Eu abençoo as chuvas que caem na África. Vai levar algum tempo para fazer as coisas que nunca fizemos. (Toto, África – 1982)
Idi Amin. Plínio Salgado…Mussolini… Khomeini. (Titãs, Nome aos Bois – 1987).
A imagem psicótica de Idi Amim Dada (1920 – 2003) , o sanguinário ditador de Uganda entre 1971-1979 retratada em O Último Rei da Escócia, não deixa de transpassar sua eloquência formal, como um sinal de um cinema, que procure no ativismo evidenciar denuncias da crueldade humana, traçando caminhos de como o mundo fecha seus olhos perante o mais fraco, e ainda está acostumado com a “brancura” de princípios moralizantes, que fazem os horrores de regimes ditatoriais estarem presentes ainda em nosso imaginário popular do século XXI.
“O popular com o pop”, e o espírito sanguinário do líder como renuncia social moral, emerge para um clivo histórico ao qual a África foi palco ao longo de séculos de uma torturante camada a uma condição humana de saciar os desejos do homem europeu, a exploração predatória de seus vastos campos de riquezas naturais.
Não se trata de colocar aqui, “o clássico preceito homem branco contra o homem negro”, e sim exalar, uma arte ao qual, a loucura e a demência se unam como complementos a desejos de manipulação da realidade, usufruídos de fazer da sua terra um legado destrutivo de uma condição de vida, que seja digna a todos os complementos populacionais.
Uganda é só mais um entre os países africanos que operaram seu ideais nacionais com “malucões” de plantão, e que se consideram como um Deus na terra (Alguns tinham certeza disso!), ao qual transcenderam os limites na não implantação das mais dignas aceitações morais substituindo por horrendas ações de atrocidades e violações dos direitos humanos
De certa maneira, a interpretação magnífica e intensa de Forest Whitaker (1961), que lhe rendeu a premiação do Oscar de melhor ator como o sangrento líder ugandense, contando com a participação do ator escocês James Mcavoy (1979) (que ganhou BAFTA por sua interpretação) o Professor Xavier de X-Men: First-Class (2011), X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) e X-Men: Apocalypse (2016), fazem desse filme um sinal a um compendio ao qual o racismo, não foi (e nem é), um único problema nos fatores para o progresso do povo africano, e que o ativismo por liberdade democráticas sofreu ininterruptos ataques aos seus flancos de atuação.
A imagem da “usurpação da terra mãe”, berço de incontáveis legados históricos da humanidade, aos quais, o filosofo Frantz Fanon (1925-1961), esgarça a necessidade de uma “reinvenção da africanidade”, sofre um ríspido e envolvente cadafalso de um estupro coletivo na destruição das vontades individuais, diante as insanidades de um líder, que se coloca acima de todos os limites do aceitável.
Dentro uma visão pessimista de “Emil Cioran (1911-1995), pensador romeno existencialista “exalando um cheiro constante de sangue”, de morte a distanciamento de uma condição humana carente a maioridade moral, que faça das pessoas um simbolismo ético seja proeminente em respeitar suas origens e diferenças.
O sangue humano inocente é um elemento vital para se entender, como isso passa, ser relacionado a um cinema, que faça do sentido lúdico, uma expressão de contestação diante os mais execrados desejos de dominação política e social que uma nação possa vir sofrer ao longo de sua história.
“A sociedade ugandense teve que sofrer com os desmandos e vontades de Idi Amim, o que fez com que fosse conhecido pelo “carinhoso atributo” de Hitler da África”, pois suas maluquices beiravam uma comparação com a antessala do absurdo, sendo acusado de canibalismo e magia negra.
Porém, Whitaker, faz da sua interpretação um cunho carismático e hipócrita de docilidade mental, mas ao mesmo tempo transpassando a sua monstruosidade, não de forma estética, e sim dentro de um alarde a dar forma aos piores sentimentos humanos comiserados na fatalidade de não aceitar oposição, realizando suas vontades e sendo concebidas de forma integral.
A linha entre a mesurar tendências a um Estado Despótico, que possua sua jurisdição aguerrida de intransigências, ser diz respeito em como usufruir, de seus tentáculos no resoluto de construção a uma verborragia escancarada pelo sangue inocente derramado, deixa atrelado, que a persuasão se faz mais do que proveniente, para a manipulação aos anseios em realizar uma taciturna, valorização de um líder ufanista e macabro que se coloca como mártir, mas que na verdade pouco esta interessado em prover recursos, e se doar para seu povo, e sim se conservar a todo custo no poder.
James Mcavoy contracena na figura do médico recém-formado Nicholas Garrigan, que espreita um espírito “Alá Che Guevara”, de sair pelo mundo e conhecer as atribulações de um sistema capitalista que não poupa em levar a miséria e a opressão a quem quer seja.
Assim como o ícone revolucionário cubano, Garrigan conhece de perto os pesadelos opressivos de liberdades advindas da negligência de um governante que se julga ser um novo taumaturgo, mas ao invés de lançar luz, dissemina trevas e temor.
A imagem ao qual o ditador tudo sabe e tudo sente, não fica longe ao exemplo de Uganda ao qual um miserável país do “Continente Negro”, vem a se tornar um terreno para o fortalecimento de um a fortificação a um genocídio em nome das aquarelas de desejos pessoais do líder.
O espaço de atuação de Mcavoy não deixa de suscitar a revolta, bem como um conformismo acompanhado “a resistência do saber frente às enfermidades do Estado Moderno”, usando de termos da filosofa brasileira Marilena Chauí (1941), se bem há, que se fazer a separação entre os plenários mentais psicóticos de Idi Amin, com o apoio que recebe de seus principais oficiais para conservação do seu reinado insano.
Uma transcendência da moral do erro que leva a lançar vermes de um prelado artificial de liberdades civis, pronunciando na escravização espiritual do seu povo, uma sujeição que mina a democracia, como apelo para que opiniões opositivas sejam respeitadas, diante a deformação, incomensurável de um ativismo e que se faça presente dentro de Uganda, colocando as pessoas no direito de escolher o que é melhor pra si, independente do mandachuva de plantão.
Os períodos historiográficos da África refletem também um paradoxo de crise da cultura ao qual uma boa parcela do que se é produzido dentro dos processos audiovisuais, submetem ao extermínio de candura perante o outro, levando a uma esquizofrenia congênita, refletindo acerca dos lastros de um “eu consciente”, como também na ternura em se denunciar, nefastos sufixos, de um ideário, geopolítico ao qual o poder está sacralizado como uma forma de construção ativista, e o cinema necessita de sangue para propiciar um “continuum” de levar a um face do horror do “humano pelo próprio humano”.
O “espaço do poder” eleva a sinopse de uma antropogeografia, pelos quais Friedrich Ratzel (1844-1904), viabilizando, como base para um comprometimento do Estado de Guerra, o prosseguimento de doutrinas concatenadas a destruição, de mentes banhadas com a lapidação de ideias.
Doutor Garrigan exala também a culpa pelos seus desejos em abraçar o mundo, mas o mundo não te oferece um abraço fraternal de volta, e sim a cruzar o caminho do sádico Idi Amin, que procura consolidar seu poder a todo custo, não poupando o uso intenso de uma demagogia que serve de base para uma linguagem cinematográfica atormentada e constrangida, onde se deixa aguçar os nichos em degustar a amargura da falência em abarcar a fraternidade entre os povos.
Um retorno ao primitivismo, e o fator em elixir problemáticas de uma cultura que possa conduzir o cinema para um cronotopo, destruidor de ética e respeito.
Uganda, “só se torna mais quinhão, de um pop”, terrível nas singularidades do respeito entre as pessoas, ceifando languidos dos quais são necessários derramamentos de sangue permanentes, para se atrair público para as salas de cinema, sendo um exemplo do distanciamento dos princípios de flexibilizar, a arte como um instrumento de mediação e conciliação entre as etnias.
Não devemos por índice de acompanhamento do cinema como fleumática política em promover um cabido de elevar as “raças uma sobre a outra”, pois isso soaria como um descarte democrático, aos quais Idi Amin promove sua imagética de delírio governamental, na perseguição e invenção maciças, de inimigos por todos os lados, uma paranoia que não se difere muito dentro dos contextos de ditaduras clássicas.
A sua designação e fascínio pela Escócia, faz o espectador duvidar de sua sanidade, algo pelo qual Whitaker explora de maneira surpreendente, colocando simbólicos postergados da ironia, como um flanco ligar uma comunicação, que venha a combater a massificação de ideias, levando uma formação mental, que componha humanizações, enfatizadas no animalesco, despertando o compromisso ético pelo respeito das diferenças humanas, mas também que faça dessas diferenças, um caminho para a arquitetura filosófica no traçado psicológico que possa sair do senso-comum, chegando a até a consciência critica.
Nesse contraponto, o cinema detém um viés em emergir terrenos de crueldades aos quais a africanidade, sendo censurada em seu autodeterminismo, e contando com uma imagem enraizada de sofrimento e ignorância, desperta, sabujos interpretativos, para sublevarem enredos a um inconsciente coletivo disseminado pelos mais variados campos de figuras humana, que se faça reflexões ativistas em uma chamada a emergência da libertação populacional negra, perante os desígnios dos olhos europeus e americanos, como também a empreender uma denuncia dos maus tratos e extermínio de civis sendo peças peão nas mãos de infames líderes ditatoriais.
As quinquilharias políticas em se fazer um cinema que venha a unir a contestação como uma semiologia de arrefecer signos que elevem a verificação da humanidade dentro de uma natureza humana maldizente das vontades de lavrar liberdades para todos, que não fiquem ofuscadas pelos anacronismos de discursos epistemológicos e políticos, fazem do O Último Rei da Escócia, um anunciamento de dialéticas, para um traçado cultural ao questionamento apelativo para formação da afetividade contra tecnicismos, possibilitando uma educação que procure ficar rechaçada na crueldade e ao “gosto de sangue”, e que não produza uma despertar interacionista, que seja do profícuo campo de debates acadêmicos, ou também pelo gosto de fazer um cinema, que promulgue a contestação como agrado para a conscientização perante abusos cometidos por líderes déspotas no continente africano.
A manipulação e destruição da realidade, arraigado as festas de arromba, o falso populismo, que se esconde um líder cruel, ungida no passado buscando reconhecimento, (serviu nas fileiras do exército colonialista inglês), (daí uma suposta explicação para Idi Amim ter se autointitulado), faz um alarmante diagnóstico da balburdia de uma condução política, que praticamente beira “o mito da caverna de Platão”, uma escuridão se precedentes aos quais Uganda é levada, e que com a sanha malévola de um chefe de Estado nada ortodoxo, não se limita a cometer assassínios constantes dentro dos paralelos do mínimo de dignidade que cada pessoa necessita.
A tortura corre solta, censura e imprensa controlada, ao mesmo tempo o filme demanda um ar de liberdade falsa, de uma luta contra uma pré-noção aos quais o racismo seja feito pela branquitude do homem europeu, está um traçado de que dentro do contexto histórico africano está enraizado um forte desejo de aniquilar aqueles que venham pactuar com uma higienização de opiniões contrárias, gerando um cinema ativista e também contestador, na cartasis de denunciar e compreender que muito das sangrias que o Continente Negro sofre está permeado em torno de suas estruturas de poder internas em suas holísticas governamentais.
Idi Amin tece margens para um aparato repressivo que praticamente beira um misto de neurose com barbárie, o que não foge as diretrizes de uma conjugação do Estado Político na contemporaneidade, que evoca o ativismo, dentro do ciclo existencial do povo africano, vitima de líderes autoritários destinados a realizarem das suas vontades, algo em que a população esteja também de acordo, mesmo que para isso se utilize de formas abruptas de condutas a coagir vários seguimentos da sociedade civil.
Doutor Garrigan sente na pele o que é o poder de manipulação do Ditador, que não poupa instrumentos para conservar um mar de discrepâncias a fazer um profícuo reinado de terror, bem como a levar um funesto centro de ações, que unem os destinos de Uganda a sua imagística pessoal.
O terrorismo de Estado é latente, e ao título de O Último Rei da Escócia, faz de sua “majestade” estar imbuída de um complacente ancoradouro a usar da maneira que for mais cabível o distanciamento de um pragmatismo governamental que não tenha em pauta, os prognósticos democráticos.
Um existencialismo sangrento, ao quais boas parcelas das pessoas estão destinadas ficarem reunificadas, em suas conduções psicológicas nas prenhas do total domínio de suas habilidades sociais, sancionadas pelo medo.
Garrigan toma por parte um auspício de luta entre o passado, com uma modernidade aos quais a humanidade ainda tem que enfrentar meandros a uma destruição da capacidade de criação a uma arte, que não paute a irracionalidade como artefato de um materialismo histórico, que não detenha uma educação, que esteja a respeitar os mais diferentes princípios humanos, bem como o vetor de um multiculturalismo claro.
Nesse caso, o cinema se torna um jugo de vontade reacionária, com a indignação diante um paradoxo da filosofia moral, em valorizar multifacetas de personalidades, contra um fruto demente do poderio político, estando o cinema a fazer mesmo que indiretamente, uma apologia, para a maldade, como ela sendo elemento de fundamental importância, para criar nichos humanos que contenha capacidades argumentativas com criticidade.
A criticidade que se torna um sintagma quase que exclusivo da classe burguesa, e que dentro da sua condição quase beirando o bufônico, Idi Amin se coloca como uma imiscuidade de legalidade mórbida, ao qual esteja representado, a um costume de lembranças pelas quais, distorce o legalmente prudente, para o imponderável imprudente.
Um caminho pelo qual os africanos busca serem ouvidos, contendo ruídos de uma declamação da bestialidade, que se transforma em arte, mas que todavia não reúne princípios de uma alteração significativa para a miserabilidade ao qual passa.
Vítima disso, Uganda, só se torna uma diversão para os abusos, e impulsos de seu líder, que não demonstra respeito por ninguém, e faz de sua oratória praticamente uma ofensa verbal, profanada em um sentido de liberdade, que esteja na sintonia de seus desejos mais perdulários.
O cinema se torna dentro do universo “pop”, uma arma e também um caminho pela luta dos direitos, dos mais carentes, professando amplitudes de uma paixão quase beirando a obsessão, por histórias macabras e líderes “doidões”, que com sua áurea demoníaca “dissemina uma logística de envolvimento de palavras de dentro para fora”, segundo Michel Foucault (1926-1984), a realizar sessões de artes, rechaçadas pela diminuição do valor da sociedade, na estética de um medo constante, para um inconstante desejo e sentimento democrático.
O Último Rei da Escócia domicilia uma dialética da informação, como também pontos aos quais ocorre um descaso quanto às demências que líderes fazem na “negritude”, cheirando a mofo infame na suposição de um arquétipo em aceitar o fluxo do conhecimento, que possua, tempo em lapidar a mente das pessoas, em não enxergarem unicamente as destruições de cunho humanístico, sintonizado ao “amor em comum com as etnias” e sim também ao “amor próprio”.
O “belo” deixa um vácuo, para ironia, trazida por uma descrença do homem pelo próprio homem, na descrença de um valor ético pelo combate de nevralgias sociais endêmicas, com eufemismo diferenciado em relação ao que pode ou não ser considerado como resultado a multiplicação de uma designação fraudulenta a uma individuação marcada pelo ódio.
Um ódio que transborda para um espetáculo em engodos de aguçar processos mentais, de um verbo, que não contenha no ativismo, uma locução que possa propiciar um cetro, apontando para um caminho de liberdade que não se deduza exclusivamente ao queixume de maléficos pormenores de traquejos a uma bagunça ideológica, não contendo um viés filosófico de respeitar o próximo.
A África nesse sentido, em muitos momentos da história, deixou de ser o “próximo”, para se tornar um labor de satisfação aos desejos de conquista e cobiça do homem branco europeu.
Idi Amim Dada rascunha um olhar a uma sucção de indignação de seus atos, e também para os perigos, aos quais o cinema também enfrenta, na carência de inovação em suas atitudes, como domínio para levar ao grande público mensagens de afetividade, que não fique encarcerada aos gentis, da indignação e sim contendo dignidade, em “parrhesias” em pronunciar a fundamentação de verdades históricas democráticas.
O desbravo de um cinema, que faça do “pop”, algo que não seja escrachado, mas que contenha uma base teórica a respeitabilidade de eventos, que produza a união a uma catequese de lutas pelos direitos civis, que venham unidas com a ação, e também com a produção de contra-argumentos que vão contra um classicismo afluente, não pode estar comiserado unicamente a vitimização das pessoas, e sim com fervor a mudança de preâmbulos destruidores das liberdades civis.
Nesse ponto, Idi Amin Dada, confabula o ridículo, de projetar na interpretação de magnífica de Forest Whitaker, a geração do ativismo acompanhado por uma luta interna do povo africano em se digladiar com seus coirmãos por algum tipo de liberdade, mostrando que o racismo não parte unicamente de elementos externos, e sim que o ativismo advém de almas como o Doutor Garrigan em denunciar os bonequinhos de cordas totalitários que se condicionam como herdeiro dos deuses, e que se afastam de prolixos caminhos helenistas, evidenciados para liberdades civis claras, e pelos quais o cinema tece ótimos caminhos para isso.
Leia mais sobre Euro-Cine.
O Ultimo Rei da Escócia (The Last King of Scotland)
Filme com 2 horas e 05 minutos de duração.
Direção: Kevin Macdonald | Drama – Histórico – Biografia | Estados Unidos – Inglaterra | 2007.
Elenco: Forest Whitaker, Gillian Anderson, James McAvoy
Sinopse: Nicholas Garrigan (James McAvoy) é um elegante médico escocês, que deixou recentemente a faculdade. Ele parte para Uganda em busca de aventura, romance e alegria, por poder ajudar um país que precisa muito de suas habilidades médicas. Logo após sua chegada Nicholas é levado ao local de um acidente bizarro, onde o líder recém-empossado do país Idi Amin (Forest Whitaker), atropelou uma vaca com seu Maserati. Nicholas consegue dominar a situação, o que impressiona Amin. Obcecado com a cultura e a história da Escócia, Amin se afeiçoa a Nicholas e lhe oferece a oportunidade de ser seu médico particular. Ele aceita a oferta, o que faz com que passe a frequentar o círculo interno de um dos mais terríveis ditadores da África.