Se não assistiu o episódio, não leia a opinião, ela contém altas doses de spoilers de USS Callister.
A 4ª temporada de Black Mirror estreou no finalzinho de dezembro, com ela vieram 6 episódios. O primeiro foi USS Callister.
O episódio em questão mostra Robert Daly (Jesse Plemons), ele é sócio de uma companhia de programação. Daly é um cara tímido, não consegue se impor perante os comandados e muito menos perante seu sócio.
Para se ter ideia, Daly é tão desligado, que até sua senha para entrar na empresa ele esquece de trocar. Ninguém ali o respeita, apenas olham ele de longe e sentem certa repulsa pelo mesmo.
Até aqui você pode achar que ele é a grande vítima da história. Mas ao vermos desenrolar os fatos notamos: Daly tem sérios distúrbios psicológicos.
Os fatos são expostos quando Nanette (Cristin Milioti) entra na empresa, ele logo perde a atenção dela para seu sócio. Qual sua reação? Roubar um copo de café dela, pegar seu DNA e a inserir em um game espacial, baseado em Star Trek.
Se você assiste a série desde o começo, vai notar que a tecnologia do game lembra muito o episódio San Jupiero. Mas ali Daly é uma espécie de Deus. Ele manda e desmanda em todos os “participantes” do game.
Ah, para que você saiba, todos os integrantes de sua frota espacial, sem exceção, fizeram algo que “feriu” seus sentimentos. Muitas vezes são motivos banais, a falta de um sorriso já é motivo para Daly inserir um clone da pessoa dentro do game.
O rapaz, que na vida real é tímido, revela sua verdadeira face no jogo. Todos tem que obedecer ele, se não castigos são dados. E os castigos são, por muitas vezes, sádicos.
Pois bem, a premissa é bacana, tem algumas piadinhas, alguns gostaram, outros não. Mas tem algo que precisa ser discutido.
O rancor.
Dizem que na vida só temos certeza da morte, mentira, temos outra certeza, alguém vai te decepcionar nessa jornada. Isso é fato. Acredito que já tenha acontecido com você dezenas de vezes.
Não adianta, o ser humano é falho, as vezes ele nem deseja cometer algo que magoe o próximo, mas comete. Lógico que existe aquele que não vale nada e apronta com todos.
Mas o grande ponto desse jogo não é o que fizeram com você, mas como você vai reagir ao que fizeram com você.
É simples, alguém te magoou? Você tem duas opções, ou você acredita que aquela pessoa não fez por mal e perdoa ela, ou você descobre que aquela pessoa não vale nada, então na realidade o acontecimento foi bom, pois você se livrou de algo inútil em sua vida.
Não existe outro caminho, ou você perdoa, ou exclui da sua vida. O grande problema é quando você quer inserir uma terceira opção nesse jogo chamado vida. A partir do momento que você não perdoa e não exclui, você acumula rancor.
Sabe aquele ranço que você sente ao conviver com uma pessoa? Sabia que você não precisa disso?
Ah, mas ele é meu chefe!
– Mude de emprego.
Ah, mas tá difícil!
– Será mesmo? Será que não é você que é preguiçoso e não quer sair da sua zona de conforto? Você está estudando para algum concurso? Está procurando outro emprego? Está estudando para abrir uma empresa? Não? Então não reclame. A única coisa que você pode fazer é tentar olhar o que seu chefe tem de bom, se coloque no lugar dele, as vezes o problema é você.
Ah, mas ele é meu marido!
– Largue.
Ah, mas já faz tanto tempo que estou com ele!
– Então pare de reclamar, se você não quer assumir as rédeas de sua vida, não reclame. Aceite tudo que vier, afinal, não é você quem decide por você mesmo.
Mas, se porventura, você quer ser dono de si, assuma o controle, livre-se dos entulhos, jogue fora o rancor, exclua as mágoas e não deixe que o ódio te consuma, uma hora ele vai acabar te matando.
Daly que o diga.
Não deixe de conferir.
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