A Vida é Bela, submete apresentações epistemológicas ao vazio existencialista ocasionado pelo surgimento e agressão do regime fascista de Benito Mussolini (1883 – 1945), ao qual, se estende paradigmas de postergar em que ponto a “verdade”, possa conter uma dialética de ações estatais, em comprometer o futuro, a uma tomada decisão que venha conter um gosto de sangue no ar.
A manipulação da realidade é arraigada como um ponto de sucção entre o que pode vim a constituir uma estética dos Regimes Totalitários, de uma forma até a provocar uma distopia de identidade para o espectador, pois estamos visando uma arte que dentro da inocência do primeiro amor, explica como um governante facínora, foi acometido por simpatias, diante, uma Itália lutando ideologicamente para a sobrevivência diante os auspícios do Fuhrer, como também pela sua condição psicológica e histórica de sobrevivência diante os horrores da guerra.
A obra ao qual Roberto Benigni (1952), faça uma alusão nominal a “La Dolce Vita” (1963) de Federico Fellini (1920 – 1993), como um antagonismo aos cárceres metafísicos de uma liberdade enclausurada por um universo de vaidades, ou seja, que muitos indivíduos então presos aos estereótipos comportamentais disseminados em suas mentes, sendo combalidos por um hemisfério suicida de idealismos, se distanciando cada vez mais a um realismo de consciência filosófica e histórica, outorgado no fanatismo político, e em uma informação, que venha adquirir, para o cinema, um espaço de “ação”, em criticar a ideia “máxima hobbesiana” que “o homem é lobo do próprio homem”, levando as sujeições, de novos fronts de confronto opinativos, uma sétima arte que busque entender a si mesmo, diante o irracionalismo “do tudo é possível”, como foi o caso dos regimes totalitários, que fizeram nascer à ideia de uma decadência do subjetivismo, em nome de um pensamento ornamentado na brutalidade governamental, uma plasticidade de compêndios do terror, contra o crescimento de liberdades individuais, defronte os horrores de indumentárias do Estado de Exceção.
A Vida Bela oferece para o público, não unicamente uma similitude de critica política, e sim a busca pela compreensão de um sentido da paixão, como a jorrar um cálice de chance para humanidade perante a sua própria sobrevivência, no simulacro, que a inocência ainda pode constituir-se como um período de amadurecimento moral, diante o austral de afastamento de júbilos do saber, em momentos onde a carência de diálogo se faz apresentar como um estigma de autoconhecimento do homem pelo próprio homem.
O movimento da guerra produz armamentos de princípios a uma argumentação de um “bruxismo”, contra a candura de uma atividade mental, que não seja a favor de vícios horrendos do poder, que podemos citar dentro das alcunhas do pensamento sociológico de Raymond Aron (1905 – 1983) “as etapas de novas vivencias comportamentais”, que venhas a produzirem, andrajos comportamentais que não estejam em uma via de aniquilar uma semântica a elaboração, de que a inocência é um cunho interpretativo de uma história que não seja imaculada exclusivamente por vencedores e perdedores.
Pierre Fédida (1934 – 2002) realça “nome, figura memória”, a um escopo psicanalítico, que fazer um sujeito que esteja concatenado em fazer jus ético a sua interpretação intelectual e moral, a partir do seu próprio cunho de dádivas existências, pois assim se limita a ver o “outro” não como um nicho burocrático e estamental de vivencias morais e intelectuais, e sim que venha a produzir múltiplas ações emocionais e intelectuais, visando o bem comum, mas deixando um caminho dialético de assimilação e produção de coeficientes mentais banhados pela filosofia.
A filosofia ao qual é lançada a luta de um pai, diante a exasperação de ódio do Fascismo, culmina em determinados momentos, a uma ingenuidade cheia de ternura, Guido Orefice (personagem de Benigni), faz da fantasia, uma arma letal para produzir uma micro ilusão ética da felicidade, dentro a macro ilusão do medo.
Medo e fantasia são ferramentas para um gládio intelectual na luta pela aceitação do que não pode ser considerado algo supremo de validade moral, diante a penúria que o antissemitismo propôs para prognósticos de um distanciamento da liberdade civil, ao qual a arte de reinventar a si mesmo, e de bloqueio mental individual, faz um jogo de interfaces, onde o horror, está mitigado a uma procedência a imitação do “absurdo”, defronte um sistema político que abusa do próprio “absurdo”, para uma coisificação em larga escala da raça humana.
Dentro de um olhar antropológico, Benigni, ironiza, o Totalitarismo, mas lança bases para “brincadeiras históricas bélicas” (Milan Kundera – 1929), já tinha alertado, ocorrem espaços populacionais onde a ignorância, não é uma marca de horror, e sim até uma condição natural, de flexibilidade em um cânone de não usar a “ilusão”, como uma razão, de compreender os principais papeis que cada “ser”, ocupa dentro de uma Pangeia Existencial, destrutiva a uma equidade, do que pode vim a influir, uma subjetividade moral, contra um atrevimento macabro de entidade estatal proclamando por si próprio, como detentoras maniqueístas do que pode ser mal ou bom.
De certa maneira, não há um “nome” que se possa empreender, para uma ação histórica que propicie um obséquio, de explosões intelectuais, a fazer de Guido, um cunho de exemplificar uma Itália, vítima de sua novicidade como Estado – Nação nas primeiras décadas do século XX, sofrendo com sua menoridade de área de influencia territorial, ficando a mercê de propagandas enganosas, alongadas pelo “Duce”, sânscrito como um “Messias” ao contrário, decaído, demoníaco, e praticando sua luta prevaricatória para formação de liberdade de opinião, segundo sua opinião pessoal.
As artimanhas para um perfil histórico de descrença política faz com que Roberto Benigni, venha a produzir uma arte, que faça de seu protagonismo infantil, elementos para uma semiologia da comunicação, enaltecendo o que pode, “vim a ser considerado” como certo ou errado.
O errado contendo uma visão com um toque de Malebranche (1638 – 1715) “ou seja”, a cosmovisão de que o homem é produto de suas escolhas, caminhando para uma história desbaratinada pelo nada, com um toque de sangue inocente.
A violência não como um ultraje, e sim como uma forma de sobrevida, perante enclaves para uma população, caindo na traição do respeito de oferecer cunhos a uma profissão de fé do homem pelo próprio homem.
Mas o que seria o homem?
Frente os tentáculos do Fascismo?
Jean François Revel (1924 – 2006) alertou para uma “capitalização da cultura”, em um distanciamento do “belo”, sem conter um caráter lúdico, como também em conter uma imagem que Hitler e Mussolini, seriam um cristalino contraponto para a modernidade, em que o “leviatã”, brinca com o povo fazendo jorrar atrevimentos para um parnaso de subjetividades, destruído pela coletividade nefasta do existencialismo do que “tudo seria possível”, fazendo uma ornamentação teórica de Estado, no pensamento pessimista dotoiévskiano.
O “Crime e o Castigo” de Guido passam por um sonhar acordado definhando, as premissas de como viver sem comprometer um jazigo, de comiserações na dogmatização do pragmatismo político, a uma Itália ainda tentando se consolidar como Estado – Nação.
No período da ascensão do “Duce”, o mundo se encontra em esplendor de lideres fortes, que confundem princípios de liberdade argumentativa, com um estelionato moral, em abusar do uso e poder das palavras, para uma estequiometria de desconstrução do real, para um imaginário decadente, e doente por um alento, para o seu “eu – próprio”, que conduza a uma sociedade civil de respeito por todos os seus membros.
A Vida é Bela, lança atitudes de um “jogo de amarelinha”, de Julio Cortázar (1914 – 1984), ao qual não há um sentido linear de narrativa, e sim múltiplos conjuntos de fatores enveredando traquejos, para uma leitura dialética da humanidade perante os equívocos, as centelhas energéticas, de uma pilhagem da criticidade, para um cinema que possa dar respostas, as indagações de como a contribuição desvairada de uma extrema-direita foi possível, ao surgimento de atrocidades, fazendo delas um senso-comum do absurdo.
Um “absurdo” que Antonio Gramsci (1891 – 1937) já alertava perante os perigos, a projeção de um espaço público recheado por um pandemônio de destruição da legitimidade a um Estado de Direito, que não fosse usurpado, a um estereótipo de fissura moralizante, concatenada para a destruição de valores filosóficos e multiculturais com clareza de mutualidade ao respeito entre as culturas diversificadas.
Os traumas do dia a dia, empreendidos pelo Fascismo, organiza pressupostos, para uma volta a primeira infância, como arma para lidar com exacerbado senso de militarismo, arregimentado no gigantismo do fanatismo, como um aparato a aniquilar uma escritura histórica, que não contenha “probos” para a ontologia.
O desenvolvimento da inteligência passa, por um caminho estreito, entre a dúvida e a comprovação, e quando o homem se torna um vassalo de suas próprias conjecturas de arbitrariedade, exala um materialismo, sem conter a matéria da dignidade, como elemento principal de sua condensação moral.
A administração da vida política, erradica a liberdade humana plena, com uma frieza escatológica, em que o amor, faz exéquias ao aprisionamento do pensamento ultra crítico, ou seja o esquivo da vontade, defronte os vícios mais mórbidos de dominação e subjugação enganadores disseminados, para aqueles que necessitam que suas carências seja colocadas em evidência.
Guido é um mutante libertário no Oasis de primitivismo, que a Segunda Guerra Mundial, deixou como um imaculado cancro, ao qual o homem, faz uma constituição de si próprio como sendo Deus, interrogando a frustração no desporto as admoestações do que seja certo ou errado.
Não um errado, e sim a promulgação do terror, sem o irracionalismo da imagem, e sim um medo constante, ao qual um primado, a degustação do inimaginável, exaspera uma fragrância de ostentação do ocre político, ao afastamento de dádivas helenísticas.
Um surto de avareza, misturado à necessidade de combater a miséria, que faz sua organicidade deliberativa, mergulhar nos anseios na busca de uma representatividade para os que não são ouvidos.
A surdez do fanatismo, produzindo ecos, para uma intolerância, para o que o impossível, se torne não somente possível, mas sim corriqueiro, deplorando a vergonha, e deixando um pudor de sustentáculo medonho a moral e a ética.
De certa maneira, as fantasias de Guido, faz um atrevimento para os Dez Mandamentos, em que a mentira, não pode ser considerada totalmente algo luciferiano, mas como um entrave para que haja respeitabilidade entre todos nossos semelhantes.
Uma psicologia de enfadar um comprometimento pela busca a um perfil de um cinema que possa, vim a propiciar, subterfúgios para os mais diferentes dilemas humanos.
A pedagogia da opressão faz uma educação sem atrevimento para o fantástico.
A infância de pesadelos, que revitaliza na atualidade, a necessidade do brincar, mesmo em momentos críticos como a Guerra, apresenta simetrias de uma contra-argumentação, contra a Medusa neurótica, que aspectos fenomenológicos podem tirar a pessoa da realidade nua e crua.
Uma conflituosa condição humana, que muitas vezes insiste em sair de si mesma, mas que não compete necessariamente aos atributos do reconhecimento da intelectualidade, no usufruto a libertação espiritual, e sim uma loquacidade do que seja certo ou errado, dentro do contexto das habilidades mentais auspiciadas nas capacidades de, expressão de “cada ser”.
Uma leitura, de tessitura atemporal, afinal “A Vida é Bela”, nos primórdios de “carpe diem”, contendo registros, de cognição em se manter vivo, diante a fabricação sucessiva do medo, com felonias a um manjar do lixo orgulhoso que a dependência proporciona econômica, faz a mente conter a leveza da sensibilidade a uma opinião própria.
Apropriação, a uma ressaca de que fantasiar e enganar, é sinônimo de um sentido extremado, do que seja certo contágio, no gatilho da pujança do “kalos” que não atrele um calor de empatia para a humanidade.
A “bota italiana”, caminhando junto finura do pensamento livre, se confundiu com um dantesco aglomerado psicanalítico a moda de constrangimentos para um cinema que realize não somente a mensagem de equiparação teórica, mas sim culmine em trocas de conhecimentos visando o bem-comum, a um ubérrimo sentido a lapidar atos de individuação, mas sem egoísmo, “mas com ego-ismo”.
Neologismo, para um “ego-ismo”, com denominações para a bondade exuberante, sem máscara do Estado Policial, com um estrangulamento de sinapses, que estejam a um contexto social, que valorize o “belo”, e faça “uma vida bela”, não tendo contornos filosóficos sem a heurística do medo.
O medo, não produz um temor à infância estornando interlúdios de vim a mimar, como um arranjo de adular um carinho exagerado, não havendo senso de responsabilidade, a fazer da criança, um novo receptáculo de civilidade perante o mundo que a cerca.
Em uma aquarela analítica enfocando Jean Piaget (1896 – 1980), “o estruturalismo de A Vida é Bela”, não é um cinema de cunho político em sua integridade, e sim um alerta para o que seja “lindo’, não se torne uma tentação de engenhosidade a eliminação de uma lógica de práxis, detalhada, a um sínodo de “comunismo” de oportunidades para todos”.
Na época de seu lançamento, Benigni deu um enlace de fanfarronice em sua explosão de alegria diante a câmera, beirando a histeria, durante a premiação do Oscar, o que não foge muito ao seu limiar, de procurar alegria dentro de um universo tão conturbado como o Fascismo.
Existem vários “new fascism”, que de vez ou em outra resolvem dar as caras com discursos conservadores e autoritários, que fizeram companhia para os “genes” teóricos de “A Vida é Bela”, caso da ascensão de José Maria Aznar (1953) para presidente espanhol entre 1996 e 2008, Jean Marie Le Pen (1928), e o despótico conservadorismo francês, e Jorg Haider (1950 – 2008) na Áustria.
A própria Itália, teve um momento em que primeiros ministros, fizeram da máquina estatal, seu espaço pessoal de atuação governamental e intimidação política – social, casos de Giulio Andreotti (1919 – 2013), e o espalhafatoso Silvio Berlusconi (1936).
Ou seja, o Fascismo, mesmo não contendo uma clara apologia de suas bases políticas originais, ainda atormentou (e atormenta!) a vida do “Velho do Continente”, mesmo depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Benigni lança mão, que devemos despertar a criança existente em cada um de nós, como um escudo perante os malévolos sentidos, a um novo maquiavelismo, que se estenda, por um teísmo, de simbologia, do modo como que se anuncia a justificação das piores atrocidades cometidas no peremptório de igualdade, mas sem crueldade.
A melancolia, com um viés de libertação do homem pelo homem, subjaz uma escravidão de fugir de uma escravidão imposta por princípios psicológicos, para uma cultura de destruição, do ideário de consumir inteligências que estejam na sintonia à “dúvida” como um fator de integração entre as pessoas.
Vejamos que o cinema italiano possui uma mediana em suas diretrizes de buscar respostas para os mais variados meneios do absurdo da vida.
Existir somente pelo existir produz um existencialismo, esmero… o existencialismo dentro do próprio do existencialismo…
A busca da perfeição de uma “principia política” em aniquilar, uma similitude de igualdade, imposta pela força, elevando a carestia de uma política humanista.
A vivacidade de interpretação de que Benigni faz com uma pitada de sarcasmo diante o mostro Fascista.
As “ironias da história” com meandros, a Isaac Deutscher (1907 – 1967) elucida que devemos, zombarmos dos historiadores, mas não do sândalo de profecia espiritual, para onde as cicatrizes de carências democráticas voltam, com um sentido pior, na intermitência, de lutar contra o Totalitarismo.
Um Totalitarismo, que se reinventa através dos tempos, passando pelo fanatismo, chegando até os nichos do terrorismo.
Não se trata de inventar labor, de uma critica cultural, contra atrocidades cometidas em torno de um povo em especial, e sim um sentido poético, de alertar que a “vida é bela”, como uma “aquarela” de Salvador Dali (1904 – 1989), perambulando por buracos de minhocas de pseudos discursos de igualdade.
A infância perdida pelo holocausto, não deve conter em suas panaceias de alerta, o mundo estando em perigo pelo ressurgimento do Fascismo, e sim haver uma pitada de um agrado provocativo, em questionar a si mesmo, quanto pequenos Totalitarismos existem em cada um de nós?
Como podemos escrever tais capítulos da história da humanidade, sem enfadonhos fragmentos, de um claro sentido de respeito do homem pelo homem?
Um homem que se reinventa, para uma germinação de atribulações realizadas pela sua própria inteligência, que busca em personalismos baratos uma ética para aquilo que não possui ética.
Uma redescoberta sem precedentes, em almejar uma ciência de conhecimento, que possa não levar a sujeição, de poderes de Estado, que venham a ultrapassar os interesses do cidadão.
Uma proteção contra os maldizeres de um redemoinho de equívocos canonizados pelo uso do medo, produzindo o terror com uma ralé, sendo a faísca principal de fogaréu de vaidades revertidas em um banho de sangue, formada por um centurião de mentiras que alguns, líderes políticos ainda insistem em conservarem, como um antropo de liberdade assistida coletiva, mas contendo a robotização de uma cultura erudita cada vez mais elitizada, com pouca integração para o “novo”.
Massacre humanístico-moral, feito por excêntrico ator Roberto Benigni, que faz misturas ilógicas entre drama, com a comicidade, mas que não deixa de conter um paladar filosófico na descrença tanto pelas instituições, como do homem por si só.
Um irrisório sentimento, na consumação de um amor pelo infernal, sem o fraterno cunho de um cristianismo que justifica o terror em nome da vontade de Deus.
Um Deus, que escolhe seus privilegiados e possui um porta-voz direto através do herdeiro moderno do “Império Romano Moderno”… só mudam as moscas, as novas larvas são protótipos de uma cadeia de desenvolvimento moral, regido pela demência em acreditar que possamos conter a verdade em nossas mãos.
A verdade é uma piada contada a cada momento, buscando na mentira de sua compreensão dos sentidos, compreender o que a humanidade se tornou, e pode vim a se tornar.
“A Vida é Bela”… mas a verdade possui um odor, azedume de indiferença…
Dados Técnicos.
A Vida é Bela (La vita e bella).
Filme lançado em 1997 – Drama | Guerra | Comédia.
Contém 1 hora e 57 minutos de duração.
Direção: Roberto Benigni.
Elenco: Roberto Benigni, Horst Buchholz, Marisa Paredes…
Nacionalidade: Itália
Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial na Itália, o judeu Guido (Roberto Benigni) e seu filho Giosué são levados para um campo de concentração nazista. Afastado da mulher, ele tem que usar sua imaginação para fazer o menino acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com o intuito de protegê-lo do terror e da violência que os cerca