Piteco e as Graphic Novels no Ensino de História
As aulas de história se apresentam de formas diferentes na contemporaneidade, a ideia de diálogos entre passado e presente tornaram-se tão potentes, que até escutamos os ecos do tempo. Entre as diferentes opções de se trabalhar com Ensino de História, estão, por exemplo, as histórias em quadrinhos. O historiador Leandro Karnal nos lembra que “a história está envolvida em um fazer orgânico: é viva e imutável”.
Jaime Pinsky comenta sobre as possibilidades de aproximar a história dos alunos, interagir com ela, uma prática que eles se sentirão qualificados e inclinados a exercer. Nesse sentido, a ideia de construir o hábito de leitura pode se basear, incialmente, na inserção de histórias em quadrinhos na sala de aula.
Observando as questões discutidas até o momento, e levando em conta a possibilidade de contribuir para o ensino de história e suas inúmeras possibilidades. Apresentarei duas Graphic Novels que nos ajudam a discutir sobre a Idade Antiga (assunto recorrente no 6º ano do ensino fundamental e no 1º ano do ensino médio), especificamente, propondo outros olhares sobre as “sociedades das cavernas”, geralmente atribuídas ao conceito “Homens das Cavernas”, mas, observamos que não viviam apenas homens naquele período, então, propondo um alcance maior de visibilidade, faremos o exercício de utilizar o termo sociedades das cavernas (algum historiador pode aparecer e dizer que é algo anacrônico, pois, o conceito de sociedade surgiu bem depois, etc…), mas, o trabalho em quadrinhos me permite a tal “licença poética”, então, caso o termo não o agrade (fazer o que né?).
Voltando a parte interessante da conversa, o selo GRAPHIC MSP (galera que produz a Turma da Mônica), desenvolveu uma série de narrativas sobre seus personagens, que dialogam com outras questões, como por exemplo, a ideia de uma história em quadrinhos para jovens e adultos. E dentro desse repertório, estão as aventuras de Piteco, criado por Mauricio de Sousa em 1963.
Logo, as versões mais atuais do personagem, podem funcionar como recurso didático-metodológico para as aulas de história.
Em Piteco – Ingá, criada por SHIKO, é nítida a ideia de uma pré-história com um quê de Paraíba, como anunciou Mike Dedodato Jr. (desenhista da Marvel Comics). A narrativa se inicia com uma contação de histórias, evidenciando a importância da oralidade no cotidiano de nossos ancestrais. E a ideia de que todos éramos do mesmo tronco se faz presente, contemplando reflexões sobre a origem da humanidade. O sentido da coletividade de um povo, outra camada relevante entre as páginas, apresentando um tempo que lembra muito o conceito UBUNTU (eu sou porque nós somos). Nota-se também, questões ligadas a religiosidade, e a importância do Xamã para o povo. A narrativa apresenta uma série de questões para serem discutidas entre os alunos. E não é diferente em Piteco – Fogo, criada por Eduardo Ferigato, ao discutir a importância do elemento “fogo”, sua textura quase queima nossas mãos ao folhearmos as páginas. O autor apresenta a essência da natureza em brasas, o respeito que a sociedade das cavernas tinha por tal elemento, e o cuidado ao compreender que não se pode desdenhar de uma força da natureza. A narrativa também propõe reflexões sobre a família, e a importância de “ouvir os mais velhos”. Trazendo outros olhares sobre os povos que iniciaram a existência em nosso planeta.
Portanto, as duas aventuras de Piteco, funcionam como um bom ingrediente para diversificar as aulas de História, e obviamente podem ser usadas em uma série de outras disciplinas, desde que, o professor tenha tempo para ler uma história em quadrinhos…