Um dos fantoches mais conhecido do Brasil, esse é o Louro José, companheiro de Ana Maria Braga. Mas não basta o fantoche ser bem desenhado e bem confeccionado. Tem que ter alguém por trás para dar vida e, grande parte desse sucesso se deu graças ao carismático Tom Veiga.
Ali ele não é coadjuvante, é personagem principal, sempre dá seus pitacos irônicos e bem-humorados. Vive contando piadas e discordando da Ana Maria Braga.
Para saber um pouco mais sobre tal personagem, precisamos voltar no tempo.
Dizem que foi em 1995 que Tom e Ana Maria Braga se conheceram, ele organizava feirinhas de artesanato e ela divulgava no programa “Note e Anote”, não demorou muito e Tom foi convidado para integrar o programa como assistente de palco.
Em 1997, após ficar presa no trânsito junto com seu marido Carlos Madrulha, ela reclamou dizendo que seu programa vinha logo após uma atração infantil, e que ela precisava de um boneco para fazer essa ‘transição ser menos dolorosa’. Seu marido então propôs que ela usasse um cachorro como fantoche, ela não concordou, afinal, cachorro não fala. Carlos prontamente respondeu: “Se precisa falar, então bota um papagaio”
“Quando cheguei em casa, corri para a mesa da cozinha e esbocei o boneco”, afirma Madrulha.
Já o nome teria surgido naturalmente, pois Ana Maria tinha um papagaio chamado José, que vivia repetindo frases de seu filho, Pedro.
Madrulha então foi atrás do pessoal da Display Set, que fazia bonecos para TV Cultura, e encomendou cinco Louro José. Algumas semanas depois, o personagem iria ao ar. Mas uma dúvida ainda havia.
Quem iria dar vida ao personagem?
Só podia ser Tom Veiga.
Reza a lenda que ele vivia brincando nos bastidores e vivia sempre bem-humorado, então, naquele momento, em 1997, Ana Maria Braga havia ganho seu braço direito.
Em 1999, após alguns atritos, a dupla mudou da Record para Globo, onde permaneceram até hoje (2020).
“Precisava ser um bicho que falasse, que interagisse comigo, mas não podia ser cachorro, porque cachorro não fala, passarinho não fala. E, por eliminação, decidimos pelo papagaio (…) Ele nasceu todo mambembe. Depois a gente foi ajeitando, mudando a espuma, até que ele virou global – aí ficou um astro, lindo. É um filho mesmo” – Ana Maria Braga.
Mas engana-se se acha que o papagaio teve vida fácil na sua carreira. Segundo Roberto Kaz, no livro “O livro dos bichos”, em setembro de 1997, 6 meses após da criação do Louro, a Record tentou registrar a marca ‘Louro José’ no INPI. Mas o registro foi negado, pois a empresa da Ana Maria Braga já havia feito. Ainda em 1997, a Disney entrou com uma ação falando não concordar que terceiro imitem o Zé Carioca, porém, novamente, Ana Maria Braga ganhou a causa.
Em 1998, Antonio Marcos Costa de Lima e Renato Aparecido Gomes, que foram contratados pelo empresário da Ana Maria para desenhar o fantoche, tentaram registar a imagem do personagem. O pedido foi negado.
Em 2004 os artistas reivindicaram na justiça a autoria do personagem.
Em 2005 chegaram vencer em primeira instância em sentença proferida pelo juiz Décio Luiz Rodrigues: “Ainda que a idealização do personagem seja de Ana Maria e seu ex-marido, a criação e materialização do Louro é dos artistas Antonio Marcos Costa de Lima e Renato Aparecido Santos, da Display Set Produções”
A defesa recorreu e só em 2011 o desembargador José Carlos Ferreira Alvez, da 2ª Câmara de Direito Privado de São Paulo, votou pela anulação do processo, em segunda instância, por falta de provas. O que na verdade quer dizer que o caso voltou para estaca zero.
“O Louro José é encrenqueiro, rabugento, chavequeiro, galanteador, mas é muito divertido, inteligente. Às vezes, quando eu revejo um programa, eu me pego dando risada. Eu dou risada com o Louro. O legal na personalidade dele é que cresceu, mas continua uma grande criança” – Tom Veiga, intérprete do Louro José.
Em 2018 tivemos mais uma página nessa história, agora o resultado do processo era de Ana Maria Braga, ela queria ser reconhecida como criadora do personagem e ainda pedia uma indenização por direitos morais, de 650 mil reais.
A apresentadora e o ex-marido entraram com o processo contra a dupla em 2012, alegando que idealizaram o personagem (desenho, características, nome, voz, cores…) em 1997.
Apesar de todo esse imbróglio, o personagem foi sempre muito bem quisto pelo público, e não só o infantil.
Com o ar inocente e brincalhão, era impossível não se apaixonar pelo papagaio, ele, com toda leveza, sem fazer artifícios de malícias ou usar tons pejorativos, foi conquistando seu lugar ao sol.
Hoje, com a notícia do falecimento de Tom Veiga, tão jovem, com apenas 47, não poderíamos deixar de fazer nossa homenagem.
Obrigado, Tom, por eternizar um personagem simples em sua essência, mas grandioso em seu poder de entretenimento.
Descanse em paz.
Fontes: Folha Web Archive, Vilage, Uol, Memória Globo, Globo e Folha.