Pular para o conteúdo

Café Arcaico | A Felicidade não se Compra

 “Nenhum homem é um fracasso quando tem amigos.

Dirigido pelo siciliano Frank Capra, estrelado por James Stewart, Dona Reed, Thomas Mitchell, Lionel Barrymore e Henry Travers, A Felicidade não se Compra é um grande clássico do cinema, sendo inclusive, eleito pelo American Film Institute, o filme mais inspirador de todos os tempos. E trata-se de um tocante feel good movie, daqueles que só Capra poderia realizar, sempre acostumado a fazer de uma história simples algo grandioso, com belas lições sobre os valores da vida, críticas à ganância, soberba e ao capitalismo opressor.

É noite de Natal, e na pequena cidade fictícia de Bedford Falls, ouve-se orações de vários indivíduos, pedindo proteção a um certo George Bailey (James Stewart). Isso causa alerta nos céus, aonde anjos (no início representados por estrelas) começam a conversar entre si para resolverem a situação. O fato é que, George Bailey estava prestes a cometer suicídio, com isso, um aspirante a anjo, chamado Clarence (Henry Travers), é designado à missão de salvar sua vida. E com a condição de que, se o objetivo fosse alcançado ele subiria de patamar e receberia suas asas. Com isso, Clarence começa a ouvir com atenção a história do nosso protagonista, para entender o que o levara até aquele momento de desespero.

Voltamos, então, à 1919.

George é um menino que sonha em viajar, conhecer o mundo, e ir para a faculdade. Seu pai (Samuel S.Hindis) é dono de uma instituição financeira um pouco diferente, que empresta dinheiro aos mais pobres moradores da cidade, com condições favoráveis, sem prazo fixo para pagamento, nunca visando muito o lucro, e sim, o desenvolvimento local, e a melhoria de vida das pessoas.

Nosso herói cresceu, querido por todos da cidade e ainda um grande sonhador. Porém, quando estava prestes a viajar, realizando seu sonho, seu pai sofre um derrame e vem a óbito.

George resolve assumir os negócios, mesmo não querendo esse cargo, mas para impedir que a empresa caísse nas mãos do mesquinho Sr. Henry Potter (Lionel Barrymore), poderoso dono de um banco da cidade, que sempre almejou ter controle de todos ao seu redor. Ele acaba se casando com o seu amor de infância, Mary Hatch (Dona Reed), tendo vários filhos e nunca saiu de Bedford Falls, sempre que pensava em viajar, ocorria um imprevisto que impedia-o. E também nunca conseguiu juntar dinheiro, o que às vezes o irritava, vendo todos os seus amigos de infância sendo bem sucedidos, até mesmo seu irmão mais novo Harry Bailey (Todd Karns), gerenciando a empresa de seu sogro, e ele sempre ali, prezando pela cidade e seu povo, se sacrificando por um bem maior.

Então, na véspera Natal, pós Segunda Guerra Mundial, tudo corria bem com os preparativos para as festanças, até que seu sócio Tio Billy (Thomas Mitchell), acidentalmente, perde oito mil dólares, que seriam depositados no banco. Isso causa desespero em George, pois poderia significar a falência de sua empresa, que já não ia bem financeiramente, lhe traria problemas com a fiscalização, podendo acarretar em sua prisão, o que deixaria sua esposa e filhos totalmente desamparados.

George fica sem rumo, questionando toda sua vida e tudo que deu errado, e porque as coisas chegaram naquele ponto. E sabendo que seu seguro de vida tinha um valor muito alto, o que deixaria sua família amparada em caso de sua morte, ele corre para a ponte da cidade decidido a cometer suicídio. Nesse momento, surge Clarence, seu anjo da guarda, encarregado de impedir essa tragédia.

A Felicidade não se Compra

Claro que de início, ele reluta em acreditar que aquele desconhecido era um anjo, e entre uma conversa e outra, George, reclamando da vida, diz que seria melhor se ele nunca tivesse nascido. Então, Clarence tem a grande ideia de mudar toda a realidade, e mostrar para seu protegido como seriam as coisas sem a sua existência.

E é ai que o filme cresce, com um roteiro brilhante, e a ótima atuação de James Stewart, cenas que antes pareciam irrelevantes, começam a fazer todo sentido, conforme Clarence vai mostrando a importância de George, numa versão de Bedford Falls em que ele nunca existiu. É absurdamente comovente, triste, belo e ao mesmo tempo esperançoso, visto que, tende a nos mostrar que todos podemos ser importantes, e mesmo que, nem sempre as coisas saiam do jeito que planejamos, é possível ser feliz e valorizar as coisas simples da vida.

Baseado no conto “The Greatest Gift” de 1943, do autor Philip Van Doren Stern, A Felicidade não se Compra foi um fracasso nas bilheterias, gerando um grande prejuízo, já que o custo de produção foi altíssimo, e ainda se utilizou de um dos maiores sets da história até aquele momento, para a construção da cidadezinha de Bedford Falls. E o seu insucesso se deu muito em função de ter sua estréia ofuscada pelo grande êxito de “Os Melhores Anos de Nossas Vidas”, do diretor William Wyler, lançado na semana anterior, e que no ano seguinte, seria o grande vencedor do Oscar.

Mas com a chegada da TV, durante os anos 50, canais começaram a exibi-lo durante o período de Natal, isso acabou se tornando uma tradição, ano após ano, e assim a obra acabou se popularizando e ganhando o merecido status de clássico natalino (mesmo que na cabeça do diretor, não se tratava de uma obra de Natal). E hoje em dia, é tido como um dos filmes mais importantes da história.

A Felicidade não se Compra

Frank Capra ficou conhecido por “exalar” otimismo, principalmente, durante a Grande Depressão Americana, acreditando no lado bom do ser humano, e sempre trazendo às telas, histórias capazes de elevar a auto estima até do cidadão mais desiludido com a vida. Claro que, este filme, lançado em 1946, um ano após o término da Segunda Guerra, era sua mensagem otimista para um mundo que ainda recolhia os “cacos”. E mesmo tendo reinado durantes os anos 30, década em que ganhou três vezes o Oscar de Melhor Diretor, por Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr.Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938), ele sempre considerou A Felicidade não se Compra sua melhor obra. Assim também pensava a estrela do filme, James Stewart, que inclusive, considerava George Bailey seu melhor personagem. E olha que Stewart foi protagonista de grandes clássicos de Alfred Hitchcock como Janela Indiscreta (1954), Um Corpo que Cai (1958) e Festim Diabólico (1948), e de outros clássicos de Capra também.

Enfim, It’s a Wonderful Life, é um filme pra reunir a família, seja no Natal ou em qualquer data, chamar aquele parente que é amargurado com a vida também, deixar o lenço no jeito, e se deleitar com uma das mais belas obras do cinema, que lhe provocará um misto de lágrimas e sorriso de orelha a orelha. Óbvio que, como toda fábula natalina, os clichês estão todos presentes, toda lição de vida, sobre fazer o bem e colher os frutos da bondade estão lá, mas é feito com tanta paixão, que é facilmente perdoável e impossível não se emocionar. Frank Capra manipula nossos sentimentos na “cara dura”, e nesse caso, não é nenhum problema, pelo contrário, é uma experiência sem igual, daquelas que vamos querer repetir sempre.

Um Feliz Natal a todos!

Não deixe de conferir.

Café Arcaico | 12 Homens e uma Sentença

Os 5 estágios do Luto e uma HQ chamada “Morre uma lenda”

Café Arcaico | Cinema Paradiso

Café Arcaico | “Capitão!!!!” “Dersu!!!!”

Café Arcaico | A Cruz dos Anos (Make Way for Tomorrow)

Dados Técnicos.

Título: A Felicidade não se Compra – 1946
País: EUA
Duração: 2 horas e 09 minutos.
Direção: Frank Capra
Elenco: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore…

Sinopse: Em Bedford Falls, no Natal, George Bailey (James Stewart), que sempre ajudou a todos, pensa em se suicidar saltando de uma ponte, em razão das maquinações de Henry Potter (Lionel Barrymore), o homem mais rico da região. Mas tantas pessoas oram por ele que Clarence (Henry Travers), um anjo que espera há 220 anos para ganhar asas é mandado à Terra para tentar fazer George mudar de idéia, demonstrando sua importância através de flashbacks.

Marcações: