Texto de João Victor Trascastro.
Alguns amigos me falam: – “Cara, Vingadores 3 é o melhor filme de super-herói já feito” ou “Watchmen é bem melhor” e alguns poucos ainda falam de X-Men, por mais estranho que me pareça. Não posso negar o quanto o universo Marvel dos cinemas é bem trabalhado e se sustenta. Mas nem mesmo o último Vingadores lançado é capaz de me fazer dizer “é o melhor filme de herói que já vi”, até porque não é um filme de “herói”, mas sim um filme de GRUPO. Aliás, em filme de grupo, até o momento, só a Marvel acertou pra valer. Isso me fez pensar em dois pontos distantes e próximos: de um lado a situação da DC, de outro lado a resposta da pergunta que me fiz antes de escrever esse texto “qual é o melhor filme de super-herói da história?”. Pois bem, vamos à convergência acerca desse assunto.
Sem pestanejar: Superman – O Filme, de 1978, estrelado por Christopher Reeve e dirigido por Richard Donner. Um marco no cinema, na carreira de Reeve e, também, na minha vida. Mas como alguém tão jovem pode amar esse filme? Bom. Como bom nerd, fora os quadrinhos e jogos, a TV foi uma fiel companheira dos momentos livres da minha infância, e lá estava eu aos 7, 8 anos assistindo Cinema em Casa no SBT. A poderosa trilha de John Williams e aquele grande S no peito daquele super-herói sorridente me fizeram entender o que é a essência do personagem, ainda que na época não fizesse ideia do que diabos é essência. Aquelas cenas me fizeram acreditar que um homem poderia voar e ajudar as pessoas e, mesmo na dor, ser capaz de manter a cabeça no lugar. Santa referência descarada, Batman!
Agora vamos pensar no Universo DC atual… Sem entrar no mérito de julgar a qualidade dos filmes, apenas pensando na atmosfera em que as obras foram pensadas, por que começar uma cronologia inteira com o mesmo diretor que anos antes foi o responsável pelo filme que DESCONSTRÓI os heróis? Novamente, sem entrar no mérito de qualidade e defeitos, mas realmente era necessário estabelecer um universo brutal, denso e “sombrio” simplesmente para ser diferente? Pior, precisava transformar a continuação de um filme num duelo contra outro herói? Num universo tão recente? É claro que o público das antigas gosta, eu particularmente também gosto, mas precisava? Não, não precisava.
A DC do cinema hoje pensa como a DC dos quadrinhos: esquecendo que o público-alvo deve ser aquela criança de uns 10 anos e achando que todos querem ver uma história como as graphic novels dos anos 80. A DC hoje insiste em pensar errado. O próprio Allan Moore não deve gostar nada de ver que sua ideia de desconstrução do gênero passou a ser regra dentro da editora. Todos querem fazer um novo Watchmen, porque o público cresceu e blá blá blá, mas ninguém pensa em fazer um novo ciclo, como a saudosa “era de ouro”, para novos e jovens leitores. Ninguém pensa que quadrinho de herói DEVE ser divertido, que é pra CRIANÇA. Bom. O lado de lá sabe.
A Marvel acerta ao fazer do cinema sua cronologia habitual, num estilo serializado (Ah, a década de 60/70) e acerta, também, ao fazer seus personagens mais densos para as séries urbanas na Netflix, por exemplo (olha o nicho adulto aí).
O público de hoje não sente empatia pelo Superman simplesmente porque nunca viram o Superman, que não aparece regularmente há muito tempo. O que temos é o nome. E a essência parece perto de voltar, pelo menos no meu cego otimismo temporário.
Um recomeço pôde ser visto, ainda que nos momentos finais de Liga da Justiça (2017). Naquela cena final, o Superman estava em tela. Não é fácil explicar, mas acredito que muitos tenham sentido mais a presença dele ali, do que qualquer morte vista em Batman V Superman. E, se souberem o que fazer, farão “Homem de Aço 2”, não como uma parte direta do que foi feito antes, mas sim renovada, descompromissada, aproveitando Henry Cavill como a figura perfeita que essa geração precisa e merece ver no cinema, como o público de 78 viu, e como nenhuma outra viu, exceto pra quem teve a sorte de ver ocasionalmente pela TV.
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