Black Mirror é amado e odiado na mesma proporção, não tem meio termo, é impossível ser indiferente ao programa. Pois bem, sou da turma que ama Black Mirror, apesar de odiar alguns episódios . E hoje resolvi separar 5 episódios que me deixaram meio mal.
E não digo deixar mal pela qualidade dele, mas por seu contexto, principalmente, por seu final.
Vou advertir que esse post está recheado de spoilers, e alguns trechos só irá entender quem assistiu o show.
Vou começar Black Museum.
Nish (Letitia Wright) parou para recarregar seu carro no meio de uma estrada desértica, ao lado ela nota que existe um museu de artefatos criminológicos, então, nada melhor do que ir lá para ver exatamente o que são esses artefatos.
Essa frase define o episódio, tudo ali é triste e doentio.
Você pode falar que ali existem tecnologias que já foram mostradas em outros episódios, pode falar de algumas piadinhas fora de contexto, mas não pode ficar indiferente com a situação das pessoas que se submeteram as experiências.
Imagine você ter que se mutilar para sentir prazer, ou virar um consciência dentro de um ursinho de pelúcia que só consegue se expressar por meio de duas frases e, o pior de todos, imagine que você é condenado dezenas de vezes por dia à cadeira elétrica, sendo que após isso, sua consciência é presa em um souvenir e sofre ali por toda eternidade, sem parar. É impossível se sentir bem com um episódio desses.
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Com Odiados Pela Nação vemos a verdadeira face do ser humano.
O último episódio da terceira temporada é bem longo, com 69 minutos de duração ele mostra Karin e Blue, elas estão investigando algumas misteriosas mortes, entre elas só uma ligação, a perseguição nas redes sociais.
Elas descobrem que a pessoa que tem sua morte “desejada” por meio da hashtag #deathto é “atendida” no final do dia. E essa pessoa escolhida é “comum”, que cometeu algum pequeno deslize, como emitir uma opinião errada em um programa de TV ou fazer xixi em um monumento histórico.
É bom salientar que apenas uma pessoa morre por dia, então uma corrida começa, quem está no topo da lista?
Aqui o grande ponto é: somos animais irracionais, desejamos sangue. Fim.
Todos sabem que utilizar a hashtag causa uma morte, o que fazem? Utilizam a hashtag cada vez mais.
Quem está no topo da lista faz o que? Procura o hacker? Tenta achar alguma solução?
Não.
Tenta fazer com que outra pessoa o ultrapasse nessa “lista da morte”.
Odiados pela nação mostra que não existe compaixão pelo próximo, somos apenas selvagens à procura de entretenimento, mesmo que isso gere um caos inimaginável.
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White Christmas é outro episódio que trabalha com questões da consciência humana.
Na história temos Joe Potter (Rafe Spall) e Matt Trent (Jon Hamm), eles estão fazendo algum tipo de trabalho, mas isso já faz 5 anos, e eles nunca se falaram.
Aos poucos o episódio vai esclarecendo os fatos e descobrimos que eles estão ali porque fizeram coisas terríveis.
Joe, que não conversava, contou sua história.
Ele tem uma namorada, ela fica grávida, mas ela não quer o filho, então ela “bloqueia” ele.
Depois de um tempo ele descobre que ela teve seu filho. Ele vai atrás, mas o filho também está bloqueado. Passam-se os anos até que sua ex morre em um acidente, com ela o bloqueio desaparece.
Ele vai atrás da criança e descobre que ela não é sua filha. Ou seja, ele foi enganado durante o relacionamento, sofreu por anos achando que o filho era seu e, após o descobrimento, acaba perdendo o juízo e matando seu ex-sogro.
Trágico, não?
Mas piora. Ele não quer falar sobre o crime, então fica preso em uma cela sem conversar com ninguém, mas eles retiram sua consciência e colocam na cena do crime, com o decorrer da história ele confessa o acontecido.
Resultado?
Ele e seu cookie são condenados. Sendo que sua consciência vai ter que cumprir 1.000 anos por minuto durante dois dias na cena do crime. Para quem não entendeu, cada minuto nosso, equivale mil anos para o “Joe cookie“.
Faça sua continha ai… 1.000 anos por minuto, para depois sua pena acabar… é cruel ou não é?
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Toda a sua história é um daqueles episódios que te deixa muito mal, até fiz um post sobre ele.
Mas vamos lá. Cada humano tem uma espécie de chip implantado atrás da orelha, por ele você acessa os dados da sua memória, analisa interações, vê emoções, e descobre tudo o que lhe é (in)conveniente.
Liam Foxwell (Toby Kebbell) e Ffion (Jodie Whittaker) formam um casal “feliz”. Eles tem um bebê, tudo vai bem em vossas vidas. Até que um dia ela vai em uma festa onde Jonas (Tom Cullen) está, ele é um velho amigo, mas é daqueles bem exibidos. Fala de sexo abertamente, vive fazendo piadinhas e, ainda, rouba a atenção da Fi para si.
Liam fica com uma “pulga atrás da orelha”, e começa ver as cenas que envolvem Ffion e Jonas, não contente ele vai até Jonas, e depois de muita discussão e agressões ele descobre que Fi o traiu.
Então lá vai ele brigar com Fi, e sabe o que acontece? Ela tem arquivada sua noite de sexo com Jonas, não só isso, ele descobre que sua filha não é sua!
A dor é tamanha que ele prefere acabar com sua memória…
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Não poderia finalizar com outro episódio que não fosse o “Manda quem pode“.
Kenny (Alex Lawther) é um garoto comum, trabalha, tem uma garota que flerta com ele, sofre com alguns problemas em casa e se masturba de vez em quando. Um belo dia ele está no seu quarto, vendo suas pornografias diárias, mas um hacker assume o controle da câmera do seu note, e grava toda sua masturbação.
Nesse momento começa uma chantagem gigantesca. Faça isso, faça aquilo, se não irei colocar seu vídeo na internet.
Os pedidos começam de forma simples, vá até o local “X”, pegue um bolo, leve até o hotel “Y”… com o decorrer da trama chegamos a um momento que Kenny tem que assaltar um banco, após o assalto ele vai até uma montanha na qual tem que lutar com outro cara até a morte.
Ai pensamos… ah, cara, era só uma pun… deixa o vídeo vazar e já era, mas não é bem assim. Os dois que estão ali são pedófilos, eles se masturbaram vendo fotos de crianças, por isso essa “punição”.
Mas calma, ainda faltam 3 minutos para acabar, dá tempo de Kenny matar o outro sujeito, descer a montanha, receber uma ligação de sua mãe, no telefone ela grita com ele sobre o caso de pedofilia, ele desliga o telefone, surgem alguns carros policiais…
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Uma coisa é certa, Black Mirror não te deixa indiferente.
Não deixe de conferir.
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