A discussão a respeito da produção de HQs no Brasil já se estende há décadas. Desde os anos 1990, quando comecei na produção e leitura de fanzines que escuto a mesma conversa de valorização dos quadrinhos e artistas nacionais.
A grande verdade é que, se nós não valorizarmos nossos trabalhos, projetos, produções independentes ou não, ninguém o fará por nós. Tenho acompanhado de perto, desde o meu retorno no final de 2016, as produções independentes e as financiadas por pequenas editoras e também pelo Catarse, para citar apenas um dos modelos de financiamento coletivo existentes hoje em dia.
Uma produção de uma revista com 50 páginas na década de 90 demandaria uma boa quantidade de disposição e de dinheiro, o que nem sempre existia em conjunto. Hoje em dia sai muito mais barato produzir uma revista em quadrinhos, embora o que emperra muitos projetos é a divulgação e o apoio a determinados projetos. Alguns deslancham facilmente porque detêm de ferramentas que auxiliam o editor a mostrar o seu projeto a um número maior de pessoas, outras emperram justamente pela falta de apoio.
Há uma grande quantidade de leitores ávidos por quadrinhos, sejam eles nacionais ou não, mas o problema maior talvez seja a qualidade das produções, que mesmo volumosas, muitas não duram mais do que um número exatamente pela falta de conteúdo.
Mesmo as produções que tenham um conteúdo interessante, entrevistas, opiniões, HQs de qualidade, esbarram na dificuldade na hora de se divulgar. Infelizmente ainda existem editores que pensam somente no seu, são egoístas ao ponto de nem mesmo compartilhar um projeto, mesmo que esse projeto seja bom e possa deslanchar no mercado interno.
A cooperação nesse momento é essencial a todos! Ninguém está livre de, mesmo tendo sucesso em alguns de seus projetos, naufragar em outros se não tiver ajuda de todos. Temos que entender que há mercado para todos, que é possível convivermos harmoniosamente e dentro do respeito mútuo tornando os trabalhos e projetos vendáveis e conhecidos dentro do universo de quadrinhos brasileiros.
Outro importante fator e que faz falta no nosso convívio é a participação das mulheres. A grande maioria dos grupos formados de heróis, editores, quadrinhistas, ainda é formado por homens na sua grande maioria. Já passou da hora de todos entenderem que lutam com o mesmo objetivo, tornar os nossos quadrinhos, sejam feitos por homens ou por mulheres, conhecidos do grande público e com isso fazer com que o brasileiro cultive o hábito de comprar quadrinhos nacionais.
Estou à frente de dois grandes projetos de edição, EPOPEIA e FORÇA EXTREMA, onde teremos grandes heróis unidos e lutando contra vilões criados pelos participantes das sagas. É um projeto que visa dar maior conhecimento dos nossos personagens para o grande público e resgatar definitivamente os quadrinhos produzidos no Brasil.Há que se exaltar nossos mestres, mas também é essencial dar chance a quem está começando fortalecendo assim a produção e a distribuição de quadrinhos nacionais.
E que venham muitos projetos interessantes para mantermos viva a chama das produções, sejam elas de heróis ou qualquer outro tema interessante que gente como a gente produz e que muitas vezes fica relegado a um plano inferior simplesmente pela falta de conhecimento dos trabalhos produzidos.