Cada dia que passa o HQ’s Entrevista transpõe barreiras. Hoje é dia de inovarmos mais um pouco. Carlos Guerra não é quadrinista ou dublador. Atualmente nem no Brasil reside. E só foi possível conseguir contato com o artista graças ao nosso colaborador Clayton Alexandre Zocarato, que foi até Portugal, onde conseguiu entrevistar o rapper.
Bom, fiquem com a entrevista elaborada pelo nosso professor de história e filosofia…
Uma entrevista bem descontraída, com o jornalista Carlos Guerra Júnior, formado pela Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN), especialista em Marketing Esportivo, mestre em Comunicação e Jornalismo pela Universidade de Coimbra, compositor, rapper e “provavelmente” (risos) futuro doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de Coimbra, acerca de música, política, cultura pop e ativismo.
Autor de mais de 100 letras, entre raps e poesias, tendo o sentimento por um mundo melhor como fonte de inspiração e pano de fundo, para falar de temas como racismo, sexismo, capitalismo e preconceitos sociais. Considera a sua poesia sobre a loucura (Lololololoucara) mais profunda do que todo trabalho acadêmico que já produziu. É torcedor fanático do “Leão do Oeste”, o Baraúnas, time de futebol da cidade de Mossoró, que disputa a primeira divisão do Campeonato Estadual Potiguar e já cantou em palcos de pessoas como Luaty Beirão (Ikonoklasta) e o sociólogo Boaventura de Sousa Santos. Mossoró, como é conhecido no meio artístico, recebeu o “HQ’s com Café” nas dependências de seu apartamento em Coimbra (Portugal), para um bate papo intelectual e filosófico. Confiram a seguir as polêmicas posições do ilustre comunicador.
1 – Porque o Rap, Funk, Soul, Black, entre outros ritmos advindos das classes menos favorecidas, são tão marginalizados em nossa atualidade, por boa parcela da sociedade?
Mossoró. Qualquer ação cultural que parta do povo gera uma “certa marginalidade, se tornando um produto marginal, mas é ao mesmo tempo uma forma de conhecimento do povo pelo povo”. Digo marginal no sentido de estar a margem da sociedade, não está no centro. Já nasceu no outro lado da linha abissal. Isso é, nas zonas periféricas onde o centro não conhece. E também está o fato desses estilos musicais, usarem uma linguagem simples (pop), que está inserida no cotidiano da maioria das pessoas. Os rappers são produtores de conhecimento e levam um saber que poderia ser encaixado em um modelo formal, em uma tese, por exemplo, totalmente para a informalidade, sem o uso de grandes teorias e metodologias. Esse é um dos principais atributos do Rap.
No Rap, não há cover, não há interpretação do outro, é o povo falando de forma simples e natural, criando formas de resistência. Cada um criar sua própria forma de comunicar em seu mundo. No Rap, um dos fundamentos é a rima. Mas eu até brinco que o Rap é tão grande que cabe também quem não sabe rimar. Só precisa ter coragem de falar o que sente e lhe incomoda.
Não há maior forma de resistência em se fazer ouvir através da música que retrate a vida daqueles, que são banidos de alguns convívios sociais e condições dignas de vida, aos quais suas reivindicações não teriam espaço pelos meios de comunicação tradicionais.
Os rappers são mensageiros do povo, usando o lúdico de uma maneira poética, estornando a indignação perante a maldade humana.
2 – Qual a influência da dança em nosso atual momento histórico?
Mossoró. A dança assim como o Rap, é um braço do movimento Hip Hop.
Elas contem quatro vertentes, (Break Dance, Grafite, M.C e D.J), e a dança é um deles, o Break Dance.
A arte não nasce para ser interpretada, e sim para uma libertação da mente e do corpo, porém, quando se cria códigos, tem-se um limite e uma forma definida. A música tem um código linguístico específico e muitas vezes as palavras precisam dessa adaptação e acabam se limitando. Até brinco que rimo para que as pessoas prestem atenção, mas o que eu poderia falar sem rimar, seria bem mais profundo.
A dança é o enlouquecimento total, por isso existe uma tese, “Quilombo em Festa”, que demonstra que a atividade de dançar, integração social e uma outra forma de resistência.
A dança é libertação, onde não precisa de uma interpretação definida. Ela é “vida”, no sentido mais profundo, uma forma de viver, que vai acima do pensar. É também uma forma de conseguir ter alguma alegria em um mundo movido pelo caos.
3 – O Rap tem mercado e espaço para um maior crescimento cultural e comercial no Brasil?
Mossoró. Na minha dissertação de mestrado (Hip hop como identidade cultural negra e periférica: A aversão de rappers brasileiros à Rede Globo), tratei de uma divisão binária entre o “Rap Underground” e o “Rap Mainstream”. Como a gente está em constante mutação e evolução, eu já nem concordo com tudo que está escrito lá.
Já não vejo uma divisão tão binária. Há muito mais do que dois lados. Mas continuo dizendo que o rapper, digo, o músico, quando se preocupa em explorar seu mundo e busca representar o seu real significado, ele já não tem uma preocupação de ter um espaço cultural e um mercado definido. Porque na preocupação do “ter” ocorre uma exploração do “ser” (é comercial, e tem que vender a todo custo, independente de ser de coração).
Se as pessoas quiserem ouvir é ótimo, o Rap que nasce voltado exclusivamente ao mercado está fadado ao fracasso.
O público não tem que ser atingido inteiramente, e sim o importante é transmitir sua interpretação do que está ouvindo, não faço questão nenhuma de está no “centro”, e sim proponho a trabalhar com os excluídos socialmente e politicamente.
Fazer Rap para mendigos, dementes e pessoas simples, essa é minha forma de levar uma arte que seja ao mesmo comercial, mas que contenham um significado de contestação.
4 – Haveria uma noção clara, de relação da cultura pop com o Rap?
Mossoró. Você me fez uma pergunta, mas na verdade são duas.
O Rap muitas vezes tem se preocupado em ter uma mensagem de como ele próprio se desvirtua em sua essência. Digo isso, me referindo há alguns músicos que tocam o dedo na ferida e dizem “você não está sendo rapper nessa música”. É quando alguém se preocupa mais no objetivo do que na própria essência da mensagem.
Em segundos quando suas mensagens atingem seu público, isso nada tem de pop. É na verdade um irmão falando a real com outro. Então, o rap quando se preocupa em ser rap, ele consegue ser mais complexo do que uma tese de doutorado. Em poucos minutos, as vezes ele consegue mais do que um discurso acadêmico não pode fazer.
Quanto à mensagem musical você consegue ativar sentidos mais precisos, e ter um nível de atenção muito maior. Não precisa ser exatamente um “erudito” ao pé da letra, para entender seu significado.
Exemplo: Quando eu escuto “Cartas aos meus iguais de alma”, de Sant, um garoto novo, tenho vários sentidos aguçados, chegando a um grau de atenção extrema, onde só desejo ter concentração em suas mensagens sonoras, que me ensinam muito mais que livros.
Quem me formou politicamente foi o Rap. Quando eu era adolescente, ninguém entendia porque eu gostava tanto de falar de política. Isso tudo se deve aos fones de ouvido que estavam tocando GOG e SNJ, por exemplo.
Eu falo muito, pra cara…. (risos), mas quando estou sintonizando em um Rap, ele me envolve por completo e só escuto. As vezes até brinco que sou mais viciado naquilo, do que um viciado seria em drogas. O Rap é popular por falar das alegrias e traumas diários das pessoas simples e de forma direta.
5 – Na sua opinião, como o Rap pode contribuir para a formação cultural das pessoas?
Mossoró. O Rap como formador cultural é gigantesco, porém a Academia (Universidade) ostenta uma imagem como sendo detentora única do saber, e hoje me encaminho para uma tese de doutorado, mais por causa do Rap, do que pelo saber acadêmico formal.
Eu penso que o Rap tem uma aplicabilidade cultural prática maior do que a Academia.
No “meu mundo”, que é o que conheço, porque cada pessoa constrói o seu mundo, há um grande exemplo de professores e pesquisadores dialogando para diferentes grupos de pessoas, não inteiramente ligados a universidade. Sua linguagem é simples, muitos grandes rappers unem o mundo acadêmico com a cultura musical de periferia.
Exemplo: Luaty Beirão, (ativista civil angolano e rapper, tem duas formações, uma na França e outra Inglaterra), Chullage (rapper português) formado em Sociologia, e o próprio Valete (também lusitano) também é sociólogo, MCK (rapper angolano) formou-se em direito e filosofia, Azagaia (rapper moçambicano) é da comunicação. Mas também há o contrário, como o Marechal que é carioca, e estudou até o sexto ano do Ensino Fundamental, que ficou desacreditado no papel da escola no modelo atual e da faculdade como sendo detentoras universais do conhecimento. Para quem acha que só a Universidade pode ensinar, eu lembro apenas que o Rapper Kbide me contou que Marechal deu palestras na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e ficou todo mundo de queixo caído. E repito: ele só tem sexta série!
6 – O Rap pode ser visto como um símbolo de rebeldia contra a atual rotulação de valores, da cultura mundial?
Mossoró. Sim e bastante! Porque Rap, é indignação e não adaptação nesse mundo. Ao questioná-lo, você não está se adaptando as suas vontades, ele faz justamente o contrário.
O Rap não nasce com o objetivo de rebeldia por rebeldia, porém, por falar a realidade, ele é uma reclamação do que está sendo colocado e está acontecendo aqui (Mundo). Eu não concordo, mas muitas vezes ele é visto como forma de rebeldia de dentro para fora, pois a sinceridade nesse mundo é exceção, usamos máscaras, enfim, temos feridas que não se cicatrizam fácil, e para o caso do Rap, quando ele coloca “seus dedos”, elas inflamam, mexe com os intelectuais, com a elite, pois ele vem de forma contestadora muito forte.
O Rap é rebeldia, porque ser sincero nesse nosso mundo é uma exceção à regra, ou seja, “chamar os bois pelo nome”, como diria Luaty Beirão.
7 – O Rap e a academia, podem juntos, construírem novos caminhos para uma educação mais ética, valorizando o próximo? O que pensa a respeito disso?
Mossoró. Acredito eu que sim, mas quem precisa desconstruir essa barreira é primeiramente a universidade.
Na tradicional Universidade de Coimbra, quem estuda nela, esta acima do povo, dentro de princípios salazaristas (denominação ligada aos ideais fascistas do ditador António Salazar que governou Portugal com mãos de ferro entre 1932 e 1968, que tinha afeição à Adolf Hitler), é fundamental acabar com isso. Uma vez que a Universidade tem a chamada escadas monumentais, que são enormes, para subir nela só quem está acima do povo.
Boaventura de Sousa Santos (eminente intelectual português, e professor da respectiva universidade) , “fez um evento onde a arte e academia possuem o mesmo valor” (O mundo, a rua, e o palco: para uma ecologia dos saberes culturais artísticos realizado em 2016 ).
Não é um maior do que o outro. Mas sim, os dois se ensinarem mutuamente. É conter saberes horizontais, envolvendo teatro, a conversa do dia a dia, usando o indivíduo de maneira critica e ética.
Os rappers valorizam a academia, mas querem que a academia os valorize também.
Gog (rapper brasiliense), ser reconhecido pela academia, o fez ter outra motivação, (estudei ele na minha dissertação de mestrado), só que eu aprendi mais com a música dele do que com os livros.
Quando a academia destruir suas próprias barreiras, o ativismo que é debatido de forma teórica, vai se tornar prático. Não adianta hoje ter eventos de ativistas e não haver ativismo claro contra as injustiças sociais.
Muitas vezes o rapper é o porta-voz, só que até me sinto mal com isso. A partir do momento que falo por outras pessoas, estou sentenciando elas. Há uma grande massificação nisso, mas se deve é criar métodos para que essas próprias pessoas possam ter seus anseios ouvidos.
A academia precisa quebrar seu próprio “ego”, construída por si mesmo.
8 – O que o Rap trouxe de benefícios para sua vida?
Mossoró. A minha formação pessoal tem muito haver com o futebol, sempre estudei e procurei informações sobre isso. Até os 13 anos eu não gostava de nada que não fosse futebol. Quando estava voltando da escola, achava um saco porque minha mãe gostava de parar na loja de CDs. Mas parei certo dia e fiquei observando, mas não tinha nenhuma paixão pela música. Até que vi um título do Planet Hemp, descrito em sua capa “Proibido para menores de 18 anos”, e isso me chamou atenção. Olhei de um lado e do outro, para ver se ninguém estava me olhando, e ouvi. Você sabe que tudo que é proibido ativa nosso lado da curiosidade. E foi exatamente isso que aconteceu. Ouvi ele e conheci o Rap, e culminou por ativar outro lado de minha formação psicológica: a crítica. Isso me fez ir além do futebol, e comecei a baixar outros “rappers” (Gog, Ndee Naldinho, S.N.J), e começaram a mudar meu modo de ver as coisas.
Deixava a internet (discada, rs) fazendo downloads, e baixava livros e outros “sons”, ligados ao Rap, e assim fui formando parte de minha bagagem intelectual. Fui “querer saber a fonte de inspiração do “Rap”, e ai conheci a obra de história e filosofia política “O Manifesto do Partido Comunista”, de Karl Marx.
Porém, não é com todo mundo que se fala e argumenta a respeito disso, e em Mossoró é raro alguém gostar, então eu era algo solidário com as pessoas e não falava sobre (risos). Só quando cheguei a Portugal, (2012), conheci outras pessoas que apreciavam e sabiam o que significava o Rap, e assim aprofundei meus conhecimentos dentro da Universidade.
9 – O Brasil possui vários estilos musicais, porque o Rap não está sendo tão divulgado pelos grandes meios de comunicação?
Mossoró. O Rap não busca a grande mídia, ele não tem necessidade de se promover, uma vez que já é a genealogia rebelde.
Por isso minha dissertação de mestrado traz a pergunta “porque algum rapper tem aversão a Rede Globo”? Quem busca status, presta um desserviço ao Rap. Quando o Rap busca apenas ser massificado, ele perde sua essência. O Rap é o povo tendo voz ativa, para seu próprio semelhante. Nunca há no Rap, o “eu sou bom”, assim só vai adquirindo repulsa pelo outro.
A maioria dos rappers tem candura pelo seu público e o respeita, quem pretende ser estrela, se afasta do objetivo central do Rap.
10 – Qual seria a função da música, no nosso atual momento histórico, no sentido de contestação cultural, moral e social?
Mossoró. Eu faço um trabalho da música de revindicação democrática em Angola. Essa pergunta é muito ampla, mas respondo de uma maneira simples: a música atua no sentido, que o discurso direto não atua. A música detém muitas percepções, que nosso coração entende, mas muitas vezes a mente não. A razão pura é uma grande mentira, não somos somente racionais, a música atinge objetivos que outra forma de saber não consegue.
11 – O Rap possui alguma filosofia definida, ou o Rap pode ser considerado um tipo de filosofia?
Mossoró. O Rap é sua própria filosofia, é problematizar o saber popular, é quebrar barreiras, que muitas pessoas não entendem.
Por sua simplicidade, ele é banalizado muitas vezes, porém é complexo ao mesmo tempo, pois fala em uma linguagem tão franca, fazendo a maioria das pessoas entenderem. Rege o pensamento simples (popular) desprezado dentro da maioria dos sistemas sociais, e o coloca no centro de ação e interpretação. Ele pega, por exemplo, o “Seu Zé ou Dona Maria”, e o faz ter um papel de destaque na sociedade, o que dentro da academia necessitaria de titulações para conter reconhecimento.
O Rap é uma filosofia para se fazerem, serem ouvidos, aqueles que nunca teriam atenção na atualidade pela grande mídia, ou pela própria sociedade civil.
12 – O Rap muitas vezes é ligado a violência? Porque isso acontece?
Mossoró. Tem uma música do Facção Central, que foi proibida, e censurada chamada “Isso Aqui é uma Guerra”, pois retrata a violência urbana, e a criminalidade nua e crua. Achar que isso é incentivo a violência é um enorme equivoco.
Não era nada disso, é uma critica as pessoas que cometem delitos, por causa do meio social ao qual vivem.
O Facção descaracteriza a imagem tradicional do crime, e mostra como isso é gerado, de uma forma que a sociedade conservadora não quer enxergar suas consequências. Ele coloca uma imagem humana do crime, e os motivos do porque o crime existe, ou seja, possibilita dar voz aos marginalizados.
Tem sim músicos que incentivam a violência, mas esses não rappers. São os caras que promovem a ostentação, porque eles mostram coisas que não pertencem ao nosso universo e ativa a mente do menor para querer aquilo e acabam fazendo delitos, porque ter aquilo é o significado maior. Isso é um desserviço a humanidade.
Para melhor compreender isso, escutem uma canção do Edu Krieger, “Funk Ostentação”, que fala do apego ao dinheiro, e a criminalidade, e ele não condena o funk, pois faz contra isso outra canção o “Funk Bossa Nova”, que mostra o valor do funk e até seria uma resposta ao Funk Ostentação.
Krieger diz: “Você ostenta o que não tem, para tentar parecer ser mais feliz, mas não sabe que para ser alguém, tem que agir ao contrário do que você diz”.
O significado disso: “que a ostentação”, pensa que faz do materialismo uma forma de libertação, mas tem que fazer o contrário, um funk ou um rap tem que fazer com que sua mensagem atinja a todos e mexa no mundo delas para querem mudar, e não colocar “méritos” como forma de libertação.
Tem uma frase de minha autoria que diz: “Meu Rap anda ao contrário, em um mundo cada vez mais reacionário”, tipo que entre “ostentar e ser reacionário” devemos buscar, uma construção social, onde todos tenham oportunidades iguais não só pelo valor e glorificação artística, e sim levar uma mensagem de paz, para as pessoas, onde cada um tenha seu próprio valor.
Tipo: “ficar ostentando para ser melhor e ter poder, onde o objetivo seria formar uma contracultura, diante de uma realidade que temos um Trump, José Eduardo dos Santos e um Temer realmente no poder, isso não pode acontecer”.
Procuro fazer um movimento contrário, diante dessas correntes autoritárias de política e formação de opinião, levando o Rap, e até mesmo um funk, como uma maneira de integração cultural e moral, mas com um objetivo de unir polivalentes polos intelectuais.
13 – Como você enxerga o futuro do Rap?
Mossoró. Francamente, não sei!
Penso que o Rap seja tão presente em seu nível de sinceridade, que é difícil descrever como será o seu futuro. O Rap é ativo, contestador. Eu sonhava em escrever algo muito profundo como um livro. Mas talvez essa entrevista já tenha sido mais profunda do que o livro que planejei (risos).
O rapper Marechal passou quatro anos sem lançar nada, trabalhando em sua canção “Primeiro de Abril”, Luaty é o ikonoklasta e se coloca como “Kamikaze”. Tipo: “o que vou falar agora é um suicídio”, porque fala de forma aberta sobre a opressão angolana. O Rap não tem preocupação com seu futuro, e sim com o presente. A coisa mais importante no mundo para mim é falar o que penso. Luaty concorda com isso, porque escreveu na cadeia, onde só foi parar porque falava o que pensava: “Sou eu mais livre então, na solidão do meu degredo/ Do que tu vives na escravidão, do medo!”
A preocupação do futuro é mínima, conheci “você”, dei a entrevista nesse momento, esquecemos o futuro, e vivemos agora. Não é fácil ter uma ideia sobre o futuro do Rap. Talvez ela só se acabe, quando o mundo acabar, mas talvez o mundo acabe amanhã ou no amanhã.
14 – O que você pensa que o Rap possa fazer de concreto pelas classes sociais menos favorecidas?
Mossoró. Fazer com que elas sejam ouvidas, colocando-a no centro de discussões sociais, construindo um Rap “revolucionário” de atitudes e valores, para formação crítica.
Os verdadeiros teóricos são quem vive a pobreza e opressão todo o santo dia, para o Rapper cumprir sua missão em sua totalidade, ele se desconstrói como dono da palavra, para que realmente possa existir uma valorização dos excluídos. O Rap fala de amor, compaixão, a volta do “Griot”, (não vou explicar isso, quem quiser que procure.), (risos).
15 – Para encerrar, o Rap tem qual significado para você, dentro de sua jornada de vida acadêmica e social?
Mossoró. Social! É fazer com que eu conheça o mundo das pessoas que não seriam ouvidas.
Acadêmico! É mostrar que a universidade não é a única forma de conhecimento, e minha tese de doutorado inspira a mostrar o que é o Rap, minhas canções são uma ponta desse iceberg, a tese também uma parte, essa entrevista outra parte, “o Rap é muito mais amplo do que tudo que falei, e que poderei vim a falar”.
O HQ’s com Café deixa os agradecimentos ao Mossoró, pela simpatia e tempo concedido para entrevista. E lógico que não poderíamos deixar de destacar o professor Clayton, que foi o grande intermediador para que isso acontecesse. Muito obrigado.
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