Existem alguns diretores que você admira mais que outros. É normal. Mas ao consumirmos muita coisa de tal pessoa, acabamos por “ver quase sempre o mesmo longa”.
Woody Allen aborda o quesito de traição em diversos filmes. Poderia citar Desconstruindo Harry, Manhattan, O Homem Irracional, Crimes e Pecados, Café Society e diversas outras obras. Repare que não citei em ordem cronológica, pois o interessante de tudo isso é que, Allen fala sobre traição, mas sempre de um jeito diferente.
Em Hannah e suas irmãs “não é diferente, mas é diferente”. Ocorrem traições, mas o buraco é um pouco mais embaixo.
Logo no início “escutamos o pensamento” de Elliot (Michael Caine), ele está apaixonado por Lee (Barbara Hershey), irmã de Hannah (Mia Farrow), sua esposa.
A festa é familiar, mas Elliot já demonstra grande fraqueza perto da cunhada. Holly (Dianne Wiest) é a outra irmã de Hannah, sempre com problemas financeiros, com drogas, com problemas amorosos e desempregada. Holly se considera um fracasso. Em contrapartida temos ela, Hannah, uma talentosa atriz, madura, doce, amável, todos admiram Hannah.
Lógico que Woody Allen não faltaria, ele é Mickey. Melhor, ele não é Mickey, ele é o mesmo personagem que faz em todos os filmes. Paranoico, de fala rápida e um pouco atrapalhado, mas sempre engraçado.
Mickey foi casado com Hannah, teve (adotou) filhos com ela, mas no longa seu caminho demora um pouquinho para cruzar com Hannah e suas irmãs.
Aliás, temos uma hora e quarenta e seis minutos, divididos em 5 personagens. Cada qual com seu momento principal. No final todos se interligando.
O longa vai focando no lado defeituoso do ser humano. Tome traição, paranoia, mal-humor, uso de drogas, brigas, intrigas… Woody Allen criou um oceano de problemas, para cada qual, uma doce trilha sonora instrumental amenizava o clima imposto na tela. Hora tínhamos toques melodramáticos, hora romântico, em alguns momentos cômicos.
Outra coisa linda no longa são as atuações. O personagem de Michael Caine é, sem dúvida alguma, o com maior conflito interno. Sua atuação é muito boa, ele demonstra a fragilidade carnal do homem, a dúvida sobre trair ou não trair, e a amargura ao pensar em magoar Hannah.
Holly também tem muitos conflitos internos. Mas a sua falta de confiança exala pelos poros da personagem. É impressionante como qualquer coisa deixa ela para baixo, é possível notar até um leve sintoma de depressão na personagem.
Hannah e Lee roubam o protagonismo. A primeira com sua segurança excessiva, que aparenta soberba para quem está por perto, a segunda com seu jeitinho dócil, mas com um caráter bem questionável.
Sobra para Allen trazer os alívios cômicos com sua paranoia característica. Outra característica da filmografia de Woody são seus diálogos afiados e suas referências filosóficas, todas ocorrendo com a autoridade que só esse diretor sabe fazer.
Hannah e suas irmãs é mais uma obra que apresenta a vida real. Tudo bem que esse longa tem um final mais otimista do que outras obras de Allen, mas ao vermos os piores defeitos dos seres humanos expostos de forma tão “sútil e normal”, sabemos que só Woody Allen poderia ser o diretor de tal filme.
Dados Técnicos.
Hannah e suas irmãs (Hannah And Her Sisters).
Filme com 1 hora e 46 minutos de duração – 1986.
Direção: Woody Allen
Elenco: Woody Allen, Barbara Hershey, Max von Sydow, Dianne Wiest, Mia Farrow, Michael Caine…
Sinopse: A amizade e o relacionamento de três irmãs vivendo em Nova York. No dia de Ação de Graças seus conflitos amorosos e existenciais são evidenciados no meio de um grupo de amigos e parentes não muito homogêneo. Lee (Barbara Hershey) é uma velha pintora casada com Frederick (Max von Sydow), Holly (Dianne Wiest) sonha em ser uma escritora e Hannah (Mia Farrow) é uma famosa atriz, perfeita em tudo na vida.