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Os Misteriosos Assassinatos de Hinterkaifeck

Tudo que acontece nesse mundo é complexo. Nada é simples. Cientistas fazem descobertas impressionantes todos os dias. Cada vez mais adquirimos conhecimento e, cada vez mais, descobrimos que não sabemos absolutamente nada.

No meio de toda incerteza, de toda complexidade do universo, casos e mais casos sombrios, sobrenaturais e macabros acontecem e ficam sem resolução por anos e anos, como é o caso desse que iremos contar aqui.

Hinterkaifeck é uma pequena fazenda localizada entre Ingolstadt e Schrobenhausen (aproximadamente 70 km ao norte de Munique).

Uma pequena fazenda, como tantas outras, se não fosse pela fatídica noite de 31 de março de 1922, onde seis moradores – Andreas Gruber (63) e a esposa dele Cäzilia (72); a filha viúva deles Viktoria Gabriel (35) e os dois filhos dela, Cäzilia (7) e Josef (2); e a empregada Maria Baumgartner (44) – foram mortos com uma enxada.

Mas vamos voltar um pouco no tempo.

Construída em meados de 1863, Hinterkaifeck nunca foi nome de cidade ou de alguma localização oficial, ali tínhamos o nome não-oficial de uma casa.

Na realidade ela pertencia a Gröbern (Alemanha) como a casa de número 27 ½ do município de Wagen.

Após os horrendos acontecimentos, a fazenda foi demolida, revelando a enxada utilizada no crime e um canivete no celeiro.

Depois disso nada mais foi construído lá, apenas um altar memorial.

Os Misteriosos Assassinatos de Hinterkaifeck
Imagem via Commons Wikimedia

Seis meses antes do ataque, a empregada do local pediu demissão, alegando ter ouvido diversos sons estranhos, por isso acreditava que tal local era assombrado.

Dias antes dos assassinatos, Gruber contou aos vizinhos que havia descoberto rastros na neve que levavam da floresta até uma porta quebrada na casa das máquinas da fazenda e que essas marcas não saiam da fazenda, nos mesmos dias algumas chaves da família sumiram.

Ele também contou que ouviram passos no sótão, mas que foi revistar e não encontrou nada.

Um amigo da escola de Cäzilia Gabriel, disse que a menina contou que sua mãe, Viktoria, havia fugido da fazenda na noite anterior, tudo por causa de uma briga violenta, ela foi encontrada horas depois na floresta. A família também notou um homem com bigode parado olhando em volta da casa.

E, além de todos os fatos já citados, uma coincidência macabra também aconteceu. Foi em 31 de março de 1922, uma sexta feira, que a nova empregada, Maria Baumgartner chegou à fazenda. A irmã de Maria ficou lá por um breve período e partiu, naquela noite, Viktoria, sua filha Cäzilia, e seus pais, Andreas e Cäzilia foram, de alguma forma, atraídos ao celeiro, onde o criminoso usou uma enxada da família para mata-los com golpes na cabeça. O criminoso utilizou a mesma arma para entrar na casa e matar Baumgartner, que estava em seu quarto e, presume-se que Josef foi morto por último, já que dormia em seu berço.

Demorou quatro dias para que fosse descoberto os assassinatos. Vendedores de café passaram por lá em 1 de abril, mas não viram ninguém. Na escola, como Cäzilia não justificou suas faltas, e na igreja como não foram ao culto no domingo, começaram desconfiar. O carteiro também havia notado, no dia 3 de abril, que tudo estava calmo, e em seu depoimento, negou o fato que diziam que ele havia encontrado jornais dos dias anteriores lá. Mas foi o funcionário Albert Hofner que foi até a fazenda para consertar um triturador de alimentos, que contou a filha do guia do vilarejo (Lorenz Schlittenbauer) sobre o silêncio sepulcral da fazenda. Ele também comunicou o prefeito Georg Greger sobre o fato.

Foi na mesma tarde que Schlittenbauer mandou seu filho e seu enteado até o local, para ver o que estava acontecendo, mas eles voltaram sem notícias também. Então o próprio Schlittenbauer foi até a fazenda, junto com Michael Pöll e Jakob Sigl e ao vasculharem o local, deram de cara com o horror.

Os Misteriosos Assassinatos de Hinterkaifeck
Imagem via Google Imagens.

O inspetor Georg Reingruber e seu departamento ficaram encarregados de investigar os assassinatos. Só que tal investigação ficou prejudicada pelo tanto de gente que havia passado no local, alguns até haviam movido os corpos e mexido na cozinha.

O médico Johann Baptist Aumüller ficou responsável pelas autópsias e constatou que o objeto mais provável do crime havia sido uma enxada, mesmo sem encontrarem o objeto. As evidências também mostraram que a jovem Cäzilia ficou viva por horas após o ataque. Os crânios das vítimas foram removidos e enviados para Munique, para serem examinados minuciosamente, depois elas foram mantidas em Augsburgo e perdidas, possível em algum bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial. No dia 8 de abril os corpos foram enterrados no cemitério de Waidhofen.

No início as suspeitas recaíram sobre viajantes, habitantes do vilarejo e sem tetos que rondavam o local, o motivo do crime era creditado a um possível roubo. Porém, após várias revistas, encontraram dinheiro, então essa possibilidade foi descartada. Também ficou claro que os criminosos ou, o criminoso, ficou vários dias na fazenda, pois o gado estava alimentado e não tinha mais comida na cozinha e, ainda, vizinhos relataram que havia fumaça saindo da chaminé no final de semana.

Como tudo era muito incerto, no ano de 1955, encerraram o caso. Mesmo assim, só em 1986 os últimos interrogatórios aconteceram. Ao todo mais de 100 suspeitos foram interrogados, algumas prisões foram feitas, logo desfeitas, e tudo foi muito inconclusivo

O fato é que muitas inconsistências foram geradas. Nos relatórios policiais dava-se que as vítimas haviam sido atraídas ao celeiro mediante alguma agitação dos animais no estábulo. Porém, quando tentaram fazer tal agitação, notaram que não era possível ouvir voz humana no celeiro. Então qual o motivo dos quatro integrantes mais velhos da família irem primeiro ao celeiro?

A sequência exata de eventos também não foi definida, pois só tiraram cinco fotos, onde duas são dos corpos no celeiro, uma da empregada no quarto, uma do berço e uma da vista da casa para o jardim. Impressões digitais também não foram colhidas. Uma reconstituição revelou que Viktoria foi, provavelmente, a primeira vítima. Depois foi Cäzilia e seu marido Andreas e, por fim, a jovem Cäzilia. Na casa Maria Baumgartner foi antes de Josef.

Presume-se que o assassino estava dentro do telhado, antes do ato, já que encontram sulcos de feno e telhas fora do lugar. Mas também existe uma teoria que Gruber e Viktoria mantinham relação incestuosa nesse local, isso explicaria porque Gruber, mesmo vasculhando a casa algumas vezes, como relatou aos vizinhos, não notou nada anormal.

O artesão Michael Plöckl passou por Hinterkaifeck um dia após o assassinato, segundo seu relato o forno estava ligado e exalava mau cheiro, quando ele se aproximou alguém o cegou com uma lanterna. Ele apenas foi embora. Esse fato não foi investigado. No mesmo dia o fazendeiro e açougueiro Simon Reißländer notou duas pessoas estranhas em volta da floresta, elas viraram o rosto quando o viram. Depois do assassinato descoberto, ele achou que os dois pudessem estar envolvidos.

Quando Albert esteve consertando o maquinário, notou que a casa estava fechada e que só era possível ouvir um cachorro latindo lá dentro. Depois, quando terminou o concerto, notou que o cachorro estava para fora e o celeiro aberto. Porém, quando descobriram os corpos o cachorro estava dentro do celeiro e a porta estava fechada. Só que seu depoimento só foi colhido em 1925. Em meados de maio de 1927, surgiu um rumor que um estranho parou um residente de Waidhofen à meia noite, perguntou sobre os assassinatos e saiu correndo para floresta gritando que era ele. Esse homem nunca foi descoberto.

E mesmo com todas essas dúvidas. Alguns nomes figuraram entre os principais suspeitos.

Karl Gabriel era marido de Viktoria Gabriel e, supostamente havia sido morto durante a Primeira Guerra Mundial. Seu corpo nunca foi encontrado, por isso, após os acontecimentos na fazenda, começou-se especular que ele poderia estar vivo e, descobrindo que Viktoria e seu pai Andreas, mantinham relação incestuosa, resolveu se vingar. Tal teoria se solidificou com o passar dos anos, mesmo com os soldados dizendo que Karl havia sido morto.

Lorenz Schlittenbauer também foi suspeito, pois acreditava-se que ele tinha um relacionamento com Viktoria e era pai de Josef. Tal suspeita se deu durante a investigação, já que tiveram que quebrar os cadeados para entrar no celeiro e, quando deram por conta, Lorenz entrou, aparentemente, com uma chave dentro da casa. Como dias antes do acontecimento chaves haviam sumido do local, Lorenz virou suspeito. Quando questionado sobre o motivo dele entrar na casa sozinho, ele relatou que havia entrado para procurar seu filho, Josef. Também é sabido que ele mexeu nos corpos na cena do crime, atrapalhando a investigação.

Durante muito tempo as suspeitas ficaram em cima de sua pessoa, ainda mais depois que ele foi encontrado visitando Hinterkaifeck após ser demolida. Acabou falecendo em 1941, mas não sem antes ganhar diversos casos de calúnia contra pessoas que o chamavam de “o assassino de Hinterkaifeck”.

Os Irmãos Gump também viraram suspeitos, diziam que Viktoria e Adolf Gump tinham um relacionamento, que nunca foi comprovado. Adolf, por sua vez, já havia participado de um outro caso de assassinato, então, ele foi procurado para saber onde estava na fatídica noite. Em 1951, o promotor Andreas Popp investigou seu irmão, Anton Gump, já que sua irmã, Kreszentia Mayer, alegou em leito de morte que os dois haviam cometido tal barbárie. Anton foi mantido sob custódia policial, mas Adolf já havia falecido em 1944, Anton acabou ficando pouco tempo sob custódia, já que não encontraram provas sobre eles.

Em 1971 outra suspeita apareceu, dessa vez uma mulher chamada Therese T. citou que quando tinha doze anos sua mãe recebeu a visita da mãe dos assassinos e que durante a conversa ela revelou que seus filhos chamavam Karl S. e Andreas S. e que Andreas ficou triste por perder o canivete. Sabe-se que na investigação um canivete foi encontrado, porém, nunca foi possível dizer de quem era o objeto e nem se essa história é verídica.

Josef Betz citou que Peter Weber trabalhou com ele em 1919 – 1920, e que ele havia citado uma fazenda remota em Hinterkaifeck e sugeriu que matassem os membros da família para roubarem o dinheiro. Como Betz não respondeu positivamente, ele nunca mais tocou no assunto.

A antiga empregada, Kreszenz Rieger, colocou como suspeita os irmãos Anton e Karl Bichler, pois Anton havia ajudado na colheita de batatas, já Bichler falava frequentemente sobre à família e, supostamente, disse que eles deveriam estar mortos. Ela ainda disse que o cachorro da fazenda nunca latiu para Anton, com todos os fatos, ela cita um terceiro, chamado de Georg Siegl, que trabalhou na fazenda e sabia que a família tinha bastante dinheiro. Supostamente, ele até havia roubado o local no ano de 1920. Fato nunca comprovado também.

A empregada também citou que Josef Thaler parou na sua janela durante uma noite e fez perguntas sobre a família, também perguntou em qual quarto cada um dormia e citou que eles tinham muito dinheiro. Ainda, de acordo com o depoimento, Thaler e seu irmão já haviam cometidos pequenos furtos no local, e naquela noite uma segunda pessoa estava por perto e ficaram olhando a casa das máquinas.

O autor Bill James, em seu livro, “The Man from the Train”, disse que Paul Mueller poderia ser o responsável, já que o assassinato tinha semelhança com seus crimes nos Estados Unidos, onde, em um deles, assassinou uma família que morava em uma casa isolada com um picareta. Nesse crime também não houve roubo.

Livros, artigos e documentários foram lançados sobre o horrendo acontecimento. Todos utilizando os fatos citados na matéria, relatórios policiais e especulações. Destacam-se os livros de Peter Leuschner (Hinterkaifeck: Der Mordfall. Spuren eines mysteriösen Verbrechens) e os artigos de Josef Ludwig (Schrobenhausener Zeitung).

Em 2007, os alunos da Polizeifachhochschule (academia de polícia) em Fürstenfeldbruck examinou o caso utilizando técnicas modernas e concluíram que é impossível solucionar definitivamente o crime depois de tanto tempo.

A grande realidade é que com os poucos equipamentos e recursos, aliados ao preparo baixíssimo da polícia local, o caso ficou sem solução e não creio que depois de tanto tempo, uma reviravolta aconteça.

Os Misteriosos Assassinatos de Hinterkaifeck
Imagem via Google Imagens.

Fontes: Hinterkaifeck, Donaukurier, Wikipedia e Google Imagens.

Links: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hinterkaifeck-Marterl.jpg

https://www.hinterkaifeck.net/

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Sonstiges:_Der_Hof_Hinterkaifeck#Erbauung

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Datei:Hofbildhinterkaifeck.jpg

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Aussagen:_1952-01-10_Mayer_Josef

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Berichte:_1922-04-06_Wiessner_Konrad,_Oberamtsrichter

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Aussagen:_1952-01-10_Sigl_Jakob

https://www.donaukurier.de/themen/dossiers/hinterkaifeck/90-Jahre-Hinterkaifeck-Der-Verdaechtige-Lorenz-Schlittenbauer;art199186,2580235

https://www.donaukurier.de/themen/dossiers/hinterkaifeck/90-Jahre-Hinterkaifeck-Die-Verdaechtigen-die-Brueder-Gump;art199186,2582798

http://www.hinterkaifeck-mord.de/homepage/html/Navilinks/Verdaechtige.html

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Aussagen:_1922-04-07_Betz_Josef

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Aussagen:_1922-04-27_Siegl_Georg

https://www.hinterkaifeck.net/wiki/index.php?title=Aussagen:_1922-04-24_Rieger_Kreszenz

https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Man_from_the_Train

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