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Sobre a Brevidade da Vida, um tapa na cara

Séneca, um filósofo da Roma Antiga, escreveu no ano 49 d.C. um livro, nada complexo, como se imagina dos filósofos. Um livro, com poucas páginas. Um livro, que atravessou séculos, milênios. Um livro, mais atual que você possa imaginar.

Séneca, um filósofo da Roma Antiga, escreveu no ano 49 d.C. um livro, livro esse que não é um tapa na cara com luva de pelica, mas é uma surra, com chicotes, choques e água gelada.

São avaros em preservar seu patrimônio, enquanto, quando se trata de desperdiçar o tempo, são muito pródigos, com relação à única coisa em que a avareza é justificada.

Parafraseado Bukowski, quantas horas são necessárias matar para viver?

Quantos dias? Quantos anos?

Ah, meu amigo. O tempo.

Quem não se propõe, todo ano novo, fazer diferente?

Quem não se propõe, após toda ressaca, fazer diferente?

Quem não se propõe, após mais uma desilusão amorosa, com a balança, com o espelho, com a conta no banco, mudar os conceitos?

Ah, o tempo.

Tempo esse que não volta.

“Será que tudo o que fazemos é pelo medo que temos da solidão? Será por isso que abrimos mão de todas as coisas das quais nos arrependeremos no fim da vida? Será por isso que tão raramente dizemos o que pensamos? Se não for por isso, por que é que insistimos em todos estes casamentos falidos, nas amizades hipócritas, nas tediosas festas de aniversários? O que aconteceria se rompêssemos com tudo isso, se acabássemos com a chantagem insidiosa e nos assumíssemos como somos?” – Livro: Trem Noturno Para Lisboa.

Tempo esse desperdiçado, para agradar aos outros.

Tempo esse desperdiçado, deixando de lado sua pessoa e focando na felicidade alheia.

Tempo esse gasto para impressionar gente que nem gostamos.

Ah, o tempo.

Tempo que não volta. Tempo que nem sabemos se temos.

Você pode ir hoje, semana que vem ou daqui 50 anos.

Quem lhe garante alguma coisa?

Quem?

Continue, dia após dia, satisfazendo desejos alheios, vendendo a única coisa invendável, continue, continue… e lá na frente, após todos esses anos gastos, após todos esses anos assassinados e com a impressão de que não se viveu, olharás para trás e desejarás um pouco mais de tempo, só um pouco, para fazer tudo aquilo que queria ter feito, mas que por medo, não fez.

Ninguém devolverá teus anos, ninguém te fará voltar a ti mesmo. Uma vez principiada, a vida segue seu curso e não reverterá nem o interromperá, não se elevará, não te avisará de sua velocidade. Transcorrerá silenciosamente, não se prolongará por ordem de um rei, nem pelo apoio do povo. Correrá tal como foi impulsionada no primeiro dia, nunca desviará seu curso, nem o retardará. Que sucederá? Tu estás ocupado, e a vida se apressa; por sua vez virá a morte, à qual deverás te entregar, querias ou não.

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