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O Homem Irracional mostra a hipocrisia do “fazer a coisa certa”

Um filme por ano. Essa é a média do diretor Woody Allen. Com uma carreira que começou em 1966, certamente, alguns erros aconteceriam.

Homem Irracional (2015) não pode ser considerado um completo erro, apesar de pecar muito em seu desenvolvimento. A trama é corrida, a trilha sonora não casa com o enredo, os fatos são jogados na tela, e a explicação de tudo é feita com uma preguiça gigantesca.

Woody Allen pecou no roteiro, sim. Temos um primeiro ato muito interessante, no qual somos apresentados ao professor de filosofia Abe Lucas (Joaquin Phoenix). Ele é totalmente desiludido com sua vida, só consegue enxergar as piores coisas do mundo. A trama foca seus trinta minutos iniciais em explicar como Abe é pessimista.

Já é praxe dos filmes de Allen os diálogos afiados e o pessimismo exacerbado. Bem, nesse filme é tudo dobrado.

Se formos nos atentarmos para partes técnicas, certamente não colocaríamos esse filme nem entre os 10 do Woody, mas… vamos ver com outros olhos!

O professor em questão fala da vida de forma…

Ele completa a frase com: “que incluí ganância, ódio e genocídio”.

Pois bem, esse é apenas um dos vários trechos no qual Abe cita o quão doloroso é viver. Ele não está totalmente errado. Sim, a vida é cruel, ela tem um potencial gigantesco em nos decepcionar, mas se formos pensarmos só assim, não viveríamos. O correto é tirar de cada momento ruim, uma lição boa. Assim conseguiremos evoluir nos momentos de derrota.

Voltando ao filme. Abe só “encontra” uma motivação para viver quando escuta uma família estranha comentar sobre a injustiça que estavam sofrendo de um juiz. O filósofo sente uma empatia pela situação e resolve premeditar um crime, afinal, ele não tem nada com essa família, e como ele não conhece o juiz, não seria descoberto.

Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos. – Humberto Gessinger.

(Ainda estou incomodado com esse fato. Abe nunca viu a família, escutou o diálogo por 20 segundos e decidiu cometer um crime.)

Seguindo sua “lei moral”, ele planeja o ato. Lembre-se: tudo é baseado em “princípios éticos e morais”. O juiz é uma pessoa que usa seu status para prejudicar os fracos e oprimidos, diz ele.

Até uma forma mais otimista de ver a vida ele encontrou. Mas seu ato prejudica terceiros (uma pessoa inocente, no caso), nessa parte entra a seguinte observação: “eu fiz algo de errado, como justificativa vou usar fundamentos que me beneficiem”.

Abe fez o que queria, mas acertou mais de um alvo. Se entregar ou deixar que um inocente pague? Eis a questão.

Lógico que a resposta escolhida foi deixar que o inocente pague. Afinal, eu não conheço ele mesmo.

Notou a ironia? Farei algo errado, mas estou justificado nos MEUS princípios éticos e morais. É bem aquela coisa: ela me voltou troco errado, não vou devolver, o erro foi dela, não meu.

Achei uma carteira na rua. Bom, achado não é roubado.

Meu amigo assina a lista de presença hoje.

Não vou pagar imposto, o governo é corrupto mesmo…

Enfim, poderia ficar horas citando casos aqui. O fato é que Abe sou eu, você, seu vizinho, seu amigo… sempre procurando justificativa para os erros. O “Homem Irracional” pode ter vários defeitos técnicos, mas deixa uma excelente lição de moral…

Assuma que suas atitudes não são definidas por terceiros, tudo o que você faz é de escolha sua, só sua.

Leia mais sobre outras obras de Woody Allen.

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Dados Técnicos. 

Homem Irracional (Irrational Man).

Filme de 2015 com 1 hora e 35 minutos de duração | Drama – Suspense – Romance |
Direção: Woody Allen.
Elenco: Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey…

Sinopse: Em crise existencial, o professor de filosofia Abe Lucas (Joaquin Phoenix) chega para lecionar em uma pequena cidade dos Estados Unidos. Logo uma de suas alunas, Jill (Emma Stone), se aproxima dele devido ao fascínio que sente pelo seu intelecto, além da tristeza que sempre carrega consigo. Simultaneamente, ele é alvo de Rita (Parker Posey), uma professora casada que tenta ter um caso com ele. A vida começa a melhorar para Abe quando, numa ida à lanchonete com Jill, ouve a conversa de uma desconhecida sobre a perda da guarda do filho devido à uma decisão do juiz Spangler (Tom Kemp). Abe logo começa a idealizar o assassinato de Spangler e como, por ser um completo desconhecido, jamais seria descoberto.