“Para conhecer o mal é necessário
voltar-se para os modos concretos em que ele ocorre”
(Tomás de Aquino)
A filosofia (aquela ideia de pensar… E pensar mais de uma vez nas coisas) se apresenta em uma série de “plataformas”, e os animes andam de mãos dadas com a reflexão. Ao lembrar sobre o tempo que assistia Fullmetal Alchemist, iniciei um processo de análise profunda, que inclusive
me fez reler os mangás, fonte inicial das narrativas. Então, optei por observar amplamente: De que maneira os Sete Pecados Capitais eram representados? Tentando “chamar pra conversar” Hiromu Arakawa (autora do mangá/anime em questão), e São Tomás de Aquino (filósofo um tanto quanto conhecido), desenvolvi algumas questões, e gostaria de compartilhar.
Aquino nos ensina que “Os “sete pecados capitais” são o extremo oposto das virtudes, as quais servem como salvação aos pecadores”. Nesse sentido, começamos a compreender o status de vilões nos personagens de Arakawa. E diga-se de passagem, a autora nos provoca com evidências religiosas entre as histórias, ainda sim o filósofo nos lembra que “Os “Sete Pecados Capitais” são atitudes normais do ser humano, que escapam do quadro da racionalidade e que, por isso, se converteram em vícios”.
Luxúria: o pecado da natureza humana
Primeiro, de um modo que contrarie a reta razão (é o caso da fornicação, do adultério, do incesto…); segundo, de um modo que, além disso, contrarie a própria ordem natural do ato venéreo que convém à espécie humana. É o que constitui o vício contra a natureza”. (Tomás de Aquino)
Em Fullmetal Alchemist, Luxúria é uma mulher muito atraente, e entre suas habilidades especiais está a possibilidade de esticar as unhas, podendo tocar no que lhe parece inalcançável. E tal personagem seduz a quem desejar para cumprir seus objetivos.
Gula: um pecado venial
“A gula está ligada aos prazeres do comer e do beber, sem os quais não é possível a vida humana e é por isso que, em relação a esses prazeres, frequentemente se transgrede”. (Tomás de Aquino)
Arakawa apresenta “Gula” como um personagem tímido, aparentemente
inofensivo, que sempre pergunta: “posso comer ele ou ela?” precisando de
aprovação para devorar qualquer pessoa que estiver em sua frente.
Inveja: aflição pela prosperidade
“Ora, sendo a inveja uma tristeza pela glória do outro, considerada como certo mal, segue-se que, movido pela inveja, tenda a fazer coisas contra a ordem moral para atingir o próximo”. (Tomás de Aquino)
O personagem Inveja apresenta um paradoxo, em todos os momentos faz
questão de dizer que os seres humanos são nojentos e inferiores, no entanto, sempre se transforma em um ser humano.
Ganância: o pecado do insaciável
“A ganância indica um desvio, uma deturpação, na medida em que significa uma relação de apego aos objetos que, além de excessivo e sem limites, visa a nada além de sua acumulação.” (Tomás de Aquino)
Ganância não se importa com nada, apenas com seu “bem estar”, atropelando qualquer indivíduo que esteja em seu caminho, como é possível notar no diálogo abaixo:
” – Por que traiu seu pai?
– “Por quê?” Achei que já soubesse a resposta melhor do que ninguém. Eu sou “ganância”. Você me fez assim e é assim que tenho vivido”.
Preguiça: o pecado da divagação da mente
“A Preguiça é aquela tristeza modorrenta do coração que não se julga capaz de realizar aquilo para que Deus criou o homem”. (Tomás de Aquino)
A autora ao representar “Preguiça”, constrói um personagem
extremamente forte e poderoso, que não sente nenhuma vontade de exibir seus talentos. E quando precisa fazer algo, respira fundo e diz: “Isso é um saco”.
Ira: o pecado da insanidade
“Ora, se atentamos à realidade, diremos que a ira é um movimento de apetite sensitivo e esse movimento pode ser regulado pela razão, põe a serviço dela para sua pronta execução”. (Tomás de Aquino)
Ira, é um personagem respeitado por todos os pecados, exímio lutador, veloz e sagaz. Ao se propor a lutar com o inimigo, deseja levá-lo a morte instantânea
Orgulho: o pecado megacapital
“Entre as coisas que o homem naturalmente deseja ser está a excelência, mas o excesso desta é o vício capital conhecido como a rainha ou mãe de todos os pecados: o orgulho”. (Tomás de Aquino)
Arakawa apresenta “Orgulho” como uma criança, mais uma provocação da autora, pois, até se revelar, o personagem é gentil, e livre de qualquer suspeita, entretanto, carrega dentro de si um poder assombroso.
Enfim, essas são algumas das questões que andam “dançando” em minha mente, sobre a representação dos Sete Pecados Capitais. Conversar com Tomaz de Aquino e Hiromu Arakawa foi bem interessante. Espero que vocês também tenham curtido a conversa.