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Carrapato: Estágio 2 é tudo aquilo que nós merecemos

Confesso que ando meio negligente com o cenário nacional de quadrinhos. Depois que abrimos a loja, meu tempo que já era escasso, acabou por fim-dar-se.

Com o tempo extremamente contado, algumas coisas acabaram sofrendo mais. Minhas leituras foram uma delas. Minha média de livros/HQs caiu consideravelmente.

Pois bem, recentemente tive o prazer de receber A Tribo – Perseu e Aline – Carrapato: Estágio 2 em nossa loja. E é óbvio que eu teria que falar algo sobre o quadrinho.

Mas eu demorei um tempinho para sentar e escrever. Primeiro li duas vezes. Para não deixar passar nada, ou melhor, para tentar não deixar passar nada.

Então vamos lá…

Carrapato tem as artes dos nossos amigos Tony Brandão e Junior Cortizo, contando com roteiro dos dois em conjunto com o Nando Alves. Tivemos até o prazer de entrevistar o Junior há algum tempo. Além de fazer uma resenha sobre a primeira história dos dois artistas.

Então se é uma continuação dos eventos ocorridos após o ataque no Rio Janeiro. Não teríamos motivo para reapresentar os personagens. Por isso, meu amigo, não adianta começar lendo o “estágio 2”. Vai lá e compra o primeiro volume para entender todo o contexto.

O diferencial da história é que dessa vez estamos em São Paulo. Com todos os congestionamentos e odores. E é na Terra da Garoa que a inteligência artificial desenvolvida pela Tadashi volta para atacar. Dessa vez, mais forte do que na primeira história.

Então. Dizem que tropeçamos em pequenas pedras e não em montanhas.

Na primeira história Tony e Junior pecaram em algo simples. Fizeram uma grande história, mas não numeraram as páginas. Alguns erros de digitação também ocorreram. Dessa vez temos a numeração correta. Detalhe. Cada número está dentro de um carrapato. A escrita, por sua vez, foi quase perfeita.

Os desenhos tem participações de diversos artistas. E eu quero deixar meus parabéns pelo belo trabalho. Não perdemos em nada para os gringos. Nas histórias importadas, sempre gostamos dos easter-eggs. Aqui temos dezenas deles. Confesso que fiquei perdido em alguns momentos.

Detalhe: são duas páginas tomadas por diversos personagens nacionais… aqui eu fiz um corte em pouco mais de meia página.

Para quem conhece o cenário é muito divertido olhar uma imagem dessa e tentar lembrar de todos os personagens. Assim como ocorre em um momento de um grande evento, no qual vemos diversos quadrinistas.

Outro ponto interessante é a interação que a história gera com o público. Baixando um QR Code você consegue saber mais sobre os personagens. Em uma página é pedido para o leitor, em forma de brincadeira, entrar em contato com os autores para saber mais sobre um programa específico.

Tudo gera interação. Acho tudo isso muito válido. Aguçar o público em saber mais sobre a obra.

Sem contar que o contexto é bem atual, memes e conversas no whats são expostas. É tudo muito bem feito. Ouso em dizer, mesmo que lendo pouco nos últimos meses, que essa é uma das melhores obras que saiu nesses últimos tempos em nosso cenário.

Até agora só tivemos elogios, e ainda teremos mais um…

Aline.

Talvez uma das personagens mais belas do cenário nacional, quiçá do cenário mundial. E digo isso tanto de beleza corporal quanto de composição de personalidade.

Ela é delicada, dócil e simpática. Na primeira história ela ficou quase o tempo todo de biquíni. Afinal, estávamos nas praias do Rio. Agora em São Paulo, ela tem sua sexualidade trabalhada, mas não de modo exacerbado.

Acho isso extramente importante. Fazer quadrinho em terras tupiniquins não é fácil. Temos um preconceito gigantesco. E quando alguma personagem aparece de forma sexualizada, é o fim do mundo.

Aline não. Ela tem seus momentos, mas não é nada apelativo e também não é nada que não é feito lá na gringa.

(Eu já vi sim, muita coisa explorando o lado sexual da personagem. Mas nas histórias envolvendo os grupos, isso vem sendo deixado de lado.)

Eu poderia muito bem acabar o texto aqui. Comentei todos os aspectos positivos que encontrei na obra. Todos estão satisfeitos. Mas eu ainda não estou. Preciso fazer uma última observação.

A Tribo – Perseu e Aline – Carrapato: Estágio 2 é uma história de ação. Mas para que uma ação ocorra, precisamos de um fato. Correto?

Aqui temos os vilões da Tadashi.

Herói x Vilão. Pancadaria na certa.

Só que mesmo em uma história de ação, temos os momentos que levam até aquela ação. Depois temos as quebras de ritmo. Também temos o herói passando por maus bocados até conseguir vencer.

É como uma receita de bolo.

Mas, em minha humilde opinião. A receita desse bolo teve algo em excesso. Tivemos uma pitada de sensualidade, uma dose de easter-eggs e duas colheres de motivação. Também acrescentamos uma xícara de bons desenhos, uma colher de sopa de diálogos e na hora de colocar ação a gosto, a tampa do pote caiu e derrubamos tudo lá dentro.

Se dividirmos a história em 4, em três partes temos “tiro, porrada e bomba”. Para quem gosta, é um prato cheio. Chega até estufar. Mas, para quem gosta de algumas frases de efeito e uns diálogos que marcam. Carrapato não mata totalmente a fome.

Por sorte, para pessoas como eu, que ficaram com um pequeno vazio no estômago, temos como sobremesa extras dos personagens e artistas, além de “uma cena pós-crédito”.

O fato é que a história conseguirá agradar gregos e troianos, seja pelas pancadarias ou seja pelos ótimos desenhos, easter-eggs e interações com o leitor. Com isso digo com toda convicção do mundo. A Tribo – Perseu e Aline – Carrapato: Estágio 2 é tudo aquilo que nós merecemos. Uma história nacional, com ótimos personagens, uma história bacana e um grande universo que pode ser explorado cada vez mais.

Não deixe de conferir.

Você conhece “A Tribo”?

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Para saber mais sobre os artistas acesse: Tony Brandão e Junior Cortizo.

Por fim, agradeço aos amigos Tony e Junior pela história… A HQ ficará exposta em nossa loja.