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Euro-Cine | Bacurau

O universo cinematográfico de “Bacurau” promove a ligação de elementos comportamentais frenéticos e alucinados, quanto ao tempo cronológico que vivemos, a um espaço da vingança do “mundo”, perante “o submundo”, que cada indivíduo constrói, ao redor de suas adjacências em procurar caminhos para a sobrevivência, diante a consciência do “estranho”, que se faz estranho em seu espaço intrapsíquico, corroídos por resquícios de um banditismo mental que atua como mocinho em um conjunto psicológico que está fervilhando para loucura, mas que se torna maluco diante os desejos do sexo, que substitui o conhecimento como uma maneira, de suportar um esquecimento natural das pessoas defronte o prazer de se fartar com o poder para uma biológico cada vez mais necrosado pela ignorância e a fome.

Pacote (Acácio – interpretado por Thomás Aquino – 1986) representa o miliciano que por trás da fama de boa pinta, não pensa em atirar para garantir seu ponto de vista de liderança diante a população de um povoado perdido no nordeste brasileiro, encarnando um pacificador que usa da brutalidade como forma de empreender que seus habitantes esteja submetido a um mínimo de dignidade.

Ao contrário de Lunga (Silvero Pereira – 1982) uma mistura de “Lampião com Max Rockatansky”, que além de monopolizar e controlar a distribuição de água da região é uma espécie de pacificador, mas que faz o uso de suas próprias normas e anseios para julgar e definir o que é certo errado.

Se na saga de George Miller (1945)  Mad Max (1979, 1981,1985, 2015), há preocupação com os combustíveis e a preservação dos recursos híbridos, “Bacurau” faz de Lunga e Pacote um guardiões tipicamente, frutos da falta de oportunidade e crescimento diante a miséria do Nordeste Brasileiro, que aderiu a milícia como forma, tanto de obter  respeito como também de desafio ao poder do Estado.

Lunga e Pacote atuam como um pacto de assassínio, comiserado para o bem da maioria das pessoas empobrecidas, e tendo em suas necessidades básicas, sendo escaramuças para a arquitetura de uma ética que fique nos conceitos dionisíacos de suprir através do sangue suas frustrações em uma humanidade que está contemplando um beijo adormecido de uma “morte”, que não deixa de ser real, mas que traz o irreal como uma névoa de fazer da história um cancro de uma desumanidade, para submeter um Sertão ao esquecimento perante o restante do Brasil.

Em Grande Sertão: Veredas (1956), Guimarães Rosa (1908 – 1967) colocou um Riobaldo e uma Diadorim, que dentro dos desejos ocultos despertados pelo cangaceiro em relação a sua parceira, está o sentimento de poder em se livrar do seu destino de ser um matador nato, trazendo algum tipo de alento de civilidade para uma figuras humanas jogadas as traças, por um hegemonia de poderio estatal repressor.

Ainda nas linhas comparativas fílmicas e literárias, está um contrabalanço de ornamentar “transhumanisticamente” uma virilidade masculina, ao qual Domingas (Sônia Braga – 1950), é a imagética do biopoder, que na medicina, é quem decide quem deve ser salvo, trazendo o sentido arregimentado por Michel Foucault (1926 – 1984), da loucura e dos vícios e de seu lesbianismo, como maneira de interpretar uma sociedade, que mesmo diante de tantas privações, procura seu Idea de vivência orgânica, tanto como um antropo de pensamento para se livrar da fome, como a impregnação de exterminar valores colonialistas, que colocam um “messianismo”, que esteja impenetrável em mudar de suas ortodoxias, valorizando assim a destruição da “transmodernidade”, mediando o aumento do preconceito.

Entre os preconceitos sexuais, morais, espirituais, sociais, e raciais, está uma retração do Nordeste, como ele sendo próprio articulador de suas normas contratualistas tanto para as suas sobrevivências, como para lançar uma projeção comportamental, que esteja para uma destruição do “eu – racional”.

Também foca em processos fenomenológicos da questão hídrica colocando um pano de fundo no processo de “caça da dignidade”, organizada em torno de um prazer sem igual pelo proibido, estando o povoado na mira de um grupo de gringos que na sua estética de dominação faz de suas vontades algo que vai ultrapassar os limites constituintes do Estado.

Aliás, o Estado é um adereço de críticas inconscientes, em seu descaso de ação ao projeto de alienação das camadas menos favorecidas, rechaçada pelo alcoolismo de Domingas, ou o semi-analfabetismo de Lunga, como também na forma do sexo como forma de fugir de uma aculturação e da solidão.

O vento como gosto de morte, submete a ligações com o pessimismo do cinema que Ingmar Bergman (1918 – 2007), como a morte chegando para tomar seu lugar de fato, diante as mazelas, de um caminho rumo a inevitável servidão, que faz das pessoas serem escravizadas umas pelas outras.

“Bacurau” é um sinal também de um, certo abandono de Deus, que faz as  suas pessoas prezas para o caçador de gentes Michael (Udo Kier – 1944), que sabatina abater um grupo de nordestinos demonstrando uma “eugenia” a fazer jus as concepções de Monteiro Lobato (1882 – 1948) e assim elevar o nível de um perjúrio de ação cinematográfica ao qual a “cidade” se torna um prazer de tecnologia (drone) voltada exclusivamente pra destituir qualquer tipo de ordem estabelecida.

O “Bacurau” faz alusão a um cangaço as avessas, que ao invés de incentivar a violência gratuita, ela é atribuída como uma forma de manutenção da ordem, e dentro de um viés “marxista” em combater os próprios átrios de destruição interna, implantando um certame ideológico de uma “obra de arte” que se inventa em si mesmo.

Usando de Pierre Bourdieu (1930 – 2002), que se entrega a uma “arte que se impele a tecer um sacramento de realidade, mas que se desfaça no dogmatismo figural, na interpretação”, de como o homem pode se reinventar de ontologias, que façam a modificação do tempo linear, no traçado, que não há igualdade, que não possa ser construída pelo estertor do barulho das balas.

Assim Michael usa das armas, para enveredar uma lembrança histórica, que no Brasil houve uma passado de artimanhas de aproximação de atrocidades parecidas com o holocausto, e ao qual o submundo humanístico é visto, como uma doença que precisa ser eliminada a todo custo pelas pessoas de “bom-berço”, e assim, equalizando uma concentração étnica.

Partindo da visão antropológica e filosófica, “Bacurau” é uma visão, de a “A Utopia” (1516) de Thomas Morus (1478 – 1535) , como não estamos em um consolidado institucional democrático onde haja liberdade e igualdade de forma clara.

A liberdade é um compendio psiquiátrico que produz a ilusão, de que na cultura tudo pode ser realizado e militado, na realização de elevar padrões de uma subjetividade, que não advém de um afastamento histórico quanto ao vício em se tornar parte, de uma arte filosófica de afastamento ético.

Tanto que ainda, usando dos princípios sociológicos de Bourdieu “a obra de arte, para se fazer grandiosa, precisa de regras da sensibilidade não métodos”, regras que possam despertar o mais sensível paladar argumentativo em seus interlocutores.

E assim indo, desde problemas de recursos naturais, até tabus de conduta sexual fica exemplificado, os perigos de um modelo biomédico de tratamento contra os fantasmas mentais intermitentes a uma burocracia em causar o descaso, como fator de uma cegueira sociobiológica, de uma organicidade de maiêutica para se entender, o esclarecimento de felonias em respeito pela vida que atravessem o tempo.

Na visão de Martin Heidegger (1889 – 1976), “os processos fenomenológicos, estão em ir além de uma condição de estrutura mental”, que possa deixar o “olho”, como uma humanização das relações interpessoais, que despertem o animalesco, como viés de um conhecimento que semeia a satisfação de corpo e somente.

Para isso o uso do “Prozol”, não é somente um inibidor de humor, mas sim uma autodefesa contra atributos invasores, que faça do psicológico de cada um, sair do “normal”, mas o que se pergunta a partir disso, o que é ser normal no anormal?

Um “fato social” construído a luz de Émile Durkheim (1858 – 1917) que fosse suplantado “a um sistema de economia de produção e acumulação de matéria cultural ligados a capitais burocráticos”, parafraseando com Max Weber (1864 – 1920), que assim realize uma ciência da sociedade a entender uma necessidade do material, como forma realçar o espiritual.

Mas que por sinal, coloca o “material – humano – intelectual” enfatiza que no uso de medicamentos, posso ser um sinal de alegria e transparência para uma realidade, onde o indivíduo se encontre no cinismo real, de não dar nenhum valor para as depreciações, de uma bipolaridade  questionadora, que faça do espiritual, um sinônimo de timidez, em comparação com a pequenez de um agrupamento que se esconde no atual do seu estado psíquico, e não mais estando enfocado no momento metafórico vivente.

“Comida e Tesão” casam bem nesse sentido, pois a morte é uma companheira que ao olhar do abutre, é um prognóstico que novas carcaças, apareceram mais cedo ou mais tarde.

Ou bem seja a filosofia de um existir, pacífico se distanciou na contingência de uma recompensa metafísica momentânea para suportar os perigos do sertão.

Um sertão que tem vida própria, e que na visão de Guimarães Rosa, “se reinventa, e atenta cada um que se encoraje a deslizar e aventurar  por suas terras”.

Nas questões da linguagem de direção, há um fator de concentração intelectual em se admitir, uma submissão dos mais fracos, está,  sedimentada, em um abstrato desejo de que para se realizar o bem, muitas vezes o mal vem em um primeiro momento.

Para o esquecimento, o advento do divertimento, é um livramento, do aniquilamento virulento do lamento.

A crueldade se torna algo que fica alicerçado, como um sentimento que não causa mais a menor comoção, ou seja, a caçada humana, não é mais um caminho de infringir a lei, e sim como algo sendo normal, voltando ao primitivismo que matar se torna um prazer, mas mais do querer um caminho para o sobreviver.

Em “O Prazer de Matar” (1988) Antonio Banderas (1960) junto com Mathieu Carriére (1950), fazem do homicídio um maneira de enxergar o mundo, como uma persuasão, de sair dos seus esquecimentos psicossociais, traçando um lamento de um compendio para fazer do banho de sangue, uma figuração cíclica da história na fenomenologia, aguçando o conhecimento de sair de dentro de um psicológico marcado unicamente por interesses, em se pertencer e representar pelo o “outro”, construindo algum tipo de educação que esteja pautado no sentimentalismo, de subjugar a barbárie.

A partir da mudança existencialista em que seus paradigmas, não há mais o contato mórbido de tirar a vida por dinheiro e sim, para sair do marasmo de um planeta, que não consegue mudar sua síntese quanto a promover novas respirações de uma lapidação da subjetividade.

A morte se torna algo banal, matar não é nada de pessoal, e sim algo espiritual, que não eleva sentimentos psicóticos, desencadeando um aprisionamento da compaixão.

Em O Alvo (1993), Jean Claude Van Damme (1960) combate uma organização de “granfinos” tendo em sua liderança Lance Henrisken (1940) e Arnold Vosloo (1962), que caçam veteranos do “Vietnã”, promovendo um parque de diversões da matança indiscriminada, evidenciando um processo de empobrecimento dos princípios do “Direito ao Ócio” seja ela qual for, no disparate de respeito pelos Direitos Humanos.

Em Bacurau, norteia o surgimento dos “impulsos orquestrados”, pela não pacificidade de um cânone cultural, que se submete a uma visão lúdica do assassinato, do pangermanismo, que no papel, Michael lembra a sanha da fuga de membros e adeptos do “Terceiro Reich”, que impregnam o racismo, em uma eugenia que valorize a impureza dos tupiniquins, e não contendo um eixo cultural claro, a ser seguido como modelo científico, e  que possua o seu reconhecimento perante as heranças de um eurocentrismo discriminador.

Assim sendo, uma nova forma de colonialismo está na capacitação de que a carência de informação, e também o bloqueio da tecnologia que possa  chegar para todos os locais, faz uma produção intelectual pobre, e cheia de falhas onde as elites estão em promover uma aglutinação da miscelânea da comunicação dialética, quanto a elevar uma arte, que trate unicamente do “belo” sem ser classicista, e que não coloque o horrível, como uma das principais características do Brasil, elevando, o sentido da necessidade do herói misturado a figura do bandido que luta contra a escravização, pelo estrangeirismo predatório.

Na questão educacional a figura do professor, está em um caminho para uma sociologia política, que admoesta uma escritura dos perigos de uma sociedade que não lê, e escancara a construção de álibis de inteligências excludentes, está implantado a não fechar seus cortes anatômicos destrutivos quanto à indiferença em realizar contracultura.

Aliás, nesse sentido de desenvolvimento de enredo, em levar nas minúcias dos signos de um preconceito formado e apreciado como um estereótipo de  apagar registros existenciais, tendo a desenvoltura de uma população que fique “riscada do mapa”, faz uma vertigem separativa quanto a uma união pacificadora entre povos antagônicos.

Para isso a união do cinema com política gera uma autodeterminação cultural, em um cabido de massificação, quanto a nutrir e interrogar para uma adjetivação da escuridão do descaso do poder público,  que em tempos sombrios se arma para outros descasos, em não levar para opinião pública a ciência de mesurar atividades de infraestrutura que possam colocar em chances de oportunidades todos os mancebos, que estão ideologicamente dentro de um utensílio de dominação social – mental, no sentido de limitação da liberdade de expressão.

Ou seja, Bacurau, dentro da concepção autoritária regionalista a um comparativo com Victor Nunes Leal (1914 – 1985) “é a visão de um coronelismo, no sentido de um déspota fazendo fazer valer, sua posição através do poder das armas”, no conluio de uma desconstrução da sociabilidade dos mais necessitados.

Visão de um “neoliberalismo”, que aprisiona e expõem a carência de um “Estado de Bem-Estar Social”, que integra um vício, em embaraçar o “eu” a se redescobrir no tempo, fazendo seu “ser”, uma heteronímia figurativa e simbólica, de que o mal está incutido não como um sentimento de relacionamentos não correspondidos, e sim como naturalismo, de ter a objetividade em construir e realizar sonhos, e de ser um tutor guiado diante o deserto da solidão espiritual, sufocando um gemido quanto extenuar rubricas da criticidade como arma contra uma concentração de poder, em apresentar o rebaixamento moral, substituído por um prelado da “dasein” modal e desigual.

Tanto Lunga, Michael, Pacote, Domingas, possuem a representação, de somatizarem vitimismos com heroísmos, beirando a práxis de justiça cega.

Bacurau se tornou um novo caminho de uma “Auto da Barca do Inferno”, onde seus pecados são colocados em cada tomada de cena, aspergidas com o sexo como forma tanto de distração, mas na engatilhado no surgimento de emoção em romper os traçados filosóficos de um cinismo quanto a manter uma condição de vida prazerosa.

Domingas é um sínodo “foucaultiano”, do biopoder, que internamente quer a cura para seus companheiros, mas que não consegue se desvencilhar do vício, e também de sua sexualidade, sendo assumida de maneira, ao qual seduz uma historicidade, que vai além do acontecimento atual, e sinaliza o “corpo como uma forma”, de sustentação dos desejos, mais irrequietos, ao qual Michael usa de seu “new fascism”, na aridez de um enrijecimento racional indagatório causado pela natureza do sertão onde caçar, é como o ar que se respira, e os corpos são apenas um fator necessário para sua fuga de realidade.

Pacote, atua sendo como um agenciador e organizador público, que faz da cidade, um anteparo de questionamentos voltados comparação com o quarto filme da saga Mad Max: Estrada da Fúria (2015).

“Quem matou o mundo?”

Mas para quais caminhos de profecia de surgimento a um novo messias na “Terra do Sol”, alvorece a necessidade da humanidade cometer, o suicídio de se perder em cosmo do pecado, mas que é sagrado no esquecimento de uma jornada cosmológica ao qual já não possui limites de frenagem.

Defronte ao questionamento feito Max (Tom Hardy – 1977), “Quem matou o mundo?” no cenário apocalíptico, do Sertão há uma mensagem gnóstica, que se faz com elementos de uma corporação psicológica, que reduz o ser – humano ao subproduto de suas vontades mais mórbidas particulares.

Um toque de romantismo, onde as tecnologias de drones, ao espionar a vida dos seus habitantes, em uma socioespacialidade libidinal de que não se tem mais o discernimento da privação.

Teresa (Bárbara Colem – 1986), é objeto do desejo sexual solitário e adormecido de Pacote, buscando no seu marasmo um pouco de amor, que não fique ao hermetismo da tradição cristã, e sim que possa não estar constrangido na solidão individual de cada um e ao silêncio de um lugar onde o passar das horas, se reduz com a novidade mais simples, mas que  faz as pessoas, não se comportarem de maneira unívoca, e sim sendo massificadas, pelo descaso de arrefecer benefícios, de um trabalho ou atividade de ação mental que possa compor outro sistema ideológico elucidativo contra as miseras condições de relacionamentos extras e intras humanos.

O submundo é ressuscitado, como um primado realístico, que faz a sentença, de julgamentos sociais, não é mais ético perante os crimes de hipocrisia do descaso republicano, mas sim um imperativo de extremismos de divisões das classes sociais, contra uma democracia excludente que coloquem em frequência dos esplendores métricos igualitários, um expressionismo de compromisso com o próximo de colaboração mútua, quanto a não conter uma estética de provocação contra o comodismo em se aceitar toda e qualquer tipo de injustiça.

Assim, Bacurau reflete um urbanismo que faz das pessoas um universo repleto de um entretenimento de distanciando do amor, que através dos usos do estereótipo da morte, faz a polaridade comportamental, em não satisfazer todos os paralelos biológicos e sociais, que possam não caminhar rumo a uma barbárie institucionalizada.

Seus personagens caminham por um deserto de esquizofrenia que possa entrever um mutualismo de respeito pelo próximo, com uma ciência que não pode trazer comodidade, mas sim um batistério benfeitor coletivo, em que seus membros busquem no coito permanente, uma arma de resistência, para uma vivência em se colocar a arte em favor de uma não mecanização do consciente, de que a guerra é algo “real”.

Dentro do cunho de uma cidade que no tempo histórico usufrua da admissão de um novo tipo de batismo geográfico, na visão de Michael é um sacramento de que o machismo faz uma individuação egoísta de união entre os gêneros, estando de certa maneira na vertente de Domingas, que no seus vícios, exala a independência feminina.

Bacurau é uma diversão crítica, de que o biopoder, não está inteiramente organizado ao controle de corpos, mas sim em um cansaço intelectual, em explicar como sertão brinca com o imaginário, a ter uma ininterrupta metafísica de procurar saber como “o ser se prostra”, no sentido de angariar fenomenologias que produzam rebeliões do senso comum.

A “teoria cibernética do drone” como os “olhos do mundo”, que diminua as fronteiras, entre a bandidagem existencial de Lunga, com o terror de uma caçada humana de Michael, e seu bando descendente idealístico do III Reich, é uma analogia, para se faça o comparativos entre a selvageria de um “new-colonialism”, em que o civilizado homem-europeu, ainda não entendeu segundo as palavras de Sérgio Buarque De Holanda (1902 – 1982) candura do “homem-cordial dos trópicos”.

A busca de um multiculturalismo, que provoque não o estranhamento, mas sim válvula de escape epistemológico, de que há feitos sociais que somente mudam conforme, o objetivo teleológico de como o significante, vai se pronunciar defronte as vaidades, de que para uma massificação da diversão é descabido transpassar os direitos humanos mais elementares.

Sendo, dentro de uma visão constituinte, Bacurau é uma simbologia que pouco se mudou diante, uma couraça, de alimentar o preconceito, de um reducionismo da condição humana do brasileiro.

A República promoveu o descaso, enquanto os gringos fazem pouco caso de um universo de atuação de igualdades plenas, que diante as maravilhas da computação não se extasia em somente demonstrar a dor e a morte, dos “amaldiçoados”, pela condição humana de inferioridade, mas sim em se divertir com o seu sofrimento.

Voltando a Ingmar Bergman, em sua cinematografia, esboçou o temor da morte, como uma arte que vai sendo construída ao longo da vida, engrandecendo faculdades mentais, que facilitem um comportamento que esteja, na ética do absurdo, de que viver é um dizer, de resistir ao comodismo.

Bacurau combate o comodismo, tirando o seu descanso pela presença da destruição e não a abjuração do egoísmo, ou seja, os tiros foram uma forma de mostrar mesmo de maneira ficcional, que muitos agrupamentos são percebidos, através da violência.

Assim o povoado, volta a conter uma educação que indiretamente toma conta de uma letargia de instrução aguda do questionar, que é substituída pelas armas, não admitindo, que saia dessa panacéia de uma institucionalização da ignorância, pela qual o próprio Mário de Andrade (1893 – 1945) em seu “Macunaíma” (1928) tinha ressaltado “que o brasileiro é um povo ocioso por natureza”, o que pode se determinar, que Bacurau é uma alma de intolerância ao conhecimento, e que quando seus pilares de disseminação de misérias são perturbados, uma nova casta de morte é anunciada.

Sendo assim, sua mensagem transitória, é de que na brutalidade, se encontra razões para uma nova assiduidade de subjetividades, mas que não detém controle de suas liberdades, e tão pouco do seu pensamento, repleto de um suculento lamento adormecido de estar amarrado a uma sinuosidade da sociabilidade, ao qual não consegue se libertar, sem ter que chorar pra isso, mas não o que orar, ou tão pouco, o experimentar não seja uma forma pouco outorgada de se amar.

Bacurau.

Filme de 2019, com 2 horas e 10 minutos de duração.
Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Elenco: Sônia Braga, Udo Kier, Bárbara Colem Thomás Aquino, Silvero Pereira, Karine Teles
Drama – Suspense| Brasil – França

Sinopse: Pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.