Filme com 2 horas e 04 minutos de duração.
Diretor: Roger Michell | Romance-Drama-Comédia | Inglaterra (1999)
Sinopse: Will (Hugh Grant), pacato dono de livraria especializada em guias de viagem, recebe a inesperada visita de uma cliente muito especial: a estrela de cinema americana Anna Scott (Julia Roberts). Dois ou três encontros fortuitos mais tarde, Will e Anna iniciam um relacionamento tenro, engraçado e cheio de idas e vindas.
Opinião com Café.
Clayton Alexandre Zocarato.
A comédia romântica “Um Lugar Chamado Notting Hill”, representa uma valorização do “amor cortês”, frente a uma frenética onda de massificação do sentido a construção de relacionamentos humanos frutíferos, e de ética de respeito pelo próximo.
Dentro de seu espaço cinematográfico, uma Londres do fim do século XX é palco do romance entre Hugh Grant (1960), e Julia Roberts (1967), evidenciando os dilemas humanos, esmiuçados entre poder da riqueza, com um nefasto campo de produção cultural atrelada a beleza, sem levar em consideração as premissas de um sentimento verdadeiro, que não esteja na sintonia de modismos comportamentais, em fazer com que os indivíduos venham a seguirem freneticamente, o que a os grandes meios de comunicação impõem como sendo essencial para um compromisso de “felicidade extraordinária”, perante o próximo.
Grant, que ficou famoso com o clássico “Quatro Casamentos e um Funeral “(1994), e que esteve envolvido em um escândalo sexual ao ser flagrado com uma prostituta em 1995 (Divine Brown – 1969), enquanto era noivo da atriz Elizabeth Hurley (1965), contrapõem-se ao seu papel de um simples bibliotecário, William Thacker, contando com uma vida diária sem muitos atrativos, que coincidentemente encontra Julia Roberts, representando aqui uma mega-star da indústria cinematográfica. Anna Scott.
Roberts, consagrada por papeis como o realizado em “Uma Linda Mulher (1990)” ao lado de Richard Gere (1949), “Erin Brockovich: Uma Mulher de Sucesso (2000)” e o aclamado “O Sorriso de Mona Lisa” (2003), uni a inocência feminina em busca de um sentido para sua solidão ao qual a fama constrói ao seu redor, deixando uma visão coisificada de sua personalidade, unido a rigidez de estar envolvida a uma simbologia, de “ideologia pop”, sendo vista unicamente como um objeto de consumo pelo seu público, não contendo um caminho de lucidez, de realizar seus desejos pessoais bem como sanar suas frustrações como qualquer outra pessoa “comum” da sociedade.
Um caminho em se questionar, o fator da imprensa sensacionalista britânica, que persegue as celebridades, e mancham suas vidas com a fabricação de sensacionalismos, e que não diferenciam entre a personalidade pública e a vida privada dos artistas, é um de suas principais, em torno e suas áurea ideológica.
Esse fator pode ser constatado pelos próprios súditos da rainha, com a perseguição feita a “Princesa de Gales”, Diana Frances Spencer (1961 – 1997) , que sofreu com horror da exposição pública sem limites, outorgados pelos meios de comunicação, até mesmo depois de sua morte trágica em Paris, num trágico acidente automobilístico controverso, enquanto era perseguida por “paparazzis”.
A perseguição que os “famosos sofrem” por alguns tabloides inescrupulosos, levou a fatalidades dentro do show business, ao qual, artistas não suportaram o peso da hiper exposição aos holofotes, levando a atos extremos como o caso do suicídio do músico Kurt Cobain (1967 – 1994), líder e fundador da banda Nirvana.
O sociólogo francês Émile Durkheim (1858 – 1917) coloca que “a fama e o sucesso quando não trabalhados de maneira consciente produzem efeitos destrutivos no interior da mente das pessoas levando a uma ritualização de desaforo e repúdio, pela constante exposição, ocasionando no autoextermínio, no traçado de uma plena glorificação para o “ser”, que está tendo sua privacidade ameaçada”.
Apesar de sua classificação hilariante, o expectador é colocado a questões, de como uma pessoa estando presente constantemente a exposição da mídia, está fadada ter sua vida como um modelo de produção personalista em larga escala, a novas figuras de condutas sociais, não tendo privacidade, sendo vítima de uma imprensa, destinada a conter estereótipos de condutas para que possam preencher seu noticiário, e servir de modelo para maioria das pessoas.
Essa questão vêm a compor uma cadência de cultura midiática que não esteja pautada na ética, isso é um dos grandes desafios que estão diretamente, exauridos nos personagens de Roberts e Grant, pois encaram os desnivelamentos sociais, não como um tabu imposto, e sim como um desafio, na aceitação da igualdade de sentimentos e reciprocidade, estando esses fatores realçados na ternura como um caminho para desmitificar a invalidez imposta pela sociedade ao “amor romântico”, dentro de uma modernidade adornada por uma sexualidade desenfreada, levando a questão do “corpo”, como uma mórbida destruição da racionalidade, semeando comportamentos recheados de vilanias no respeito pelo próximo.
A Natureza Humana, doentia por reconhecimento, por um lugar ao sol, se depara com a ingenuidade de William Thacker, e a vida de aparência de Anna Scott, em uma Londres fria, perturbada pelos frutos do barulho que a contemporaneidade coloca, no estabelecimento de uma ordem mental para as pessoas, que possam levar, a compreensão do seu valor como um agente disseminador de boas ações.
Notting Hill é um bairro luxuoso, que contrasta com a simplicidade da periferia, demarcando divisões sociais drásticas, disseminando fortes críticas, a industrialização cultural, dentro de compreensões de como levar novos conceitos do amor conjugal, como forma de respeito e compromisso com a felicidade, se distanciando dos padrões de moralidades e uniões matrimoniais, apenas feitas por compromissos financeiros e para a tradição na manutenção da elegância, do nefasto glamour, da secular aristocracia britânica conserva a gerações.
Alec Baldwin (1958), | irmão mais famoso do quarteto de atores norte-americanos “família Baldwin”, que conta ainda: Stephen (1966), Daniel (1960) e William (1963) |, faz uma pequena participação onde faz o bonachão noivo de Anna, que se preocupa unicamente, em manter estética e a beleza, como um fator de ascensão dentro do famigerado mundo de aparências dos superstars, representando um nefasto existencialismo de aparências, ao qual Thacker reluta em fazer parte.
Annie Lennox (1954) empresta sua voz no clássico “Why” como parte da trilha sonora, deixando uma interrogação do “porque” as pessoas trocam a fama pelo sentimento verdadeiro? Ou o dinheiro e poder pela simplicidade de um “eu te amo”? (por mais raro que isso seja na nossa atualidade!), no usufruto de um materialismo passageiro e mesquinho.
“Um Lugar Chamado Notting Hill”, um festival de questionamentos acerca do pudor humano, e da miragem mórbida que fama e poder trazem, não só de risos vivem as comédias, mas de provocações também, afinal, à vida é uma eterna provocação!
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