Recentemente comecei assistir Black Mirror. Por algum motivo, ao clicar na série, o primeiro episódio que me foi mostrado foi o intitulado “Queda Livre”. Por um provável erro da plataforma de streaming e, principalmente, por minha pura falta de atenção, comecei assistir a série pela terceira temporada (S03E01). Mas como cada episódio é uma história, nada influenciou no andamento da mesma, só em minha forma de enxergar o mundo.
Queda Livre dispensa comentários sobre qualquer tipo de atuação ou termos técnicos. Queda Livre é bem mais embaixo.
A Netflix solta a seguinte sinopse antes de começarmos o episódio: Uma mulher desesperada para ser notada nas mídias sociais acha que tirou a sorte grande ao ser convidada para um casamento luxuoso, mas nem tudo sai como o planejado.
Pois bem, essa mulher leva o nome de Lacie. Sua nota pública é 4.2.
Quando eu digo, “sua nota pública”, me refiro que todo mundo tem uma nota. Essa nota fica estampada em cada rosto. Portanto, qualquer interação vale uma nota até 5 (igual vários sites quando criticam filmes, só que aqui a “critica” é com pessoas).
Quando eu digo qualquer interação. Eu digo QUALQUER interação. Um simples “oi” já é motivo para um dar nota ao outro. Essas notas guiam as vidas das pessoas.
Um cidadão que tem nota 4.5 pode frequentar os melhores ambientes do mundo. Um cidadão que tem nota 1.2 é considerado um marginal (não marginal no sentido de bandido, mas sim aquele que está a margem da sociedade).
Enfim. Tudo é feito para que eles se saiam bem nas mídias sociais, consequentemente isso guia praticamente todo mundo. Na trama vemos Lacie, a futilidade em pessoa. Ela posta foto de tudo que faz. Vamos comer? Não sem antes tirar uma foto. Que tal caminharmos? Pera, uma foto primeiro…
Mas você pode me dizer que isso é “só” uma série. Afinal, “ninguém” no mundo é avaliado por suas redes sociais. Pare, olhe e analise. Quando você for em algum show, olhe bem ao seu redor. Preste atenção em quantas pessoas irão ver o cantor, quantas irão filmar o cantor e, consequentemente, assistir o show pela telinha do celular.
Tenho certeza que antes do almoço de domingo você posta uma foto no Instagram. E se for ao cinema? Vamos tirar uma foto do lado do pôster para publicar no Facebook, afinal, todo mundo tem que saber o que eu faço com a minha vida.
Sabe o que é pior? Se aquela sua foto no cinema, ou daquele maravilhoso macarrão que você postou, não render comentários ou likes. Você vai se corroer.
Onde foi que eu errei?
Talvez tenha sido em não viver para você, mas sim para mostrar para os outros.
“Trabalhamos em empregos que odiamos para comprar merdas de que não precisamos”. – Clube da Luta.
Alguns nutrem uma vida espetacular nas redes sociais, 5 mil amigos é o limite. Na vida real não tem nenhum. Outros postam que estão amando (uma pessoa por mês). E pior, tem aqueles que nem postam, mas bisbilhotam o que o outro postou, só para criticar.
A vida é Black Mirror em muitos momentos. Hoje em dia ela se aproxima muito da queda livre, e não quero dizer queda livre do nome do episódio, quero dizer que nossa vida com tanta tecnologia anda em queda livre…
Mas fique calmo. Não quero que você largue as redes sociais, ou deixe de registrar alguns momentos da sua vida. Apenas reflita, você vive para você, ou para mostrar ao mundo?