Quando começamos viver, achamos que o mundo é incrível e tudo é fácil. Não importa onde você tenha nascido, sempre irá olhar com aquele olhar inocente, imaturo.
Com o passar do tempo, começamos criar consciência sobre o mundo que nos cerca e vemos que nem tudo são flores, aliás, quase nada são flores.
Em 2017 foi lançado no Brasil “Um Homem Chamado Ove”, digamos que não fosse chamativo o título, ainda mais se tratando de um filme sueco.
Mas vida real é aqui, no Brasil, é lá na Suécia também. É nos EUA, no Afeganistão e no Zimbábue. Em todo local que existe vida, existe decepção, amor, ódio, esperança, rancor, justiça e injustiça.
Em todo local que existe vida, existe complexidade, Ove, interpretado por Rolf Lassgård, nos mostra isso. Ele é um senhor extremamente ranzinza. Não gosta de conversar com as pessoas e, em praticamente todos os momentos, é sem educação com quem se aproxima.
Ove é o típico sujeito que acha que está certo em tudo. Não respeita opiniões contrárias e não gosta de sair do “seu mundinho”. Mas algo de contraditório coexiste com seu ser. Ele exala o mau humor, transmite um olhar de raiva gigantesco, e só não é mais paranoico porque não tem espaço. Só que a contradição vem no exato momento em que alguém precisa de algum favor. Ove resmunga, faz cara feia, mas no final é solicito com praticamente todos que o procuram.
No primeiro momento nós sentimos repulsa ao ver suas atitudes. Com o desenrolar da trama vamos entendendo suas “motivações”. Ove é um cara marcado pelas tragédias. Sua vida não foi fácil, todo tipo de decepção o cerca desde pequeno.
Do outro lado temos Parvaneh (Bahar Pars), ela acabou de se mudar, é casada, mãe de dois filhos. Sua personagem é engraçada em alguns momentos. Em outros, impertinente. Ela se mantém firme e forte aguentando a chatice de Ove. Coisa até “compreensível”, afinal, ela necessita da ajuda do senhor em muitos momentos.
Ove é complicado. É triste, melancólico e, em alguns momentos, cruel. Ao sabermos de todo seu passado vemos que lá no fundo ele é só um cara que não aguentou a crueldade do mundo.
Não aguentou ficar só. Não aguentou viver de lembranças e, por isso, desejou a morte.
Ah, morte!
Cruel e impiedosa, que faz o mais poderoso se render. Que faz o mais humorado se entristecer, que faz o mais cerebral enlouquecer.
Ela chegou perto de Ove, assim como já chegou perto de você. O velho ranzinza, imperfeito e, lá no fundo, carente de atenção, se fechou para o mundo, só conseguiu sorrir ao aceitar Parvaneh como uma vizinha inconveniente, mas que estaria lá, quando ele também precisasse.
Só quando deixou um pouco da amargura sair, sorriu. Só quando deixou a tristeza ir embora, viveu.
Ah, Ove. Quantos não existem por ai? Será que não nos tornaremos ele?
Com todas as suas imperfeições e tragédias, ele viveu, mesmo que em alguns momentos não querendo e, com todos os problemas nos trouxe uma grande lição: a vida sempre continua, queira você ou não, e quando você se abre para o mundo, vez ou outra, algo bom surge.
Sigam-me os bons!