Lucio dá aulas gratuitas de desenho para comunidades carentes. Se sente realizado ao saber que alguém sorriu com alguns de seus personagens e, acima de tudo, dá muito valor à sua família, na qual ele cita sua esposa como seu braço direito. Venha conhecer um pouco mais sobre Lucio Oliveira e sobre o Edibar, o boêmio mais escroto dos botecos.
1 – Lucio, acompanho a Fanpage do Edibar desde que vocês contavam com cerca de 3 mil pessoas, hoje vocês contam com mais de 650 mil leitores, como é a sensação de ter criado um dos personagens mais conhecidos do Brasil? E qual a razão do Edibar fazer tanto sucesso?
Antes das redes sociais, o Edibar estreou nas páginas de um jornal diário no interior do Paraná. Na primeira semana de publicação, foi sucesso logo de cara.
Passado um ano, saí do jornal para abrir meu próprio estúdio de criação. Lembro que os assinantes do jornal fizeram abaixo-assinado para que o Edibar voltasse para o diário. Criei um monstro…
Hoje em dia, vejo a popularidade dele quando alguém fica sabendo que sou eu quem desenha, porque o sorriso abre instantaneamente no rosto da pessoa.
Acho que a razão do sucesso deve-se ao fato do personagem ser gente como a gente, sem apelação.
2 – Aproveitando, como e quando surgiu a ideia de criar as histórias do velho boêmio?
Como não tinha muito o que fazer na cidade que nasci, o boteco do Maurício era um dos únicos lugares que eu frequentava.
Tinha de tudo lá… Bêbado entrando no bar de cavalo, médico jogando truco com carteiro, mulher ciumenta atirando mala de roupa de marido bar adentro…
Entre uma cerva e outra, fui apreciando essas figuras no meu canto e o Edibar foi surgindo na cabeça.
3 – Qual tema você jamais abordaria com o Edibar? Por quê?
Na verdade são três: futebol, religião e política. São áreas que não existe respeito e nem concordância entre as pessoas.
4 – Muitas vezes eu entro para ler as postagens da Edimunda e do Edi Roça, qual foi o momento que você percebeu que essas “tiras separadas” teriam público? Pensa fazer o mesmo com algum outro personagem da “Edifamília”?
Depois do Edibar, as pessoas gostam de ver o nosso trabalho, seja ele qual for.
Como tudo que postamos atrai curtidas, foi um pulo para trabalharmos na criação de mascotes para empresas, que caem no gosto da galera instantaneamente.
Quanto aos personagens, só preciso de tempo para conseguir criar mais amigos de boteco para o Edibar.
5 – O que o Edibar representa para você?
Foi o meu bote salva vidas quando a água bateu no pescoço.
6 – Você se sente realizado fazendo o que faz?
Uma vez recebi uma ligação em meu estúdio de uma senhora de Curitiba que estava no quarto estágio de um câncer. Mesmo debilitada numa cama em casa, ela conseguiu descobrir meu número e fez questão de ligar para mim só para falar sobre a alegria que o Edibar causava nela. Era a única coisa que a fazia sorrir.
O mesmo se deu com um senhor do sul do Brasil que perdeu o irmão em um acidente de automóvel. Depois disso, ele decidiu morrer em vida. Entrou numa fase de tristeza profunda, começou a consumir remédios antidepressivos e não falava com mais ninguém.
Enviou um e-mail para mim para passar o relatório de sua vida e terminar dizendo que o Edibar estava sendo sua ressurreição. Aos poucos, acompanhando diariamente a página do boêmio, ele voltou a sorrir.
Outro episódio interessante aconteceu dentro de um estacionamento de um banco. Enquanto eu aguardava no carro por uma vaga, um mendigo aproximou-se da minha janela. Em vez de pedir uns trocados, perguntou-me: “O que é que você estava fazendo com um adesivo do Edibar na traseira do carro?”… Eu respondi: “Cara, eu desenho ele”… Ele me deu os parabéns e disse que o Edibar era o “mestre” dele.
Isso acontece sempre. Se consigo fazer gente triste sorrir, estou realizado.
7 – Podemos dizer que você consegue viver exclusivamente de quadrinhos? Qual foi a sua maior dificuldade no começo?
Sim, hoje vivo exclusivamente do cartunismo. Tenho contratos com jornais, revistas, sites e editoras.
Para conseguir chegar nesse ponto, fui por muito tempo desenhista em fábricas de brindes no Paraná, professor de desenho básico, chargista, artista plástico, tatuador, etc… Tive que enfrentar por muito tempo a desvalorização da profissão, onde a maioria quer usar seu trabalho com a desculpa de “divulgar” seu nome só para te dar o balão na hora de pagar pelo serviço.
8 – Tem algum conselho para quem está começando?
Sim: quebre um tijolo no meio do crânio de quem quiser usar o seu trabalho para “divulgar” seu nome. Isso é desrespeito com o profissional. O Facebook está aí para isso.
De vez em quando dou aulas gratuitas de desenho para alguma comunidade carente com o intuito de achar talentos. Uma das coisas que sempre falo é sobre o cara ter identidade. Esse negócio de copiar o traço de alguém não é legal.
Outra coisa fatal é tentar subir pelo puxa-saquismo, lamber as botas de quem está lá em cima… Abomino porque propaga ainda mais a desvalorização de quem leva a sério. Sem falar na soberba ou no abuso do álcool… são letais para o artista.
9 – Lucio Oliveira, quem é você?
Marido da gata Ana Gisele, pai de três filhos, Ane, Maria e Kenai, que gosta de deixar o café da manhã prontinho para os quatro todos os dias na mesa antes de acordarem, depois sento na mesa de desenho, enfio a cara no papel e penso besteira o dia inteiro. Meu dia rendeu se fiz alguém sorrir. 🙂
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Chegamos ao final de mais entrevista, deixo meus agradecimentos ao Lucio pelo tempo disponibilizado e por sua simpatia, desejamos que sua carreira cresça cada vez mais, e que o Edibar continue nos fazendo sorrir durante os bons e maus dias.
Não deixem de seguir as páginas da Edifamília.
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