente condenar, e sim orientar.

            No ano de 1852, a Inquisição na Espanha, já não estava a plenos motores de sua combustão persecutória, como nos séculos anteriores, mas ainda continha uma primazia, de crescimento em fazer da fé católica, um categoria de rebaixamento da liberdade em se construir, uma cultura erudita, que contivesse a cientificidade como principal núcleo de um empirismo que fizesse a enunciação, dos mais profundos equívocos e desesperos que a mente humana venha habitar.

            Um belo exemplo desse contraponto psiquiátrico está em buscar uma padronização comportamental, que argumentasse acerca da Responsabilidade Social, de submeter o pensamento intelectual para uma ontologia de melindrar equívocos quanto a uma canonização de exemplos místicos, acerca da vivência e violência da consciência humana.

            A Psicologia de Wilhelm Wundt (1832 – 1920), que possuía no “experimentalismo e na demonstração científica”, de quais fatores levariam o ser humano a loucura, contendo uma raspa de ligação com o “Direito Positivista”, se encaixa filosoficamente, no sentido de uma subjetividade, em interpor a defesa do indivíduo perante suas faltas antropológicas, e no próprio “Positivismo – Mor de Auguste Comte (1798 – 1857)”, que inaugura uma história da ciência, que contém a justaposição dos seus fatos, através da “comprovação de dados e da informação”.

            Ou seja, Romasanta, não é somente uma película de suspense/terror, que venham estar dentro da normatização de um banho de sangue percolado pelo senso-comum, que não esteja enfocando a uma humanização, que seja sardônica, mas sim na Dialética, com léxicos mentais, que mesmo na barbárie está alijado um cunho, de justificação argumentativa, que não fique somente dentro dos elementos semiológicos gramaticais, ou individuais.

            Diante a eliminação da civilidade, vejamos o exemplo de Hannah Arendt (1906 – 1975), que “busca no terror, a explanação de uma filosofia social, ao qual se coloca que a justiça, busca a todo o momento cumprir o que está estabelecido nas diretrizes oficiais, sem dar chances para uma individuação reparadora, e se torna tão culpada quanto o réu”.

            Sim!

            Pois mais ilógico, que pareça Direito e Licantropia caminho juntos.

            Vejamos que Lester Lou personagem central de Bala de Prata (1985), de Stephen King (1947), produzida por Dino De Laurentis (1919 – 2010) (contém nos diálogos do Reverendo Lester Lowe (Lobisomem nas suas horas vagas taciturnas) (Everett McGill – 1945), com Marty Coslaw, Cohey Haim (1971 – 2010) “(colocando que tudo serve ao senhor, inclusive sua mutação), o que não deixa apresentar um sentido calvinista e de um Direito Canônico maléfico, que nada pode interferir na vontade de Deus”, ou seja, que em sua predestinação de terror, tudo serve a uma inteligência superior, e que em sua metafísica alucinante, estaria como base para a justificação de toda aquela serie de crimes na qual perpetuou em Taker’s Mills, em algum lugar distante dos Estados Unidos.

            A Racionalização de sua doença faria o enfermo então culpado por uma condição psiquiátrica distoante da realidade?

            O elemento cognitivo de uma Saúde Mental clara permite permear uma questão da escolha sã, entre adoecer, ou estar não na condição animalesca de um animal irracional, se tornando um animal permanente, por períodos de espasmos mentais contraditórios e ilusórios.

            Romasanta, não usa da estética de deformação do amaldiçoado homem – lobo clássico, mas sim leva o seu apreciador, ao limiar analítico, de um comparativo em se sentir uma “fera impetuosa”, do “que se transformar” materialmente e sucintamente em um conluio humano disforme.

            Tanto que Manuel Blanco Romasanta (1809 – 1863) não conseguiu provar sua inocência perante a acusação de milhares de assassinatos, ao qual se atribuiu ter feito diante o poder de uma maldição lobista, que tirava toda sua capacidade de racionalidade, mas se tornou um exótico espécime de estudo acerca das patologias mentais.

            “Em um sentido aristotélico comparativo, seria o seu estado deformado, uma condição natural, do animal”, que se esconde em cada um de nós vindo á tona, que no seu caso o faz ser incontrolável, e que cabe a cada “um”, aperfeiçoar o autocontrole perante sua vivência em grupo.

            Se tudo está presente a vontade divina, então Deus seria um caminho de liberdade, a ter toda suas vontades satisfeitas, inclusive até mesmo a desafiar-se a questão da sanidade de sua própria inteligência, dando a alguns, a dádiva de entrar em um estado de dormência filosófica, em relação à interpretação do que poderia ser considerado como certo ou errado.

            Se Romasanta matou por conter uma força destruidora maior do que um ser-humano normal, e também não desenvolveu uma mente que fosse cíclica, então poderíamos classificar a maldade do Lobisomem, como um ato de “amor”, maníaco, doentio, que não conhece o limite entre o “Tolerável e o Absurdo”.

            “O Absurdo”, que faz a arquitetura de uma ciência, ao qual toda a mente, possua traçados estereotipados obscuros, que necessitam serem conhecidos, explicados, a ornamentarem, um Estruturalismo, entre o discurso e a pratica.

            No Discurso Jurídico somos todos iguais, mas na prática transcorrem, brechas nas Leis, que fazem um ser humano diferentes do outro, nos antagonismos de jogos sociológicos de uma dialética, que atribui para a “carne” a universalidade antropo-biológica, mas que na sua sagacidade de principiar uma cinética de inteligência do corpo, faz com que as mentalidades estejam aprofundadas em uma metablética, ao qual manter-se calmo e equilibrado, se torna um desafio constante em uma contemporaneidade, que não consegue domesticar seu próprio espaço de tempo e ação.

            E aqui usando de Milton Santos “tempo condiciona as pessoas a terem sua capacidade criação limitadas, o que não deixa ser uma práxis civilizatória, coletivista e arbitrária”, que faz a massificação de um pensamento que seja diferente da maioria as pessoas.

            “Chegando ao labor do “kantismo”, de que “quando as mentes se tornam inteiramente igualitárias”, a capacidade e a criatividade, se reúnem, na autenticidade de questionar-se e do autoquestionamento nato, que muitas vezes não enxerga o próprio erro, tendo que conter a virtude honrosa de se curvar perante as opiniões alheias, para entrever sua lapidação de capacidade em se construir e emergir novas formas de pensamento livres.

            Não se tem como se livrar de um caminho sádico, onde, prazer e o gosto de sangue, se juntam para esconder o monstro que habita no interior de cada pessoa.

            Romasanta é um Licantropo, onde não há inocência em sua metamorfose, pois cada sabe que dentro de si existe uma “fera”, que subjugada para uma indagação de práxis a um Direito, que procura a patologização, para uma concepção de amor, “que se mude em uma extra de comportamento na esfera publica, que se faça caminho para um particularismo, onde cada um deseja ser o que quiser, mas estando preso a conjecturas burocráticas de normatização sentimental outorgada pelo Estado”, como caracteriza Jürgen Habermas.

            Para um padrão de Estética do Horror, Romasanta, não é um cunho de classificação para superprodução e sim uma mistura de outorgada, cunhos, para um controle da “fera”, que equilibre todos os setores de uma sociabilidade ambiciosa em deixar de joelhos o próximo, para uma justificação idealística, que muitas vezes em nossas culpas pessoais, são encarregadas de lacunas atreladas a um semblante ideológico, de uma ontologia que se faça presente, na obrigatoriedade, que temos que agirmos sempre sobre regras escritas dogmatizadas, que venham colocarem na fala uma impressão que tudo está dentro de um contexto social normatizador, onde se vive de hipocrisia e não de construções sentimentais verdadeiras.

            Não é o Lobisomem, que é o mostro em si, mas dentro de sua estética amedrontadora, mas sim “aqueles que o caçam”, pois para o que é diferente, existe certo caminho de interpretação ao quais os monstros possuem uma gama de simpatia, segundo as palavras de Stephen King.

            Um Monstro com um cunho “nietzscheano”, que fique sobressaltado, para um firmamento do prazer, em sentir gosto pelo sangue, para um contemplação lasciva imanente pode ser vítima da incompreensão das pessoas pelo suposto gosto de saborear a carne humana.

            Não se trata unicamente do “gosto”, enfocando Galvano Della Volpe (1895 – 1968) de uma objetividade “naturalista”, mas sim uma poética admoestada, ao qual estejam transpostas, para um grilhão, onde as efemeridades fazem de um tribunal, uma “busca do culpado”, ao qual esse culpado, seja execrado, por uma concepção de “Normas, que se afastam da concepção de Sujeito”, segundo Gerd Bornheim (1929 – 2002).

            Ou seja, Romasanta, é uma expressão de um Positivismo, de um crescimento em torno da busca do que seja perfeito biologicamente, o que não se trata unicamente de iludir, mas de fazer dessa ilusão, se proclame em que todos os “prazeres são uma forma de estar no mundo”, em uma fenomenologia, que não adianta fica incitando, regras ou leis integralmente, somos isso, selvagens mentalmente e sentimentalmente, devemos aceitar essa condição e ponto final no assunto.

            Então para o espectador, que procura no “senso comum”, de uma mutação de um ser – humano, para máquina assassina incontrolável, vai se decepcionar, quanto à aula de Direito que Manuel Blanco Romasanta nos proporciona.

            Temos, a culpa como nossa fiel companheira a e essa culpa não tem culpa por não querer aprender, e em ser dona do seu próprio mundo, sem precisar de mais ninguém, estando a um caminho de servidão intelectual flutuante, extenuando e efetivando um personalismo, que pode ser confundido por egoísmo.

            O Monstro que possui a aparência do horrível é hermético, para uma Ética de Respeito, pelo que seja Excêntrico.

            Essa é uma dúvida, que paira no ar, todo o nefasto seria excêntrico?

            Ou a excentricidade, é um campo de diversão, que faça do entretenimento seguir o “darwinismo”, que somente os fortes sobrevivem perante a selva pedra que fez da sociedade civil um inimigo em potencial, em levar uma massificação, quanto a gostos, e subjetividades, que não estejam dentro do que se pode dizer, confabule, com um aneurisma da criatividade, em se cortar um suprimento de renovação mental, de cada pessoa.

            As pessoas que cunham sentimentos verdadeiros, podem desfazer a razão lúcida, mas isso não significa plenamente que perderam suas simetrias, a conter o “feedback”, de se entender, como também na produção de novos entendimentos do mundo exterior ao seu.

            O Entendimento pode ser uma forma de hipnose, perante um cunho de alimentar nominalismos em intimidarem os mais frágeis, como também em não argumentar coerentemente defronte o encontro com o desconhecido.

            Não se trata de dizer que a questão teleológica do Lobisomem venha ser fazer de desconhecida, mas se analisarmos fatos entre o animalesco e o monstruoso, essas palavras possuem suas próprias especificações gramaticais, bem como combina com uma carência, no resumo de que o animalesco possui a gama biológica do instinto do caçar, do atormentar, do judiar, do causar todo tipo de dor física para suas vítimas, enquanto o monstruoso está mais próximo e uma esfera do “agir”, que voltando ainda a Jürgen Habermas (1929), aos quais os monstros são exemplos de intersecção entre a loucura e a sobriedade, em proclamar o que pode vim a ser definido como certo, com também o errado.

            O Lobisomem não é de totalmente errado, pois ele é o subproduto de uma consciência que não consegue entender, suas mutações sejam elas físicas ou metafísicas.

            Caminham assim para o preparo de uma consciência que não seja cíclica, mas que realiza a promiscuidade, de não elevar suas artimanhas, de que a provocação, pode e deve ser uma lógica para uma sintomatologia de uma cultura que possa se der conta do que seja realmente diferente em relação às normas da maioria, mas que não possua somente o diferente e contendo uma óptica de distorção do que possa vim a ser classificado unicamente e exclusivamente como “normal”.

            A Beleza, “com um sentido de triunfar dialeticamente, as imperfeições humanas”, vem a um encontro de que para se construir uma criticidade, que possa se compreender, também é fundamental ser permutado um pouco de ignorância, de está acalentado a um acesso de informar, como também a formar, maneira, de não adentrar em uma loucura coletiva, que venha atingir e contaminar, “nichos”, de uma civilidade com que seja distorcido e retorcido, no objetivo de estar inserido dentro de um controverso batistério da normatização e patologização em ser (a) normal.

            Normal que faz com que o Lobo, seja vítima de uma vigilância social que somente procurar “punir”, e não em criar meios e sistemas, que façam com que as pessoas possam ser, tratadas, não somente pelo monstro interior que habita em cada um de nós.

            Para isso um “contra método”, usando anarquia epistemológica em se fazer ciência de Paul Feyerabend (1924 – 1994), faz com que se veja o caso de Romasanta em relação aos crimes que cometeu “estando supostamente na forma de lobo”, como sendo uma mensagem na imperfeição de perdão e compreensão, que uma sociedade procura outorgar para seus indivíduos dados a esquisitões.

            Isso não deixa, de conter uma simpatia por uma Eugenia, que vai se afastando, para uma complementaridade, em não saber como se comportar ao deparar-se com o que seja realmente algo ou alguém ruim, ou com que foi transformado em algo ruim, seja biologicamente ou socialmente.

            Ao longo da história da psiquiatria e da psicologia, houve diversos casos de duplas e múltiplas personalidades que se escondem dentro de um mesmo corpo, e de uma “ser que predomina acerca dos demais”, o filme “Fragmentado (2016)” com James Mcavoy (1979) é um excelente exemplo disso.

            E aqui se coloca, a seguinte lógica experimental, de uma análise do discurso cinematográfico de terror como também humanístico subjetivo:

            Romasanta viabiliza os equívocos e probos, quanto à projeção, de um Estado, que não consegue tomar conta a se, fazerem facultativos no combate maniqueísta, quanto à taxação em Massa de uma Esquizofrenia Orgânica, do que pode ser ou não considerado como certo ou errado, e culpa personalidades destroçadas que se sobressaem uma sobre a outra, como um novo limiar de pensamento questionador da individualidade ligada ao “Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson (1850 – 1890) ao qual O Doutor Jekyll, é culpado de todos os crimes cometidos por outro “eu” Edward Hyde.

            Quantas personalidades usamos no nosso dia a dia?

            Quem é o vilão e quem é o bandido?

            O ser humano é uma mistura de prazer, e de ser e se fazer de “certinho”, mas no seu libertarismo mórbido, deseja saciar seus prazeres plenos, estando em um sentido da auto – humilhação, de saber que não pode controlar inteiramente seu corpo, e que sua mente é um subproduto, do “meio”, ao qual foi parido.

            Romasanta é um retrato do lado mais sombrio e perturbado do ser humano, onde a maldade se tona um sinal de fagulhas para novas tipologias comportamentais aos quais contenha uma ética volúvel em respeitar a igualdade entre forças mentais dispares, em uma replica psiquiátrica de que para cada setor demoníaco escondido no indivíduo, a presença de Deus, é importante para sanar, julgamentos morais, de mentalidades que podem estar com o seu biótipo de reações delirantes, a se colocar como um animal selvagem.

            Dentro da sua Estética Fílmica não se trata de desconstruir a imagem monstruosa do Lobisomem, mas sim deixar o espectador, com a nítida impressão de que o que “não se enquadra dentro do normal, passa a ser anti-social, como um sinal de doença sócio – mental”, que faz com que as patologias da mente, se tornem um “estereótipo como certo e errado perante um Estado que fique realizando padrões de ações entre as interações humanas antagônicas em suas formas de se chegar a um pensamento humanístico claro e sucinto”, segundo o princípio das “sociologias das doenças mentais”, de Roger Bastide (1898 – 1974).

            Dialético dentro de um corpúsculo, que deixa o lúgubre do sombrio, para sanar, que no caso de transtornos mentais, pode estar sistematizado a importância de que é preciso se entender, o que é monstruoso como culposo no anseio, de que as “regras sociais são baseadas em fatos sociais”, que segundo Émile Durkheim (1858 – 1917), vindo a consagrar uma familiaridade empírica – crítica, de que durante seus julgamentos os juízes, ficam em dúvida quanto a sua condenação como um assassino cruel, ou absolvição como um lunático contendo várias personalidades.

            Durante o século XIX, na Espanha, não houve o poder de uma perseguição em larga escala, como no período Medieval e Moderno em que a Inquisição agiu de forma a se tornar umas das instituições mais temidas e intransigentes da história, porém o interesse psicológico por Romasanta traduziu de que a mente humana pode vim a se constituir como um universo paralelo refazendo assimilações e comparações históricas, perante os sintagmas de uma abjuração dos nossos pecados, ou seja, que todos os elementos de casos biomédicos, detêm uma explicação que está centrada dentro de uma regulação quanto a uma biologia do cérebro que seja eficaz, quanto à produção de explicações e argumentos, que possam reorganizar condutas dentro de um “Positivismo Sádico”, não no sentido em se dirigir para uma metodologia científica, que somente de contenha um caráter de explicação em relação ao poder de uma sanidade equilibrada, e sim que todos nós de certa maneira podemos, caminharmos para uma ontologia que faça um estrangulamento de uma biomecânica equilibrada e de uma filosofia de tratamento em relação ao “outro”, que esteja extenuado unicamente a integrar um padrão de “beleza”, ao qual dentro de princípios questionadores e argumentativos, a imagística do Lobo – Homem se encontra em cânone de maldade por completo.

            A história de Romasanta, trazida ao cinema, não é unicamente a questão do terror como forma de causar arrepios ao espectador, mas sim uma luta entre o Direto e a Psicologia, onde a segunda em meados do século XIX começa a “ganhar seu corpus teórico e prático”, ao qual busca na arregimentação quanto aos desvios de “eus excêntricos e o doentes”, que não estejam enquadrados em torno de explicações burocráticas, que sejam domiciliados, quanto a manter uma a “ordem de convívios”, que venha a necessitar da exclusão forçada perante a presença de alguns parasitários representantes do “Belo Preconceituoso”, para que vários estejam, dentro de tramitações legais, usufruindo, do que seja certo ou errado, em toro da vivência dentro de grupos domesticados por meandros estatais repressivos e destrutivos.

            A Licantropia é uma doença, o Lobisomem um mito, mas o homem é uma realidade, ao qual não se pode negar, tem gosto em testar os limites de suas transgressões, e em se colocar como um ímpeto de subjetividade, que venha a “ser”, diferente “do outro”, mas que dentro do tempo linear, vai se acomodando, em aceitar que as fobias, e suas loucuras, são caminhos muitos estreitos, entre a consciência que não consegue serem compreendidos pelas Leis e Normas, feitas pressupostos burocráticos, como uma aventura em se perder, na racionalidade, como um enlace experimentar o proibido.

            Romasanta é um caminho de luz, para arquitetar, parâmetros, de um libelo das Leis e de conjecturas quanto à transversalidade, em uma semântica, de que a Psicologia, precisa se reinventar constantemente, perante as múltiplas formas de transtornos que vão surgindo conforme o “sapiens” vai deixando sua marca perante terra, e se desenvolvendo tecnicamente, mas retrocedendo em princípios básicos, como a respeitar o próximo, como também a entender, o que seja “diferente”, para não dizer “excêntrico ou esquisito”.

            Para a “cultura de massa”, homens-lobos, representam a ferocidade, de uma sanidade que se perdeu em pecado, voltando as suas origens pré-históricas, onde se, haja somente por instinto, mas com um grau de se caminhar para uma liberdade, onde a brutalidade é uma maneira de suportar uma humanidade, que busca por alguém ou a presença algum ser, metafísico ou físico, para apresentar e redimir  seus fracassos, quanto à constituição de um “sujeito”, que se respeite e auto respeite dentro de uma epistemologia, que assim deixe de lado suas vilanias, quanto a depositar seus ódio e raiva, como a castigar aqueles que são indefesos com suas  mentes mais simplórias e débeis,  contendo  sua base de defesa seja ela racional, ou até mesmo pela força física, meneadas entre uma e outra.

            No fundo, todo ser – humano, por mais bondoso que possa demonstrar ser para os “outros”, possui um desejo forte de abusar dos mais fracos, como uma maneira de demonstração de poder, tanto corporal como institucional perante os elementos sociais que o cercam.

            Segundo Jean Piaget (1896 – 1980), “adultos com alma de crianças, fazem julgamentos, como sendo a verdade universal pura”.

             Se existe uma verdade clara em Romasanta, é que seus crimes são um balanceamento, entre o equilíbrio de hipocrisia em se andar na linha, diante a conter o prazer em conter o luxo de algum desvio psíquico, ou a psicopatia, em se viver sem nenhum tipo de medo, perante as consequências de seus atos, onde para transgredir, há um novo mentir, em cada sentir, em omitir, o que seja fingir, e no caso dos desprendimentos e a sua dissimulação, em sua interpretação, Julian Sands (1958) (Romasanta), mostrou que um verdadeiro monstro, não precisa de pelos e nem garras, mas sim um bom charme e uma boa arte da ilusão, para assim conseguir capturar suas vítimas, tanto corporal, como de forma sentimental.

Dados Técnicos.

Romasanta – A Casa da Besta

Filme de 2004, com 1 hora e 30 minutos de duração.
Direção: Paco Plaza.
Elenco: Julian Sands, Elza Pataky, John Sharian, Gary Piquer, Ivana Baquero, David Grant…
Drama – Mistério – Terror | Espanha – Inglaterra – Itália

Sinopse: Diversos corpos começam a aparecer nos arredores de uma cidade, despertando o terror na região. Ao mesmo tempo, o mercador charmoso e inteligente Manuel Blanco Romasanta (Julian Sands) chega à região. Produção baseada num caso real ocorrido em 1852, conhecido como o Lobisomem de Allariz, um dos maiores assassinos da história.